São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

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Diretora que deixou joalheria clonar coroa é demitida de museu

Maria de Lourdes Horta permitiu, em 2004, que a joalheria Amsterdam Sauer fizesse réplicas da coroa imperial e de alianças

Iphan a demitiu por danos ao patrimônio, mas não diz se caso das joias teve ligação; ela diz que já havia deixado cargo e nega as acusações

DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) anunciou a "destituição do cargo" da diretora do Museu Imperial de Petrópolis envolvida em polêmica ao permitir que a joalheria Amsterdam Sauer fizesse, em 2004, réplicas da coroa imperial e de alianças de dom Pedro 1º e dona Amélia.
Maria de Lourdes Parreiras Horta, 65, foi acusada de "improbidade administrativa" e "lesão aos cofres públicos", segundo decisão publicada no "Diário Oficial da União" pelo Iphan. Procurado, o instituto não quis especificar quais são as infrações e se elas incluem a controvérsia das réplicas.
Segundo Horta, as acusações dizem respeito à aplicação de verbas da ONG Sociedade de Amigos, que arrecada dinheiro para o museu com eventos e outras ações. "É um dinheiro privado [obtido pela ONG], com finalidade pública. Não existe esquema de desvio", diz ela, afirmando, sem citar nomes, que é vítima de perseguição por "contrariar interesses" de superiores.
"Minha defesa no procedimento administrativo foi cerceada. Não chamaram as testemunhas que eu pedi para ouvir", queixa-se ela.
Horta, que se aposentou em 1996 e continuava trabalhando, já estava afastada do museu havia um ano, quando pediu para deixar o cargo. "Me destituíram agora só como desaforo, porque eu nem estava mais lá."

Coroa e alianças
A ex-diretora se prepara também para se defender de uma ação do Ministério Público Federal de Petrópolis sobre o caso das joias imperiais -o órgão não se pronunciou ontem, por estar em recesso.
Ela é questionada por ter permitido, sem abrir concorrência, que a joalheria Amsterdam Sauer tivesse acesso privilegiado às peças, para tirar moldes e fotografias e comercializar réplicas das alianças de dom Pedro 1º e dona Amélia. Em troca, diz Horta, a joalheira presenteou a Sociedade de Amigos com "três ou quatro alianças".
O principal ponto da polêmica é a permissão de que a joalheria fizesse uma réplica da coroa de dom Pedro 2º - a original foi confeccionada especialmente para a coroação do imperador, aos 15 anos.
Pela parceria, a joalheria fica com a réplica a maior parte do ano (atualmente, está exposta no museu da grife, em Ipanema) e o Museu Imperial tem o direito de ficar três meses por ano com a peça, para enviá-la a exposições sem ter que deslocar a original.
Na época, o Iphan criticou o acordo, feito sem autorização do órgão, questionando o benefício para a joalheria -que sempre refutou as acusações de privilégio e, procurada ontem, não encaminhou uma resposta oficial. Horta diz: "Procurei outras joalherias, mas só a Amsterdam quis fazer a réplica. Se, com isso, eles tiveram seu trabalho reconhecido, valorizado, acho ótimo."


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