São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

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Número de visitantes no último semestre de 2003 caiu 80% em relação ao mesmo período de 2002; transporte é principal queixa

Falta de infra-estrutura faz turista abandonar Itaparica

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Abandonada pelos poderes públicos, sem infra-estrutura urbana e com um sistema de transporte deficiente e caro, a ilha de Itaparica, na Bahia, já não é considerada mais um dos principais pólos turísticos do Estado.
Nos últimos anos, o governo e a iniciativa privada direcionaram os seus investimentos para o litoral norte de Salvador, Porto Seguro e a Chapada Diamantina.
Formada por duas cidades (Itaparica e Vera Cruz), a ilha, com mais de 40 quilômetros de praia, sofreu uma redução de quase 80% no número de visitantes nos últimos seis meses de 2003, em comparação com igual período de 2002. "Visitar a ilha é um passeio muito caro", disse o secretário de Turismo de Itaparica, Ricardo Bandeira de Carvalho Pereira, 39.
A principal opção para a travessia Salvador/ilha é o sistema "ferryboat". Das cinco embarcações que funcionavam no verão passado, só três estavam à disposição dos usuários, há uma semana. "Estão matando a ilha aos poucos. Ninguém consegue agüentar ficar horas e horas esperando em uma fila", disse a comerciante Emília Martinez, 47.
Freqüentadora da ilha há mais de 15 anos, a comerciante tomou uma atitude radical -colocou à venda a sua casa. "Com o dinheiro, pretendo comprar uma residência em outra praia", disse ela.
O principal motivo apontado pelos turistas para trocar a ilha por outro local de lazer é o preço cobrado para a realização da travessia. Durante a semana, um carro pequeno paga R$ 23,35 apenas para ir ou voltar de Itaparica. Com o sistema de hora marcada, o custo passa para R$ 30,20.
Aos domingos e feriados, o turista ainda paga mais -R$ 32,50 (na fila) e R$ 42,10 (hora marcada). "Ninguém agüenta desembolsar tanto dinheiro para ver um lugar sujo, sem infra-estrutura e com praias que há muito tempo perderam os seus atrativos", disse a estudante Milene Rodrigues, 17.
Sem carro, um passageiro paga R$ 2,85 (dias úteis) para chegar ou voltar da ilha. Aos domingos e feriados, o preço sobe para R$ 3,75. Com hora marcada, o passageiro desembolsa R$ 3,50 (dias úteis) e R$ 4,65 (hora marcada).
Proprietário de uma pousada em Vera Cruz, Antonio Carlos Pereira, 50, disse que a ilha de Itaparica "perdeu competitividade". "Mas algumas ações têm sido realizadas para aquecer novamente o local", ressaltou.
Entre as ações que pretendem incentivar o retorno dos turistas à ilha, Pereira cita o mapeamento de 35 atrações culturais que foram recuperadas nos últimos dois anos. "Agora, os turistas têm à disposição passeios ecológicos, museus, cursos e muito divertimento", afirma ele.
Um projeto do governo federal também prevê o aporte de US$ 6,2 milhões para recuperar a ilha. "Sem obras, a tendência é a morte completa da ilha. Ainda resta um pouco de esperança. Então, nós vamos lutar para devolver à Bahia mais um paraíso turístico", disse Ricardo Pereira.
Além das belezas naturais, as construções históricas do interior da ilha revelam o importante papel de Itaparica ao longo da história brasileira. A igreja do Baiacu, por exemplo, datada de 1560, foi erguida pelos portugueses quando tentavam evangelizar os índios tupinambás, que habitavam o local. Hoje, a igreja está em ruínas. Outra importante igreja de Itaparica é a da Conceição. Localizada na praia de mesmo nome, ali funcionou o primeiro centro de troca de ouro do Brasil.



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