São Paulo, quarta-feira, 07 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GILBERTO DIMENSTEIN

Casal conectado

Julio, inspirado em seus conhecimentos médicos, decidiu criar um mouse ortopédico. A mulher o apoiou

A VIDA DO cirurgião argentino Julio Seggalle desabou quando sua mulher morreu. Sua especialidade, em Buenos Aires, era operar vítimas de traumas em prontos-socorros. Teria de reinventar-se para cuidar de sua filha pequena, tantas vezes era acionado para emergências, muitas das quais de madrugada.
"Não sabia nem por onde começar. Só sabia que eu precisava mudar meu ritmo." Passado o luto, a paixão por uma brasileira fez com que ele encontrasse mais tempo em casa, próximo da filha - e se transformasse em inventor. Viúvo, Julio veio de férias com a filha para o Brasil, onde se apaixonou pela engenheira Marta Fuess, especializada em marketing e informática. Ficaram um bom tempo na ponte aérea entre São Paulo e Buenos Aires."Era muito cansativo", ele conta. A situação econômica na Argentina, naqueles anos de 1990, estava difícil, levando-o a optar por São Paulo, à espera da revalidação de seu diploma de médico, um tortuoso processo burocrático.
Como ficava muito tempo em casa, Julio ganhou de Marta um computador conectado à internet. Começou a sentir dores no braço direito. "Foi aí que começou uma espécie de febre", afirma o médico.

 
Desde então ele se fixou na idéia, inspirada em seus conhecimentos médicos, de criar um mouse ortopédico. Marta apostou nos sonhos do marido, resolveu assumir o papel de provedora e estimulou-o a se dedicar à invenção. "Sempre acreditei no sonho dele." O caminho não tem sido fácil.
O protótipo do mouse foi levado para grandes empresas americanas de informática. Mas achavam que o produto deveria ter um design mais atraente. As modificações, na opinião do médico, iriam afetar o aspecto terapêutico. Não teve negócio. Um grande grupo de informática brasileiro se interessou pela idéia e emprestou uma sala para que Julio desenvolvesse sua descoberta para ser comercializada. Tudo parecia ir bem. Até que a empresa foi vendida e o mouse, arquivado. "Neste momento, eu fraquejei e caí em depressão", lembra Julio.
Marta fez com que ele não desistisse e, com seus conhecimentos de contratos, ajudou o marido a ganhar todos os direitos pelo produto, patenteado na Europa e nos Estados Unidos. "Já tínhamos até recebido prêmios internacionais de saúde no trabalho", diz Julio.
 

Depois de todas essas frustrações, foram feitas novas parcerias. O casal aposta que, em breve, começarão a vender as primeiras unidades dos mouses ortopédicos. Independentemente da aceitação do mercado (mais uma incógnita), eles souberam se manter conectados - e ela, nesta semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, é daqueles casos de mulheres que aprenderam a se reinventar.

gdimen@uol.com.br


Texto Anterior: Ação em favelas é necessária, diz secretário
Próximo Texto: A cidade é sua: Tráfego de caminhões dificulta vida de moradores da zona sul
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.