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Moradora guarda "recibo" da posse do quarto
DA SUCURSAL DO RIO
A vendedora ambulante Tânia
Maria de Souza, 46, ainda guarda
o recibo referente à "compra" da
posse do quarto 53 do palacete
Bragança. Pagou, em 1992,
Cr$ 1 milhão para morar no quartinho com sala anexa e um banheiro próprio.
Mesmo de fundos, sem a vista
do largo da Lapa, o quartinho era
um dos melhores do prédio. Lá
nasceu o segundo filho de Tânia,
Vianey Jr., hoje com nove anos.
Tânia mora com o garoto e a filha
mais velha, Débora, 28, formada
em serviço social e à procura de
emprego.
"Criei meus filhos aqui. Paguei
com sacrifício. Sei que é uma posse, mas não tenho para onde ir. Se
eu tiver de sair, vai ser horrível",
diz a vendedora.
Ela instalou uma caixa-d'água
no alto do quartinho -o pé-direito é de aproximadamente seis
metros-, conseguiu comprar geladeira, TV e som. Quando perdeu o emprego de costureira, a situação financeira piorou. Hoje,
ganha cerca de R$ 15 quando o dia
está bom e faz calor.
Quando ouve falar do risco de
desabamento do edifício, tem medo. "Fico receosa, principalmente
quando chove. Mas o que é que eu
posso fazer? Não tenho outro lugar para ir", diz.
Entre os moradores, há muitos
ambulantes, desempregados,
aposentados e gente sem profissão definida. Há também muitos
migrantes nordestinos.
Os moradores pagam cerca de
R$ 50 mensais a título de condomínio. O dinheiro é administrado
por uma comissão coordenada
pelo aposentado Rubens Bahia,
que atua como síndico do prédio.
O dinheiro do condomínio está
ajudando na recuperação da antiga escada de ferro, um dos orgulhos de Bahia. A obra não foi concluída, e a subida é feita por uma
escada de madeira estreita, com
degraus escorregadios.
Quando sobra dinheiro da carrocinha de cachorro-quente, Maria Cristina Fiais de Oliveira, 47,
ajuda no condomínio. Ela tem 13
filhos, dois morando com ela
num quartinho sem banheiro. Os
demais ficaram na Bahia. Cristina
e os filhos Leonardo, 2, e Odilon,
17, dormem divididos entre um
sofá e um colchonete no chão,
perto do fogão de duas bocas e do
botijão de gás. A geladeira, quebrada, serve como despensa.
Quando chegou ao Rio, Cristina
morou nas ruas da Lapa, pagou
diária a um amigo que vivia no
Bragança, brigou, saiu e, há dez
anos, acabou voltando, chamada
por outro amigo. "Ele disse que o
quarto estava livre, peguei a chave
e entrei. Não paguei nada. Se me
derem um lugar para ir, eu vou.
Mas para a rua não volto."
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