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"Quero voltar de cabeça erguida"
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 12 anos, ele já bebia escondido dos pais. Aos 14, experimentou cocaína e maconha a convite
de amigos. Aos 16, começou a furtar objetos do pai, um comerciante de São José dos Campos (SP),
para comprar drogas. Aos 17, foi
preso por assalto, mas conseguiu
se livrar da Febem prestando serviços à comunidade.
Em seguida, começou a participar de reuniões no NA (Narcóticos Anônimos), onde diz ter permanecido "limpo" durante dois
anos. Em 1997, foi contratado como mecânico estrutural de aeronaves pela Embraer.
"Com dinheiro na mão, cai em
tentação. Comecei a usar maconha e cocaína nos finais de semana. Tinha certeza de que estava
controlando a situação", relata
Paulo, 27, (o nome é fictício), que
está há dez dias internado em
uma clínica de recuperação de dependentes químicos em São José.
O tratamento, de 35 dias, está sendo custeado pela Embraer.
Quatro meses após a contratação, com a namorada grávida, resolveu se casar e abandonar, por
conta própria, as baladas de finais
de semana. Decidiu cursar direito
e voltar a jogar futebol. "Fiquei
mais três anos limpo", diz Paulo.
Limpo, mas não muito. Após
uma bebedeira, espancou a mulher, que pediu a separação. "Fiquei desnorteado. Brigava com
todo mundo e inventava doença
para justificar as faltas no serviço.
Cheguei até a capotar o carro. Só
me segurava no trabalho", conta o
mecânico.
Há um mês, em uma manhã de
sábado, depois de passar a noite
bebendo, cheirando cocaína e fumando, ele invadiu a casa onde vive a ex-mulher, alegando estar
com saudades da filha. Assustada,
a mulher se trancou no quarto
com a menina.
Inconformado, Paulo quebrou
todos os vidros do carro que ele
julgava ser da ex, que estava estacionado em frente à casa da sogra.
O carro era da cunhada.
Na segunda-feira, ao chegar à
Embraer, foi surpreendido com
informação da assistente social de
que a família da mulher havia ligado para a empresa relatando o
episódio de sábado.
"A assistente social sugeriu que
eu fizesse o teste toxicológico. Eu
disse que faria só para provar a
minha inocência. Mas na hora de
coletar a urina, comecei a enrolar
dizendo que não conseguia urinar", relata o mecânico.
Na realidade, ele queria ganhar
tempo. Acreditava que um dia a
mais poderia ser suficiente para
apagar os vestígios da droga na
urina. Por sugestão de amigos,
passou a noite bebendo água.
No dia seguinte, com um vigilante enfermeiro na porta do banheiro, ele fez o teste. Três dias depois, com o resultado positivo do
teste, foi encaminhado ao programa de tratamento da empresa. Os
profissionais sugeriram a internação. "De início eu disse não. Argumentei que tinha sido uma exceção, que não era dependente."
Mas, após conversar com os
pais, convenceu-se de que ir para
a clínica era a melhor saída. Na
companhia de outros seis dependentes químicos, todos empregados, ele está em tratamento, que é
baseado nos 12 passos dos AA
(Alcoólicos Anônimos). "Estou
me preparando para voltar a viver
livre das drogas. Quero voltar ao
trabalho de cabeça erguida."
(CC)
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