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Para especialista,
sociedade é culpada
da Reportagem Local
A morte de João Acácio Pereira
da Costa evidencia, na opinião de
especialistas consultados pela Folha, que o sistema carcerário brasileiro é falido.
"Ele saiu da prisão como um farrapo humano. Sua morte é lamentável e mostra que o sistema carcerário não serve para nada", afirma
o presidente do Conselho Estadual
de Direitos da Pessoa Humana,
Daniel Azevedo Noronha.
Para Noronha, quem matou Luz
Vermelha, na verdade, foi a própria sociedade e não o homem que
lhe deu o tiro na cabeça.
"A vida dele foi ceifada em 30
anos. Ele ficou todo esse tempo
morto e depois foi ressuscitado para ser assassinado", disse.
"Após ser solto, as pessoas sentiam medo dele. O tom agressivo
que ele tinha era para se defender
dessa reação da sociedade. O Luz
Vermelha era um bandido sedutor
e, por isso, devia ter um discurso
tranquilizante. O discurso agressivo ele aprendeu na prisão."
Noronha afirma que a iniciativa
privada ainda não está conscientizada de que o trabalho do preso é
bom. "A laborterapia nas prisões
brasileiras atinge uma ínfima parte
da população carcerária."
Além do trabalho nas prisões,
para o presidente do conselho, a
principal modificação que deve ser
feita no sistema prisional é a adoção de penas alternativas. "O sistema fechado não funciona."
O secretário-executivo do Ilanud
(Intituto Latino-Americano das
Nações Unidas para Prevenção do
Crime), Oscar Vilhena Vieira, afirma que Luz Vermelha entrou ruim
na cadeia e saiu destruído. "Ele já
tinha problemas emocionais antes
e o grande erro foi não ter recebido
tratamento desde o início."
Vieira concorda que as penas alternativas são a melhor saída.
"O sistema prisional tem grande
dificuldade de recuperar alguém.
Na grande maioria dos casos, a
pessoa sai mais delinquente do que
quando entrou", diz Vieira.
"Os benefícios da pena alternativa são para o preso e para a própria sociedade."
No entanto, para Vieira, Luz
Vermelha não poderia ter esse benefício em função de seus crimes.
"Mas, se liberássemos do sistema a grande massa de presos que
cometeram crimes menores, os
presídios poderiam se concentrar
na recuperação das pessoas que
cometeram crimes mais graves."
Vieira diz que as pessoas devem
entender que quanto mais trabalho e educação o preso tiver na cadeia, a própria sociedade será beneficiada. "As chances de reincidência no crime seriam menores."
O secretário estadual da Administração Penitenciária, João Benedicto de Azevedo Marques, afirma que as penitenciárias sempre
serão problemáticas enquanto não
tiveram trabalho, educação, assistência médica e judiciária.
"Em São Paulo temos hoje 20
mil presos, de um total de 36 mil,
trabalhando em oficinas. Não há
trabalho para todos ainda, mas estamos progredindo.
Quanto a Luz Vermelha, Marques diz que ele já entrou no sistema com saúde mental complicada.
"Mas, sem dúvida, ficar 30 anos
na prisão pode ter piorado o quadro dele."
(RK)
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