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Luz foi preso com golpe de judô aos 24
RENATO KRAUSZ
da Reportagem Local
João Acácio Pereira da Costa foi
preso aos 24 anos de idade na noite
de 7 de agosto de 1967, na casa de
um amigo, em Curitiba. Quem o
agarrou foi o agente policial Fioravante dos Santos, que passou quatro horas escondido atrás da porta
esperando o bandido chegar.
Fioravante estava desarmado
-ele havia entregue sua arma ao
delegado Moutir Amaral, que,
junto com outros três policiais, ficou na cozinha para dar cobertura.
Quando João Acácio chegou, foi
dominado com um golpe de judô e
imobilizado sobre o sofá da sala.
Acabava ali a carreira do bandido famoso que aterrorizou as classes média e alta de São Paulo no
final da década de 60. João Acácio
passou os 30 anos seguintes atrás
das grades -cinco anos a mais do
que ele viveu fora delas.
Fioravante costuma dizer que
abriu mão de sua arma "porque
bandido bom tem que se pegar na
unha". Na mesma noite, os quatro
policiais colocaram o preso num
carro, o Chevrolet particular do
delegado Moutir, e o levaram para
São Paulo.
No caminho, Luz Vermelha ofereceu dinheiro aos policiais para
que o deixassem correr. Disse ainda que eles poderiam atirar: se ele
conseguisse escapar dos tiros, ótimo. Senão, morreria e tudo bem.
Em Registro (SP), conta Fioravante, a equipe parou para tomar
um lanche num posto e Luz Vermelha pediu para ir ao banheiro. O
investigador Edgar Polcholotek, a
quem o bandido estava algemado,
disse para que ele esperasse. João
Acácio não esperou: abriu a calça e
urinou ali mesmo, no balcão.
Ao chegar a São Paulo, Luz Vermelha ficou mais de um mês no DI
(Departamento de Investigações),
enquanto a polícia concluía os vários inquéritos que ele deveria assinar. Depois, vieram os julgamentos e as condenações. João Acácio
foi condenado em 88 processos
-77 roubos, 4 homicídios e 7 tentativas.
Sua primeira vítima fatal foi o estudante Walter Bedran, 19, que o
surpreendeu invadindo o quintal
de casa no dia 3 de outubro de
1966. Dez dias depois, João Acácio,
matou o operário José Enéas da
Costa, 23, numa briga de bar no
Cambuci. Os outros dois homicídios ocorreram no ano seguinte.
No dia 7 de junho de 67, Luz Vermelha entrou na casa do industrial
Jean von Christian Szaraspatack,
no Jardim América, e o matou numa troca de tiros. Menos de um
mês depois, no dia 6 de julho, o
bandido matou o vigia José Fortunato numa casa no Ipiranga.
Infância
João Acácio nasceu às 16h do dia
20 de outubro de 1942, em São
Francisco do Sul (SC). Perdeu os
pais ainda criança e mudou-se para a cidade vizinha, Joinville, para
ser criado pelo tio José Pereira,
-o mesmo que, aos 81 anos, lhe
ofereceu abrigo no ano passado.
Sua infância foi muito pobre.
Largou a escola na 3ª série e não
gostava de trabalhar. Já adolescente, como não se dava bem com a
família, resolveu ir morar na rua.
Tentou fazer alguns bicos para sobreviver, mas não tinha muita sorte. "Aí comecei a mexer no que
não era meu", disse Luz Vermelha,
em entrevista concedida em 97.
No começo, era um verdadeiro
ladrão de galinhas: só roubava pequenas coisas. A polícia da cidade
chegou a prendê-lo várias vezes,
mas os policiais só davam conselhos e o soltavam. Seu apelido na
época era "Ferida", devido a um
enorme machucado na perna.
Com o passar do tempo, João
Acácio foi se aperfeiçoando no
roubo e virou um bandido perigoso. Em 64, invadiu uma casa e deu
um tiro no dono, um dentista que,
por sorte, sobreviveu.
Após esse assalto, Luz Vermelha
fugiu de Joinville, passou uns dias
em Curitiba e foi para São Paulo.
Nos primeiros anos, a imprensa o
chamava de "Homem macaco"
-um ladrão que invadia várias
casas usando um macaco hidráulico para alargar as grades. Somente
no final da carreira é que ele passou a usar a lanterna com lâmpada
vermelha para entrar nas casas e
virou o "Bandido da Luz Vermelha". Aí, foram meses de pânico
em São Paulo.
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