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Grupo tenta mudar
lei e evitar comércio
AURELIANO BIANCARELLI
e LUCIA MARTINS
da Reportagem Local
A nova lei de transplantes pode facilitar o comércio de órgãos e,
mesmo assim, reduzir as chances
de doações de rins entre não-parentes. A opinião é dada por médicos especializados e pela direção
da ABTO (Associação Brasileira de
Transplantes de Órgãos).
Na antiga lei, a doação de órgãos
feita por doadores vivos não-parentes era possível com uma autorização judicial. A atual lei derrubou essa exigência, mas determinou que o doador tenha quatro antígenos (substâncias que causam a
formação de anticorpos) compatíveis com o receptor.
"A antiga lei era melhor. Essa
mudança não evita o risco de comércio e ainda atrapalha as doações de não-parentes", diz o presidente da ABTO, Valter Garcia.
"Isso derruba qualquer possibilidade de doação entre não-parentes, pois essa compatibilidade só
ocorre em um em cada grupo de 10
mil doadores", diz Luiz Estevam
Ianhez, chefe da unidade de transplante de rim do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Por causa disso, a ABTO pretende se reunir hoje com representantes do Ministério da Saúde para
apresentar sugestões de alterações
da lei. Entre elas, a volta da exigência de autorização judicial para
transplante entre pessoas vivas
não-parentes.
Para evitar "o pior risco", que é
o comércio de rins, os centros de
transplantes do Rio Grande do Sul
estão evitando fazer transplantes
de rins entre pessoas vivas não-parentes, diz Garcia.
Mas, para Ianhez, esse tipo de
restrição é um retrocesso. "Enquanto no Primeiro Mundo estimula-se a doação entre não-parentes, a atual lei vem restringir essa possibilidade."
Segundo Ianhez, a opção por
doadores parentes, no caso do
rim, é uma exigência legal e não
médica. Um paciente que recebe
um rim de um não-parente tem
apenas 5% mais de riscos de rejeição do que aquele que recebe de
um parente. No caso de rim de cadáver, esse risco chegaria a 10%.
"Eu defendo doações entre parentes e não-parentes", diz. "É
uma fonte que pode significar
mais 10% das doações. Só temos
que impedir o comércio de órgãos,
o que a lei anterior garantia ao exigir uma autorização judicial."
Ianhez diz que, um mês depois
de sancionada a lei, em agosto passado, ele obteve autorização judicial para um paciente que estava
sendo preparado para receber o
rim de uma amiga. "O paciente já
corria risco de vida, e o juiz entendeu que a amiga poderia doar."
Ianhez diz que o doador vivo não
corre riscos com a retirada de um
dos seus rins. "Em 25 anos, nunca
perdemos um doador em decorrência da cirurgia." Nesse tempo
todo, Ianhez diz que sua equipe já
realizou 2.500 transplantes de rins
no HC e no Hospital Osvaldo Cruz.
"Retirar um rim não prejudica
ninguém", diz. "Do ponto de vista
médico, o doador precisa apenas
ter mais de 25 anos e menos de 65,
e estar em boa saúde." A retirada
do rim exige quatro dias de hospitalização e em três semanas o doador pode voltar ao trabalho.
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