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PATRIMÔNIO
Proprietário pretende fazer clube GLS em prédio histórico no centro do Rio, mas enfrenta oposição de ocupantes
Sem-teto e empresário disputam palacete
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Um casarão histórico na Lapa,
bairro boêmio do centro do Rio
de Janeiro, virou alvo de uma disputa entre cerca de 75 famílias
sem-teto que há anos ocupam o
local e um empresário que planeja
criar no local um clube GLS (para
gays, lésbicas e simpatizantes).
Chamado de palacete Bragança,
o prédio, em péssimo estado de
conservação, foi interditado pela
Defesa Civil do Município, que vê
ameaça de desabamento.
O casarão integra o corredor
cultural da capital fluminense,
um conjunto de 3.000 imóveis de
interesse histórico. Fica entre os
Arcos da Lapa e a sala de espetáculos Cecília Meirelles, em uma
região que, depois de ganhar fama
como um reduto da malandragem carioca, é atualmente um
ponto de jovens de classe média,
turistas e sambistas.
A Prefeitura do Rio de Janeiro
aponta oficialmente como proprietário cadastrado no registro
geral de imóveis o empresário
Nilton Pereira, 64, e já o notificou
pelo mau estado do prédio. Laudo
emitido pela Defesa Civil em 16 de
maio de 2003 aponta risco de desprendimento do revestimento e
da fachada, corrosão na estrutura
metálica, queda de reboco interno
e risco latente de desabamento.
O prédio pertencia à família de
Morais Dias de Oliveira, o visconde de Morais. O escritório do corredor cultural do Rio de Janeiro
afirma que o prédio é do fim do
século 19 e abrigou o Hotel Bragança, então um dos mais chiques
da cidade, que era freqüentado
pela alta sociedade carioca. O hotel funcionou até os anos 30 e, depois disso, os descendentes do
visconde alugaram os quartos para particulares.
O prédio tem hoje cinco pavimentos (térreo e quatro andares)
e duas torres. São 75 quartos, alguns com banheiro próprio e outros servidos por um banheiro coletivo no corredor.
"O conjunto arquitetônico dos
prédios históricos da área é do
chamado período eclético, da virada do século 19 para o 20, misturando vários estilos. O Bragança é
um dos mais bonitos e tem elementos do estilo neoclássico francês, como as torres", afirma o arquiteto Roberto Anderson Magalhães, responsável pelo projeto
Distrito Cultural da Lapa do Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural). De acordo com
ele, o instituto reconhece a propriedade privada do prédio.
Despejo
O empresário Nilton Pereira
afirma que comprou o palacete
em 1982 de uma herdeira do visconde e que o alugou para uma
empresa que planejava fazer no
local um estacionamento -o que
nunca aconteceu. Segundo o empresário, no ano seguinte, o prédio foi desapropriado pela prefeitura e depois devolvido.
Pereira disse que moverá uma
ação de despejo para retirar os
cerca de 250 moradores do edifício, recuperá-lo e construir o clube, orçado em US$ 9,5 milhões.
"Nunca cobrei aluguel deles porque não ia usar o prédio", afirma.
Pelo projeto -que ainda não
foi apresentado à prefeitura carioca-, a fachada seria preservada,
de acordo com a lei, mas o interior
sofreria modificações. Pereira
planeja chamar a petista Marta
Suplicy, prefeita de São Paulo e
autora do projeto de lei de união
civil homossexual, para ser madrinha do clube.
Os ocupantes do Bragança
questionam o direito de Pereira
sobre o palacete. O aposentado
Rubens Bahia, 58, representante
dos moradores, afirma que chegou ao prédio em 1981, quando
ainda pagava aluguel mensal.
Segundo os moradores, Pereira
teria feito uma permuta de outros
prédios seus na área com um antigo procurador da família Morais,
ficando em troca com uma parte
do palacete. Pelo relato dos moradores, Pereira teria comprado o
térreo do prédio, onde existe uma
loja, e não os quartos.
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