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Escola não motiva e perde alunos
40% dos adolescentes que deixaram de estudar apontaram a falta de vontade para assistir às aulas
Na faixa de 15 a 17 anos, gestação também aumenta percentual de abandono do colégio, diz estudo baseado na Pnad, pesquisa do IBGE
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Deu preguiça de andar até a
escola." Essa é a primeira razão
citada por Aline (nome fictício)
para explicar por que parou de
estudar aos 15 anos. Aparentemente, a resposta indica que foi
a larga distância ou a falta de
transporte público entre sua
casa, no complexo da Maré (zona norte do Rio), e o antigo colégio que a fez desistir.
Com um pouco mais de conversa, porém, ela explica que a
preguiça não era causada pelos
20 minutos de caminhada. O
problema era outro: "Os professores eram muito chatos.
Não sabiam explicar nada e repetiam todo mundo. É por isso
que só tinha marmanjo na 6ª
série [do ensino fundamental]". Com tanto desestímulo
para aprender, ela parou e, logo
depois, engravidou. Hoje, com
16 anos, é mãe de uma menina
de cinco meses.
Esse breve relato da história
de Aline ajuda a sintetizar em
um único exemplo as principais razões que levaram 1,7 milhão de jovens entre 15 e 17
anos (16% do total) a não estudar em 2005. Para saber quem
são eles, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais) elaborou um estudo com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE em que três conclusões se sobressaem:
1) três em cada quatro desses
jovens (75%) não completaram
o ensino fundamental, mas a
maioria (68%) ao menos chegou até a 5ª série;
2) ter tido filho diminui a
probabilidade de a jovem estudar. Entre as que freqüentam a
escola, apenas 1,6% é mãe, percentual que sobe para 28,8%
entre as que estão fora;
3) mais do que a falta de vagas, de transporte ou mesmo a
necessidade de trabalhar, é a
falta de vontade de estudar que
os empurra para fora do sistema de ensino. Essa razão foi
identificada em 40,4% dos casos entre os que não estão em
sala de aula. A necessidade de
trabalhar vem depois (17,1%).
A primeira observação indica
que o problema da evasão está
concentrado entre a 5ª e a 8ª
série do ensino fundamental. A
segunda mostra que a fecundidade precoce tem impacto significativo na desistência de
muitas meninas. Já a terceira
sugere que, se a escola não for
atraente e fizer algum sentido
ao jovem, ele vai abandoná-la
mesmo que suas chances no
mercado de trabalho sejam nulas ou pouco convidativas.
Prova disso é que, desse 1,7
milhão de jovens fora da escola,
43,4%, ou 740 mil, não trabalham nem sequer estão procurando emprego. Mesmo quando conseguem achar um trabalho (caso de 44% dos que não
estudam mais), no entanto, trata-se de emprego precário, já
que apenas 8% do total de jovens fora da escola trabalhando
tem carteira assinada.
O presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, aponta a repetência como fator de desinteresse dos jovens pela escola.
Com baixo desempenho, o aluno deixa de ir à aula, e os pais já
não têm tanta influência para
mantê-los estudando como tinham nas séries iniciais.
Para a professora de pós-graduação em educação da UnB
(Universidade de Brasília) Benigna Villas Boas, as escolas
precisam encontrar uma forma
de avaliar o aprendizado e oferecer mecanismos de recuperação ao longo do ano.
Já Rubem Alves, educador e
colunista da Folha, diz que o
próprio sistema em que as escolas funcionam é pouco atrativo. Usa como exemplo o fato
de as disciplinas serem ministradas separadamente. "Quem
foi que disse que a cabeça da
criança funciona como aparelho de TV em que você pode tocar uma campainha e mudar de
português para matemática?"
Na avaliação de Eliane Andrade, professora do departamento de educação da Uerj
(Universidade Estadual do Rio
de Janeiro) e da UniRio, não há
motivo único que leve o jovem
a abandonar. Para ela, a necessidade de trabalhar não pode
ser desprezada, mas o problema principal está na escola.
"A escola não está pensando
nesse menino que quer trabalhar. Dar recursos a ele é um
passo importante, mas não é a
solução. Não dá para ficar botando mil penduricalhos sem
meter a mão na escola. Se formos acompanhar esse jovem,
veremos que ele até tenta voltar várias vezes. Ele está sendo
generoso com a escola, mas a
escola não está sendo generosa
com ele", diz Andrade.
Esse caminho de ida e volta
foi feito três vezes por Mara
Mônica da Silva, 18, aluna do
programa ProJovem no município do Rio. "Eu até era boa
aluna, mas quando chegava outubro desistia de estudar porque precisava trabalhar", diz.
Seu colega no programa,
João Batista Cavalcante, 24,
também está tentando voltar a
estudar após abandonar a escola aos 15 anos, ainda na 6ª série:
"Eu ficava sem ânimo. Acho
que era rebeldia. Hoje me arrependo de ter parado".
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