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EVENTO FOLHA/ MAIORIDADE PENAL
Sem acordo sobre maioridade penal, debatedores defendem mudanças
Não há acordo, por menor que seja, sobre a redução da maioridade penal entre representantes de três das principais forças políticas do país. Há, no entanto, um ponto em comum: todos concordam que do jeito que está não dá mais.
As divergências -e a micro concordância- foram a tônica do
debate realizado anteontem à noite pela Folha com o secretário
da Justiça do governo paulista, o advogado Luiz Antonio Marrey
Filho, com o chefe da Casa Civil do governo do Rio, o também advogado Regis Fichtner, e o prefeito de São Carlos, o engenheiro
químico Newton Lima Neto. Marrey Filho vocalizava a proposta
do PSDB, Fichtner, a do PMDB, e Lima Neto, a do PT.
Emancipação do infrator aos 16 anos, maior tempo de internação e legislações penais estaduais foram propostas
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, passou a
defender a redução da maioridade penal após o assassinato
brutal do menino João Hélio,
aos seis anos. Um dos cinco
acusados de o arrastarem de
carro por mais de sete quilômetros, no dia 7 de fevereiro, tem
16 anos.
Fichtner foi o representante
solitário da redução da maioridade penal dos 18 para os 16
anos. Sua justificativa é que o
jovem mudou: "Não há dúvida
de que na sociedade moderna
está havendo um amadurecimento precoce das nossas
crianças. O jovem de 16 anos
hoje é o mesmo jovem de 50
anos atrás, quando foi criada
essa maioridade penal? A mim
parece que não", afirmou.
Ele defendeu também que os
Estados possam criar legislações penais próprias, de acordo
com suas particularidades
-hoje esse tipo de lei é federal.
Ele considera a atual legislação excessivamente paternalista para com os adolescentes:
"Sempre que você protege demais uma comunidade, você
acaba a prejudicando. Adolescentes são recrutados pelo tráfico para praticar os piores
atos", afirmou.
O chefe da Casa Civil do Rio
propôs o que chamou de "transição" para a redução da maioridade: o juiz poderia emancipar um adolescente de 16 anos
quando ele cometer um crime
hediondo. Defendeu também
mudanças na progressão da pena. Hoje, um adolescente que
cometeu um ato infracional pode ser solto após cumprir 1/6 da
pena. Fichtner defende que a
progressão só ocorra após o
cumprimento de 1/3 da pena.
Lima Neto apresentou uma
proposta que é a antípoda da
defendida pelo governador do
Rio de Janeiro: quer a aplicação
integral do ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente), negligenciado hoje pelas prefeituras e governos estaduais, na
avaliação dele.
"É preciso dar aos adolescentes um Estado de bem-estar social. As políticas públicas precisam ser postas em prática, na
direção de disputar o jovem carente em relação à sedução
posta pelo tráfico de drogas."
O prefeito de São Carlos expôs dados para tentar provar
que a aplicação integral do ECA
dá resultados a curto prazo. Até
o ano de 2000, de acordo com
ele, São Carlos enviava 35 adolescentes para serem internados na Febem, atual Fundação
Casa. Entre 2001 e 2006, esse
número caiu para sete por ano,
segundo ele.
Em 2007, o número de internos saltou para 15 por conta dos
ataques a ônibus feitos pelo
PCC (Primeiro Comando da
Capital) no ano passado, ainda
de acordo com o prefeito.
A cidade tinha no ano passado uma população estimada em
218.702 habitantes, segundo o
IBGE. São Carlos é uma cidade
tranqüila, segundo o Mapa da
Violência divulgado na semana
passada: ela ocupa a posição de
número 1.563 no ranking nacional de homicídios, com
5.560 municípios. No Estado,
está no 182º lugar.
Outro dado positivo apresentado por Lima Neto aponta que
a reincidência em São Carlos é
de 4% (segundo pesquisa da
Universidade Federal de São
Carlos), enquanto na Febem
essa taxa atinge 29%.
O prefeito disse que é um
equívoco mudar a lei para tratar a exceção (os adolescentes
mais violentos). Os homicídios
praticados por jovens variam
de 1% a 3%, segundo Lima Neto. A aplicação da lei penal a
partir dos 16 anos, na visão dele, traria um efeito contrário ao
pretendido por aqueles que defendem essa medida.
"A redução vai trazer mais vigor para o crime. O crime vai
recrutar jovens abaixo de 16
anos. O ingresso no sistema penal vai elevar a profissionalização do adolescente no crime." A
reincidência também aumentaria, disse o prefeito petista.
Marrey Filho é contrário à
redução da maioridade penal,
defende a aplicação do Estatuto
da Criança e do Adolescente,
mas acha que a legislação foi
omissa sobre os adolescentes
mais violentos. "Temos de criar
redes de proteção, cumprir o
ECA, mas em alguns casos é
preciso aumentar a internação", defendeu. "Temos adolescentes violentos que não podem ser jogados na rua, numa
posição cômoda do Estado".
O secretário da Justiça defende a internação dos mais
violentos para até dez anos -o
limite hoje é três anos. Citou
dois exemplos: o dos assassinos
do menino João Hélio e Champinha, o adolescente que matou
um casal de jovens, depois de
ter estuprado a garota.
Segundo Marrey Filho, o aumento da internação para dez
anos não é inconstitucional
porque hoje um rapaz pode ser
solto aos 21 anos -basta que ele
cometa o ato infracional às vésperas de completar 18 anos.
Ele elogiou o programa aplicado pela Prefeitura de São
Carlos, mas não o considera
uma panacéia. Quis saber do
prefeito o que ele faria com
Champinha. "Toda vez que trabalhamos com exceção, a gente
erra na regra. Champinha não é
a regra. O rapaz do Rio também
não. Se a gente for legislar por
aí, a coisa complica", rebateu
Lima Neto.
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