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Para psicóloga, cidade serve como "redoma"
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Se há algo que une adolescentes
de todas as classes sociais de Brasília é o fato de eles descreverem a
capital federal como "uma cidade
protegida que joga os mendigos
para as cidades-satélites e que
limpa o que não serve".
É por isso que a socióloga Mirian Abramovay diz que Brasília
"é uma redoma que faz com que
os adolescentes fiquem alheios ao
outro". "Outro", nesse caso, é
qualquer pessoa diferente do círculo de amigos da escola, da faculdade ou dos vizinhos.
Esse não reconhecimento funciona como uma espécie de "passe-livre", que permite aos jovens
passar por cima de quem não é
seu "igual".
A opinião de Abramovay, que é
consultora de pesquisas da Unesco (o órgão das Nações Unidas
que atua nas áreas de educação,
ciência e cultura), é baseada em
uma pesquisa que ela coordenou,
em 1998, logo depois que quatro
jovens queimaram vivo o índio
pataxó Galdino Jesus dos Santos,
em uma das avenidas mais movimentadas de Brasília.
Para a pesquisa foram entrevistados 401 jovens entre 14 e 20 anos
de escolas públicas e privadas da
capital federal e 400 adultos, entre
pais e professores. O que ainda
chama a atenção de Abramovay é
o fato de os jovens de diferentes
classes sociais pouco ou nunca se
encontrarem.
Abramovay disse que, da época
em que foi feita a pesquisa até hoje, só mudou o ponto de encontro
dos jovens abastados de Brasília.
Para ela, a separação (física) radical entre pobres e ricos faz com
que muitos jovens das classes altas não tenham "responsabilidade social" e não respeitem regras
de convivência.
Cidades-satélites
Brasília é uma cidade praticamente sem favelas ou bairros operários. Essa população vive nas
chamadas cidades-satélites, como
Ceilândia, Recanto das Emas ou
Samambaia. Taguatinga e Guará,
as maiores, já viraram reduto da
classe média e seus filhos estudam
na capital -obedecendo, então, à
lógica dos moradores da cidade.
Além do fato de em Brasília as
pessoas de classe social diferente
"não se misturarem", o sentimento de impunidade, devido à proximidade com o poder, contribui,
segundo Abramovay, para que os
adolescentes cometam crimes
sem temer punição.
Os adolescentes que explodiram um cômodo da pousada em
Nova Viçosa deixaram um bilhete
reconhecendo a autoria do fato.
No ano passado, um grupo de jovens brasilienses espancou até a
morte um garçom na passarela do
álcool, um local movimentado de
Porto Seguro. Galdino, lembrou
Abramovay, foi queimado vivo
em uma avenida central.
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