São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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Setor é o que mais faz testes de drogas; pesquisa com caminhoneiros revelou traços de álcool e entorpecentes em 7%

Controle é maior nas empresas de transporte

Roosevelt Cassio/Folha Imagem
Jucelane Santos de Souza, 30, faz exame em bafômetro na empresa transportadora Americana, onde trabalha como motorista


DA REPORTAGEM LOCAL

O setor de transporte rodoviário é o que mais realiza testagem toxicológica no país. Nos últimos três anos, das 227 empresa que enviaram amostras para análise na USP, 41,4% eram dessa área. Outras 4,84% eram empresas de transporte marítimo e 1,32%, companhias aéreas.
Além de drogas como maconha e cocaína, essas empresas também encaram como prioritário o combate ao uso de álcool, principalmente em razão do risco que pode representar um motorista embriagado. Em algumas delas, o uso do bafômetro foi incorporado à rotina de trabalho.
Na transportadora Americana, por exemplo, todos os motoristas passam pelo bafômetro antes de entrar no caminhão e pegar a estrada. A empresa possui 23 filiais no Brasil, 2.000 funcionários (entre registrados e prestadores de serviço) e uma frota de 116 veículos próprios e outros 790 terceirizados.
Além da testagem do álcool, restrita aos motoristas, a empresa realiza também testes toxicológicos uma vez por mês, por sorteio aleatório. Todos os funcionários, do presidente ao porteiro, participam do sorteio.
Em 2003, foram realizados na empresa 232 exames toxicológicos (admissionais e aleatórios). Desses, três (1,3%) deram positivo para maconha.
Segundo Izabel Cristina Marques, 45, supervisora de ética e responsabilidade social da empresa, os casos positivos foram de pessoas que passavam pelo processo de admissão da empresa e acabaram não sendo contratadas.
Implantado há quatro anos, o programa não tem caráter punitivo em relação aos funcionários contratados, afirma Marques. Se o motorista for flagrado no teste do bafômetro, conta a supervisora, ele é imediatamente substituído naquele dia e encaminhado para a psicóloga da empresa.
"Às vezes acontece de algum ter bebido no dia anterior e ainda permanecer alterada a concentração de álcool no sangue. Nessas condições, ele não pode pegar o caminhão para viajar", conta.
Em 2003, a empresa realizou 16.135 testes de bafômetro. Apenas 0,05% deu positivo.
Estudo realizado pelo Laboratório de Análises Toxicológicas e pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP em rodovias administradas pela Viaoeste (Raposo Tavares, Castelo Branco e José Ermírio de Moraes) mostra que, quando é examinada a urina de motoristas de caminhão abordados na estrada, o número de usuários de drogas e álcool detectados é superior à média observada em exames feitos dentro das empresas.
Foram pesquisadas 558 amostras entre 2002 e 2003. Dessas, 39 (7%) foram positivas: 16 para álcool, sete para anfetaminas, três para cocaína, nove para maconha e quatro para associações dessas drogas.
Outro trabalho pioneiro feito pela USP foi analisar a saliva dos caminhoneiros. Das 559 amostras analisadas, 17 apresentaram resultado positivo para álcool, anfetaminas, cocaína e maconha.
Segundo Regina Lúcia de Moraes Moreau, diretora do laboratório de análises toxicológicas da USP, os resultados são preocupantes porque revelam que esses motoristas estavam dirigindo sob influência de drogas no momento da coleta.
Para ela, a saliva pode ser um ótima aliada das autoridades de trânsito no monitoramento de motoristas drogados ou embriagados, já que sua coleta é muito mais simples que a da urina.
Para atestar que um motorista está alcoolizado, o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) determina que seja usado o bafômetro -que analisa o ar expirado-, além de um exame clínico realizado por um médico da Polícia Judiciária.
O estado de embriaguez é diagnosticado quando o bafômetro registra acima de seis decigramas de álcool por litro de sangue.
Segundo Natalício Ferreira Alves, secretário-geral do sindicato dos trabalhadores em transporte de carga de São Paulo, o sindicato não tinha conhecimento, até ser procurado pela Folha, dos testes toxicológicos realizados nas empresas de transporte rodoviário. "Ou está tudo sendo feito dentro da normalidade ou os trabalhadores se sentem coagidos e têm medo de denunciar", afirmou.
Ele afirma que o sindicato vai pedir aos diretores de base, que estão em contato direto com os trabalhadores, que investiguem se há abuso na realização dos testes.
(CLÁUDIA COLLUCCI)


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