São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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SAÚDE

Pesquisa de hospital indica que falta de carinho e baixa escolaridade podem contribuir para obesidade

Atitude da mãe influencia no peso do filho

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A qualidade do vínculo entre mãe e filho é um fator de risco para a obesidade. Em outras palavras, quando a criança não recebe a atenção que necessita da mãe, ou quando a família vive um período de turbulência, o filho terá muito mais chances de ser gordo na infância e de continuar assim pelo resto dos seus dias, sempre lutando com dietas.
A importância do vínculo mãe-e-filho aparece em pesquisa feita com 92 mulheres, obesas ou não, com filhos acima do peso e de até dez anos. Todas participavam do Programa de Nutrição que o Hospital Albert Einstein tem em Paraisópolis, zona sul de São Paulo.
Mães superprotetoras, que cerceavam a autonomia do filho, ou que não observavam quando e como ele comia, aumentavam o risco de a criança engordar. "Algumas ofereciam comida o tempo todo, como uma forma de compensar possíveis culpas diante da criança", diz a psicóloga Patrícia Spada, doutoranda da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do estudo.
As participantes foram submetidas ao teste de Avaliação do Vínculo Mãe e Filho, entre outros exames que mediam escolaridade, depressão e problemas de saúde. "O estudo concluiu que o vínculo mãe-e-filho comprometido, associado a um rebaixamento do nível intelectual materno, provoca um aumento importante no risco de a criança vir a se tornar obesa", diz Patrícia Spada.
A mãe com pouca escolaridade, mesmo mantendo um vínculo estreito com o filho, pode não interpretar corretamente os apelos do filho. A primeira reação, quando a criança chora, é dar mais comida.
Embora o estereótipo do "bebê Johnson" já tenha diminuído no seio das famílias, a criança gordinha continua sendo a idealizada. Ainda prevalece a idéia de que "criança de barriguinha cheia é criança feliz". Essa tendência é mais freqüente nas mães inseguras e entre aquelas que se sentem culpadas por não estar o tempo suficiente com o filho.
"A maioria das mães que ainda adotam esse comportamento tem problemas em casa, seja uma separação, a perda do emprego ou de alguém próximo", diz a endocrinologista Sandra Vilares, do Ambulatório de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas.
Cerca de 200 crianças estão sendo acompanhadas, e outras 300 aguardam na fila.
Nesse serviço, mãe e filho participam do tratamento. "É uma condição muito importante para que mãe e criança percam peso juntas", diz Sandra Vilares.
Segundo Patrícia Spada, 95% das crianças e adolescente obesos o são por causas exógenas, ou seja, predisposição genética, hábitos alimentares incorretos, sedentarismo e ambiente familiar.
Entre os vários conselhos que dão os especialistas, um deles é que a mãe procure observar seu comportamento e o de seu filho com relação à alimentação. "Algumas mães não verificam seu próprio peso e não conseguem ver que seu filho está obeso", diz Patrícia Spada.
A mãe também não deve subestimar a capacidade do filho de desenvolver soluções criativas para seus problemas. Ao impedir que a criança manifeste sua própria autonomia, ela dificulta ou distorce a possibilidade de, aos poucos, a criança vir a ser independente.
Outro cuidado é não responder a qualquer solicitação com mais alimentação. Nem usar a comida como moeda de troca, por exemplo, oferecendo um sorvete se o filho se sair bem na escola ou comer a salada direitinho.
"É fundamental que a mãe auxilie o filho no contato das próprias emoções por meio do diálogo e da proximidade", diz a pesquisadora. Uma recomendação que ela considera das mais importantes: "Não há solução mágica para emagrecer. É preciso paciência e perseverança, de toda a família." Lúcia Cristina Zanella, psicóloga do grupo de endocrinologia do HC, está ali para entender o que há por trás do excesso de peso. "O jovem hoje vive numa sociedade que não lhe dá segurança, de um consumismo compulsivo. Por isso tem sempre que comer", diz. A ausência do pai ou dos pais faz com que eles se sintam culpados e tentem compensar oferecendo mais comida. O jovem, por sua vez, passa quase todo o tempo fora, comendo o que tem vontade.



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