São Paulo, quarta, 7 de janeiro de 1998.



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Luz foi preso com golpe de judô aos 24

RENATO KRAUSZ
da Reportagem Local

João Acácio Pereira da Costa foi preso aos 24 anos de idade na noite de 7 de agosto de 1967, na casa de um amigo, em Curitiba. Quem o agarrou foi o agente policial Fioravante dos Santos, que passou quatro horas escondido atrás da porta esperando o bandido chegar.
Fioravante estava desarmado -ele havia entregue sua arma ao delegado Moutir Amaral, que, junto com outros três policiais, ficou na cozinha para dar cobertura. Quando João Acácio chegou, foi dominado com um golpe de judô e imobilizado sobre o sofá da sala.
Acabava ali a carreira do bandido famoso que aterrorizou as classes média e alta de São Paulo no final da década de 60. João Acácio passou os 30 anos seguintes atrás das grades -cinco anos a mais do que ele viveu fora delas.
Fioravante costuma dizer que abriu mão de sua arma "porque bandido bom tem que se pegar na unha". Na mesma noite, os quatro policiais colocaram o preso num carro, o Chevrolet particular do delegado Moutir, e o levaram para São Paulo.
No caminho, Luz Vermelha ofereceu dinheiro aos policiais para que o deixassem correr. Disse ainda que eles poderiam atirar: se ele conseguisse escapar dos tiros, ótimo. Senão, morreria e tudo bem.
Em Registro (SP), conta Fioravante, a equipe parou para tomar um lanche num posto e Luz Vermelha pediu para ir ao banheiro. O investigador Edgar Polcholotek, a quem o bandido estava algemado, disse para que ele esperasse. João Acácio não esperou: abriu a calça e urinou ali mesmo, no balcão.
Ao chegar a São Paulo, Luz Vermelha ficou mais de um mês no DI (Departamento de Investigações), enquanto a polícia concluía os vários inquéritos que ele deveria assinar. Depois, vieram os julgamentos e as condenações. João Acácio foi condenado em 88 processos -77 roubos, 4 homicídios e 7 tentativas.
Sua primeira vítima fatal foi o estudante Walter Bedran, 19, que o surpreendeu invadindo o quintal de casa no dia 3 de outubro de 1966. Dez dias depois, João Acácio, matou o operário José Enéas da Costa, 23, numa briga de bar no Cambuci. Os outros dois homicídios ocorreram no ano seguinte.
No dia 7 de junho de 67, Luz Vermelha entrou na casa do industrial Jean von Christian Szaraspatack, no Jardim América, e o matou numa troca de tiros. Menos de um mês depois, no dia 6 de julho, o bandido matou o vigia José Fortunato numa casa no Ipiranga.

Infância
João Acácio nasceu às 16h do dia 20 de outubro de 1942, em São Francisco do Sul (SC). Perdeu os pais ainda criança e mudou-se para a cidade vizinha, Joinville, para ser criado pelo tio José Pereira, -o mesmo que, aos 81 anos, lhe ofereceu abrigo no ano passado.
Sua infância foi muito pobre. Largou a escola na 3ª série e não gostava de trabalhar. Já adolescente, como não se dava bem com a família, resolveu ir morar na rua. Tentou fazer alguns bicos para sobreviver, mas não tinha muita sorte. "Aí comecei a mexer no que não era meu", disse Luz Vermelha, em entrevista concedida em 97.
No começo, era um verdadeiro ladrão de galinhas: só roubava pequenas coisas. A polícia da cidade chegou a prendê-lo várias vezes, mas os policiais só davam conselhos e o soltavam. Seu apelido na época era "Ferida", devido a um enorme machucado na perna.
Com o passar do tempo, João Acácio foi se aperfeiçoando no roubo e virou um bandido perigoso. Em 64, invadiu uma casa e deu um tiro no dono, um dentista que, por sorte, sobreviveu.
Após esse assalto, Luz Vermelha fugiu de Joinville, passou uns dias em Curitiba e foi para São Paulo. Nos primeiros anos, a imprensa o chamava de "Homem macaco" -um ladrão que invadia várias casas usando um macaco hidráulico para alargar as grades. Somente no final da carreira é que ele passou a usar a lanterna com lâmpada vermelha para entrar nas casas e virou o "Bandido da Luz Vermelha". Aí, foram meses de pânico em São Paulo.



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