São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

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Herdeiros do samba

Filhos de integrantes de escolas de samba de São Paulo são preparados desde pequenos para o Carnaval

TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com um apito no pescoço e um chocalho na mão, João Victor, 4, está em dúvida: ele ainda não sabe se prefere tocar o instrumento ou comandar a bateria da Tom Maior. A decisão terá que ser tomada até o próximo Carnaval, quando ele fará cinco anos e poderá, finalmente, estrear na avenida.
A dúvida tem uma explicação: o menino gosta do chocalho, mas admira o puxador da bateria, seu pai. João é um dos herdeiros do Carnaval paulista -uma das crianças em treinamento para assumir funções nas escolas junto aos pais.
Filho de Carlos Alves, o mestre Carlão, o garoto está sendo preparado para seguir, literalmente, os passos do pai. Mesmo sendo muito pequeno para entrar no sambódromo (crianças só podem desfilar após os cinco anos), João treina muito e anda pela quadra como o pai.
Pela mesma preparação passou Rene Júnior, filho do intérprete da escola, Rene Sobral. Desde os quatro anos ele já cantava com o pai nos ensaios. Na época, o "Beleza, beleza, beleza", que Sobral grita na avenida, ainda era "Beieza, beieza, beieza" na voz do menino. Hoje, aos sete, ele é veterano na avenida. Mas o microfone fica mais baixinho devido a voz de criança.
Também veterana na passarela, Maria Eduarda, 7, assumirá uma função diferente neste ano. Acostumada a entrar na avenida carregada pelo pai, Edilson Casal, presidente da Pérola Negra, ela será o destaque da comissão de frente. O uniforme, composto por macacão amarelo e peruca verde, terá um toque especial: uma "janelinha" na boca, formada pela queda dos dentes da frente.
Levar as crianças desde cedo para o Carnaval, dizem os pais, aumenta o amor pela escola.
Além disso, de tanto admirarem os gestos dos pais, eles aprendem rápido. "Ele nasceu nesse meio, não tem como não aprender, é natural", diz Marcos Rezende, o mestre Sombra, diretor da bateria da Mocidade Alegre. Ele diz que o filho Carlinhos, 9, que o acompanha nos desfiles, tem até estilo próprio.
Os pais garantem que os filhos não se sobrecarregam. Marília Cristina Silva, 13, rainha da bateria da Mocidade e filha de passista só vai à quadra às sextas e aos domingos -assim, não prejudica os estudos.
Mas Maria Eduarda entrega. "Só gosto de ensaiar quando estou mais disposta", conta.


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