São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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Conceição de Jesus e o negro na escola

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Tudo aconteceu de forma lenta, difícil, nos 56 anos da vida de Conceição Aparecida de Jesus. Foram anos de estudos interrompidos e de luta contra o racismo até a valorização de seu trabalho.
Foi na zona leste de São Paulo que a menina negra de cabelos "black", sempre "brilhante nas rodas de amigos", nasceu e passou uma infância pobre em escolas públicas. Aos 18 fazia pedagogia e dava aulas para ajudar a família. Mas a deixou o sonho de lado -a USP era longe e o trabalho dobrado.
Deu aulas por 25 anos consecutivos, até se aposentar, quando voltou à universidade para concluir a graduação, interrompida havia mais de dez anos. Não parou mais. Fez mestrado e doutorado sobre a discriminação racial.
Era a favor das cotas para negros e "denunciara sempre o racismo cordial", na equipe que elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, abrindo espaço para o ensino de história da África, hoje em vigor.
Quem a conhecia sabia que era uma mulher miúda e tímida, que compensava o silêncio com as cores da roupa. Mas quando começava a explanar algo, "crescia, os olhos brilhavam e ela se impunha". Há anos virara consultora na área de educação e formação de professores e dizia que finalmente se sentia reconhecida por seu trabalho.
Na quinta subiu mais uma vez ao parlatório, miúda e tímida, para mostrar os resultados de seu projeto com jovens carentes, quando levou a mão à cabeça. Morreu sábado, de aneurisma cerebral.


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