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SAÚDE
Pesquisa de hospital indica que falta de carinho e baixa escolaridade podem contribuir para obesidade
Atitude da mãe influencia no peso do filho
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A qualidade do vínculo entre
mãe e filho é um fator de risco para a obesidade. Em outras palavras, quando a criança não recebe
a atenção que necessita da mãe,
ou quando a família vive um período de turbulência, o filho terá
muito mais chances de ser gordo
na infância e de continuar assim
pelo resto dos seus dias, sempre
lutando com dietas.
A importância do vínculo mãe-e-filho aparece em pesquisa feita
com 92 mulheres, obesas ou não,
com filhos acima do peso e de até
dez anos. Todas participavam do
Programa de Nutrição que o Hospital Albert Einstein tem em Paraisópolis, zona sul de São Paulo.
Mães superprotetoras, que cerceavam a autonomia do filho, ou
que não observavam quando e
como ele comia, aumentavam o
risco de a criança engordar. "Algumas ofereciam comida o tempo
todo, como uma forma de compensar possíveis culpas diante da
criança", diz a psicóloga Patrícia
Spada, doutoranda da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do estudo.
As participantes foram submetidas ao teste de Avaliação do Vínculo Mãe e Filho, entre outros
exames que mediam escolaridade, depressão e problemas de saúde. "O estudo concluiu que o vínculo mãe-e-filho comprometido,
associado a um rebaixamento do
nível intelectual materno, provoca um aumento importante no
risco de a criança vir a se tornar
obesa", diz Patrícia Spada.
A mãe com pouca escolaridade,
mesmo mantendo um vínculo estreito com o filho, pode não interpretar corretamente os apelos do
filho. A primeira reação, quando a
criança chora, é dar mais comida.
Embora o estereótipo do "bebê
Johnson" já tenha diminuído no
seio das famílias, a criança gordinha continua sendo a idealizada.
Ainda prevalece a idéia de que
"criança de barriguinha cheia é
criança feliz". Essa tendência é
mais freqüente nas mães inseguras e entre aquelas que se sentem
culpadas por não estar o tempo
suficiente com o filho.
"A maioria das mães que ainda
adotam esse comportamento tem
problemas em casa, seja uma separação, a perda do emprego ou
de alguém próximo", diz a endocrinologista Sandra Vilares, do
Ambulatório de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas.
Cerca de 200 crianças estão sendo acompanhadas, e outras 300
aguardam na fila.
Nesse serviço, mãe e filho participam do tratamento. "É uma
condição muito importante para
que mãe e criança percam peso
juntas", diz Sandra Vilares.
Segundo Patrícia Spada, 95%
das crianças e adolescente obesos
o são por causas exógenas, ou seja, predisposição genética, hábitos alimentares incorretos, sedentarismo e ambiente familiar.
Entre os vários conselhos que
dão os especialistas, um deles é
que a mãe procure observar seu
comportamento e o de seu filho
com relação à alimentação. "Algumas mães não verificam seu
próprio peso e não conseguem
ver que seu filho está obeso", diz
Patrícia Spada.
A mãe também não deve subestimar a capacidade do filho de desenvolver soluções criativas para
seus problemas. Ao impedir que a
criança manifeste sua própria autonomia, ela dificulta ou distorce
a possibilidade de, aos poucos, a
criança vir a ser independente.
Outro cuidado é não responder
a qualquer solicitação com mais
alimentação. Nem usar a comida
como moeda de troca, por exemplo, oferecendo um sorvete se o filho se sair bem na escola ou comer a salada direitinho.
"É fundamental que a mãe auxilie o filho no contato das próprias
emoções por meio do diálogo e da
proximidade", diz a pesquisadora. Uma recomendação que ela
considera das mais importantes:
"Não há solução mágica para
emagrecer. É preciso paciência e
perseverança, de toda a família."
Lúcia Cristina Zanella, psicóloga
do grupo de endocrinologia do
HC, está ali para entender o que
há por trás do excesso de peso. "O
jovem hoje vive numa sociedade
que não lhe dá segurança, de um
consumismo compulsivo. Por isso tem sempre que comer", diz. A
ausência do pai ou dos pais faz
com que eles se sintam culpados e
tentem compensar oferecendo
mais comida. O jovem, por sua
vez, passa quase todo o tempo fora, comendo o que tem vontade.
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