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Número de visitantes no último semestre de 2003 caiu 80% em relação ao mesmo período de 2002; transporte é principal queixa
Falta de infra-estrutura faz turista abandonar Itaparica
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Abandonada pelos poderes públicos, sem infra-estrutura urbana e com um sistema de transporte deficiente e caro, a ilha de Itaparica, na Bahia, já não é considerada mais um dos principais pólos
turísticos do Estado.
Nos últimos anos, o governo e a
iniciativa privada direcionaram
os seus investimentos para o litoral norte de Salvador, Porto Seguro e a Chapada Diamantina.
Formada por duas cidades (Itaparica e Vera Cruz), a ilha, com
mais de 40 quilômetros de praia,
sofreu uma redução de quase 80%
no número de visitantes nos últimos seis meses de 2003, em comparação com igual período de
2002. "Visitar a ilha é um passeio
muito caro", disse o secretário de
Turismo de Itaparica, Ricardo
Bandeira de Carvalho Pereira, 39.
A principal opção para a travessia Salvador/ilha é o sistema
"ferryboat". Das cinco embarcações que funcionavam no verão
passado, só três estavam à disposição dos usuários, há uma semana. "Estão matando a ilha aos
poucos. Ninguém consegue
agüentar ficar horas e horas esperando em uma fila", disse a comerciante Emília Martinez, 47.
Freqüentadora da ilha há mais
de 15 anos, a comerciante tomou
uma atitude radical -colocou à
venda a sua casa. "Com o dinheiro, pretendo comprar uma residência em outra praia", disse ela.
O principal motivo apontado
pelos turistas para trocar a ilha
por outro local de lazer é o preço
cobrado para a realização da travessia. Durante a semana, um carro pequeno paga R$ 23,35 apenas
para ir ou voltar de Itaparica.
Com o sistema de hora marcada,
o custo passa para R$ 30,20.
Aos domingos e feriados, o turista ainda paga mais -R$ 32,50
(na fila) e R$ 42,10 (hora marcada). "Ninguém agüenta desembolsar tanto dinheiro para ver um
lugar sujo, sem infra-estrutura e
com praias que há muito tempo
perderam os seus atrativos", disse
a estudante Milene Rodrigues, 17.
Sem carro, um passageiro paga
R$ 2,85 (dias úteis) para chegar ou
voltar da ilha. Aos domingos e feriados, o preço sobe para R$ 3,75.
Com hora marcada, o passageiro
desembolsa R$ 3,50 (dias úteis) e
R$ 4,65 (hora marcada).
Proprietário de uma pousada
em Vera Cruz, Antonio Carlos Pereira, 50, disse que a ilha de Itaparica "perdeu competitividade".
"Mas algumas ações têm sido realizadas para aquecer novamente o
local", ressaltou.
Entre as ações que pretendem
incentivar o retorno dos turistas à
ilha, Pereira cita o mapeamento
de 35 atrações culturais que foram
recuperadas nos últimos dois
anos. "Agora, os turistas têm à
disposição passeios ecológicos,
museus, cursos e muito divertimento", afirma ele.
Um projeto do governo federal
também prevê o aporte de US$ 6,2
milhões para recuperar a ilha.
"Sem obras, a tendência é a morte
completa da ilha. Ainda resta um
pouco de esperança. Então, nós
vamos lutar para devolver à Bahia
mais um paraíso turístico", disse
Ricardo Pereira.
Além das belezas naturais, as
construções históricas do interior
da ilha revelam o importante papel de Itaparica ao longo da história brasileira. A igreja do Baiacu,
por exemplo, datada de 1560, foi
erguida pelos portugueses quando tentavam evangelizar os índios
tupinambás, que habitavam o local. Hoje, a igreja está em ruínas.
Outra importante igreja de Itaparica é a da Conceição. Localizada
na praia de mesmo nome, ali funcionou o primeiro centro de troca
de ouro do Brasil.
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