São Paulo, terça-feira, 07 de fevereiro de 2006

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11,5% das crianças de seis anos do país estão fora da sala de aula

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

As estatísticas indicam que a ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos não deverá causar falta de vagas. Mas especialistas em educação prevêem uma mudança prejudicial ao aluno se o professor não for preparado e se começarem mais cedo as cobranças por resultados e a repetência, inexistente na pré-escola.
Dados tabulados a pedido da Folha pelo IBGE a partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostram que, já em 2004, apenas 11,5% das crianças de seis anos estavam fora da escola. Dos que estudavam, 26% já cursavam o ensino fundamental, não mais a pré-escola.
O preocupante é que os Estados que mais matriculavam em 2004 alunos de seis anos no fundamental tinham altos níveis de repetência. Rio Grande do Norte (42,1%), Alagoas (38,1%) e Paraíba (37%) possuíam a maior proporção de crianças de seis anos no ensino fundamental. E tinham índices de repetência de, respectivamente, 45,5%, 44,6% e 46,6% na primeira série, segundo o Censo Escolar de 2004. A média nacional de repetência para essa série é de 29%.
Para sindicatos de professores desses Estados, a ampliação teve o objetivo único de obter mais verba do Fundef, que distribui recursos segundo o número de alunos no fundamental. Com a entrada de estudantes de seis anos nessa faixa, cresce o repasse recebido.
Desde 1996, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) permite a matrícula no ensino fundamental de crianças de seis anos, mas define que, na pré-escola, não pode haver avaliação para repetir ou promover os alunos. A sanção do ensino fundamental de nove séries, para a maioria dos educadores consultados pela Folha, ajuda a universalizar o acesso de crianças de seis anos à escola. Mas é unânime a preocupação com a forma como isso ocorrerá.
"Há o perigo de as redes adotarem a repetência na 1ª série com alunos de seis anos. Isso colocaria a criança diante do fracasso muito cedo, o que prejudica todo o período escolar", diz o presidente da Câmara da Educação Básica do CNE (Conselho Nacional de Educação), Cesar Callegari.
Rose Neubauer, ex-secretária estadual da Educação de São Paulo e ex-integrante do CNE, é contra o aumento do fundamental e prefere a ampliação do ensino profissionalizante para jovens. "A faixa de crianças na pré-escola já estava mais bem atendida. Aumentar a escolaridade obrigatória aos seis sem resolver o problema da qualidade significa enfiar essas crianças precipitadamente na cultura de repetência e submetê-las a uma pedagogia absolutamente inadequada para a faixa etária."
Para Regina de Assis, especialista em educação infantil e também ex-integrante do CNE, a ampliação é, sim, positiva, mas há risco para essas crianças: "Nada adiantará se os professores tiverem as mesmas deficiências que hoje têm no trabalho com alunos de sete".
O aprendizado nos anos iniciais deve ser prazeroso, diz ela. "A criança aprende de maneira lúdica aos seis ou sete anos, mas muitos professores trabalham com uma seriedade que cria aversão. Ela aprende que o mundo da escola foi interessante, mas, a partir daquele momento, será uma chatice: ditados, copiar, repetir."
Ângela Soligo, psicóloga e coordenadora-associada do curso de pedagogia da Unicamp, diz que não se deve esperar que as crianças de seis anos aprendam a ler imediatamente. "Essa primeira série será importante para a criança começar o contato com leitura e escrita. Se forçar, ela achará que a escola é chata e desanimará."


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