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Herdeiros do samba
Filhos de integrantes de escolas de samba de São Paulo são preparados desde pequenos para o Carnaval
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com um apito no pescoço e
um chocalho na mão, João Victor, 4, está em dúvida: ele ainda
não sabe se prefere tocar o instrumento ou comandar a bateria da Tom Maior. A decisão terá que ser tomada até o próximo Carnaval, quando ele fará
cinco anos e poderá, finalmente, estrear na avenida.
A dúvida tem uma explicação: o menino gosta do chocalho, mas admira o puxador da
bateria, seu pai. João é um dos
herdeiros do Carnaval paulista
-uma das crianças em treinamento para assumir funções
nas escolas junto aos pais.
Filho de Carlos Alves, o mestre Carlão, o garoto está sendo
preparado para seguir, literalmente, os passos do pai. Mesmo sendo muito pequeno para
entrar no sambódromo (crianças só podem desfilar após os
cinco anos), João treina muito
e anda pela quadra como o pai.
Pela mesma preparação passou Rene Júnior, filho do intérprete da escola, Rene Sobral.
Desde os quatro anos ele já cantava com o pai nos ensaios. Na
época, o "Beleza, beleza, beleza", que Sobral grita na avenida,
ainda era "Beieza, beieza, beieza" na voz do menino. Hoje, aos
sete, ele é veterano na avenida.
Mas o microfone fica mais baixinho devido a voz de criança.
Também veterana na passarela, Maria Eduarda, 7, assumirá uma função diferente neste
ano. Acostumada a entrar na
avenida carregada pelo pai,
Edilson Casal, presidente da
Pérola Negra, ela será o destaque da comissão de frente. O
uniforme, composto por macacão amarelo e peruca verde, terá um toque especial: uma "janelinha" na boca, formada pela
queda dos dentes da frente.
Levar as crianças desde cedo
para o Carnaval, dizem os pais,
aumenta o amor pela escola.
Além disso, de tanto admirarem os gestos dos pais, eles
aprendem rápido. "Ele nasceu
nesse meio, não tem como não
aprender, é natural", diz Marcos Rezende, o mestre Sombra,
diretor da bateria da Mocidade
Alegre. Ele diz que o filho Carlinhos, 9, que o acompanha nos
desfiles, tem até estilo próprio.
Os pais garantem que os filhos não se sobrecarregam. Marília Cristina Silva, 13, rainha da
bateria da Mocidade e filha de
passista só vai à quadra às sextas e aos domingos -assim, não
prejudica os estudos.
Mas Maria Eduarda entrega.
"Só gosto de ensaiar quando estou mais disposta", conta.
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