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11,5% das crianças de seis anos
do país estão fora da sala de aula
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
As estatísticas indicam que a
ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos não deverá causar falta de vagas. Mas especialistas em educação prevêem
uma mudança prejudicial ao aluno se o professor não for preparado e se começarem mais cedo as
cobranças por resultados e a repetência, inexistente na pré-escola.
Dados tabulados a pedido da
Folha pelo IBGE a partir da Pnad
(Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios) mostram que, já
em 2004, apenas 11,5% das crianças de seis anos estavam fora da
escola. Dos que estudavam, 26%
já cursavam o ensino fundamental, não mais a pré-escola.
O preocupante é que os Estados
que mais matriculavam em 2004
alunos de seis anos no fundamental tinham altos níveis de repetência. Rio Grande do Norte (42,1%),
Alagoas (38,1%) e Paraíba (37%)
possuíam a maior proporção de
crianças de seis anos no ensino
fundamental. E tinham índices de
repetência de, respectivamente,
45,5%, 44,6% e 46,6% na primeira
série, segundo o Censo Escolar de
2004. A média nacional de repetência para essa série é de 29%.
Para sindicatos de professores
desses Estados, a ampliação teve o
objetivo único de obter mais verba do Fundef, que distribui recursos segundo o número de alunos
no fundamental. Com a entrada
de estudantes de seis anos nessa
faixa, cresce o repasse recebido.
Desde 1996, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) permite a matrícula no ensino fundamental de crianças de seis anos,
mas define que, na pré-escola,
não pode haver avaliação para repetir ou promover os alunos. A
sanção do ensino fundamental de
nove séries, para a maioria dos
educadores consultados pela Folha, ajuda a universalizar o acesso
de crianças de seis anos à escola.
Mas é unânime a preocupação
com a forma como isso ocorrerá.
"Há o perigo de as redes adotarem a repetência na 1ª série com
alunos de seis anos. Isso colocaria
a criança diante do fracasso muito
cedo, o que prejudica todo o período escolar", diz o presidente da
Câmara da Educação Básica do
CNE (Conselho Nacional de Educação), Cesar Callegari.
Rose Neubauer, ex-secretária
estadual da Educação de São Paulo e ex-integrante do CNE, é contra o aumento do fundamental e
prefere a ampliação do ensino
profissionalizante para jovens. "A
faixa de crianças na pré-escola já
estava mais bem atendida. Aumentar a escolaridade obrigatória
aos seis sem resolver o problema
da qualidade significa enfiar essas
crianças precipitadamente na cultura de repetência e submetê-las a
uma pedagogia absolutamente
inadequada para a faixa etária."
Para Regina de Assis, especialista em educação infantil e também
ex-integrante do CNE, a ampliação é, sim, positiva, mas há risco
para essas crianças: "Nada adiantará se os professores tiverem as
mesmas deficiências que hoje têm
no trabalho com alunos de sete".
O aprendizado nos anos iniciais
deve ser prazeroso, diz ela. "A
criança aprende de maneira lúdica aos seis ou sete anos, mas muitos professores trabalham com
uma seriedade que cria aversão.
Ela aprende que o mundo da escola foi interessante, mas, a partir
daquele momento, será uma chatice: ditados, copiar, repetir."
Ângela Soligo, psicóloga e coordenadora-associada do curso de
pedagogia da Unicamp, diz que
não se deve esperar que as crianças de seis anos aprendam a ler
imediatamente. "Essa primeira
série será importante para a criança começar o contato com leitura
e escrita. Se forçar, ela achará que
a escola é chata e desanimará."
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