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Diretora que deixou joalheria clonar coroa é demitida de museu
Maria de Lourdes Horta permitiu, em 2004, que a joalheria Amsterdam Sauer fizesse réplicas da coroa imperial e de alianças
Iphan a demitiu por danos ao patrimônio, mas não diz se caso das joias teve ligação; ela diz que já havia deixado cargo e nega as acusações
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) anunciou a "destituição
do cargo" da diretora do Museu
Imperial de Petrópolis envolvida em polêmica ao permitir que
a joalheria Amsterdam Sauer
fizesse, em 2004, réplicas da
coroa imperial e de alianças de
dom Pedro 1º e dona Amélia.
Maria de Lourdes Parreiras
Horta, 65, foi acusada de "improbidade administrativa" e
"lesão aos cofres públicos", segundo decisão publicada no
"Diário Oficial da União" pelo
Iphan. Procurado, o instituto
não quis especificar quais são
as infrações e se elas incluem a
controvérsia das réplicas.
Segundo Horta, as acusações
dizem respeito à aplicação de
verbas da ONG Sociedade de
Amigos, que arrecada dinheiro
para o museu com eventos e
outras ações. "É um dinheiro
privado [obtido pela ONG],
com finalidade pública. Não
existe esquema de desvio", diz
ela, afirmando, sem citar nomes, que é vítima de perseguição por "contrariar interesses"
de superiores.
"Minha defesa no procedimento administrativo foi cerceada. Não chamaram as testemunhas que eu pedi para ouvir", queixa-se ela.
Horta, que se aposentou em
1996 e continuava trabalhando,
já estava afastada do museu havia um ano, quando pediu para
deixar o cargo. "Me destituíram
agora só como desaforo, porque
eu nem estava mais lá."
Coroa e alianças
A ex-diretora se prepara
também para se defender de
uma ação do Ministério Público Federal de Petrópolis sobre
o caso das joias imperiais -o
órgão não se pronunciou ontem, por estar em recesso.
Ela é questionada por ter
permitido, sem abrir concorrência, que a joalheria Amsterdam Sauer tivesse acesso privilegiado às peças, para tirar moldes e fotografias e comercializar réplicas das alianças de
dom Pedro 1º e dona Amélia.
Em troca, diz Horta, a joalheira
presenteou a Sociedade de
Amigos com "três ou quatro
alianças".
O principal ponto da polêmica é a permissão de que a joalheria fizesse uma réplica da
coroa de dom Pedro 2º - a original foi confeccionada especialmente para a coroação do
imperador, aos 15 anos.
Pela parceria, a joalheria fica
com a réplica a maior parte do
ano (atualmente, está exposta
no museu da grife, em Ipanema) e o Museu Imperial tem o
direito de ficar três meses por
ano com a peça, para enviá-la a
exposições sem ter que deslocar a original.
Na época, o Iphan criticou o
acordo, feito sem autorização
do órgão, questionando o benefício para a joalheria -que
sempre refutou as acusações de
privilégio e, procurada ontem,
não encaminhou uma resposta
oficial. Horta diz: "Procurei outras joalherias, mas só a Amsterdam quis fazer a réplica. Se,
com isso, eles tiveram seu trabalho reconhecido, valorizado,
acho ótimo."
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