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DIPLOMACIA
Porta-voz americano indaga se identificação de turista é castigo ou reciprocidade; Procuradoria do Rio recorre de medida
EUA criticam demora e cobram explicação
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
O governo dos EUA queixou-se
ontem da lentidão das novas medidas adotadas no Brasil para o
controle e identificação dos turistas norte-americanos que entram
no país e pediu mudanças. Disse
não entender se as novas regras
são resultado de uma política de
"reciprocidade" ou um "castigo".
Ao menos 300 turistas americanos enfrentaram anteontem uma
espera de até sete horas até começarem a ser fichados no Rio.
"Dissemos aos brasileiros que
essas medidas representam uma
terrível inconveniência para os
passageiros e que precisam, sim,
ser mudadas", disse à imprensa
Richard Boucher, porta-voz do
Departamento de Estado. "Desejaria que eles descrevessem por
qual motivo estão fazendo isso, se
é por castigo ou reciprocidade ou
outro motivo", disse Boucher.
A decisão de identificar os americanos foi tomada pela Justiça federal de Mato Grosso como uma
reação à nova política do governo
americano de recolher impressões digitais e fotos de visitantes.
Somente cidadãos de uma lista de
28 países -na maioria europeus- são poupados das novas
medidas porque não precisam de
visto de turista para estadas inferiores a 90 dias nos EUA.
O governo dos EUA afirma que
a medida tomada pelo Brasil afeta
as viagens entre os dois países.
"Achamos, pelo visto, que foi um
programa aplicado com pressa,
que não foi bem preparado", afirmou o porta-voz Boucher.
Governo vai recorrer
O governo federal decidiu recorrer da decisão judicial que determina a identificação obrigatória do americanos. Ainda não foi
decidido, porém, se o procedimento vai ser suspenso ou não.
O governo entende que não cabe ao Judiciário interferir na política externa. Além disso, a Folha
apurou que há preocupação de
que essa sentença abra precedente para intromissões da Justiça em
questões diplomáticas.
O juiz federal do Mato Grosso
Julier Sebastião da Silva determinou no dia 30 de dezembro o fichamento dos americanos com
base no princípio da reciprocidade. É posição unânime entre os
ministérios envolvidos na questão -Justiça, Relações Exteriores
e Turismo- e a Advocacia Geral
da União que não caberia à Justiça
interpretar o princípio da reciprocidade, mas ao Itamaraty.
Até ontem, o governo havia
diagnosticado dois aspectos positivos na medida: a maior parte da
população teria aprovado a idéia e
o ato serviu como mais uma forma de demonstrar a insatisfação
com os procedimentos de imigração adotados pelos EUA.
Segundo apurou a Folha, o governo acredita que a maioria da
população considerou a medida
uma demonstração de coragem
do Brasil. Também pesa na avaliação a diretriz de maior independência que vem se aprofundando
na gestão de Lula.
Os dois "prós" engessam a ação
do governo, que temia, até ontem,
a repercussão que o recurso poderia gerar na opinião pública. Uma
das hipóteses em estudo é suspender o fichamento por um período
até que a Polícia Federal tenha
tecnologia para agilizar o procedimento. Outra possibilidade é exigir a identificação obrigatória em
conjunto com mudanças a serem
implantadas na mudança do sistema de passaporte brasileiro.
O Ministério do Turismo pediu
urgência na questão. Equipes do
Itamaraty e do Ministério da Justiça avaliam que a medida é inócua para o combate ao terrorismo
e não serve para pressionar a retirada do Brasil da lista de países
submetidos ao ritual.
Rio já recorreu
A Procuradoria Geral da Prefeitura do Rio entrou ontem com
uma ação civil pública na Justiça
Federal para tentar conseguir
uma liminar suspendendo o fichamento. O argumento é o de reciprocidade diplomática. A procuradoria alega que, "nos EUA, os
brasileiros estão sendo identificados em segundos, enquanto aqui
o processo leva horas".
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