São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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MEC vai investigar curso que aprovou garoto

Ministro da Educação diz que intensificará fiscalização nos cursos de direito e que pretende fechar cerca de 14 mil vagas

João Victor, 8, aprovado em direito na Unip, foi barrado na porta da universidade; apesar de ter pago R$ 500, direção diz que ele não está matriculado

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA

O ministro Fernando Haddad (Educação) afirmou ontem que vai investigar o processo seletivo da Unip (Universidade Paulista) em Goiânia, depois que um menino de oito anos foi aprovado no vestibular da instituição. Haddad classificou como "preocupante" a aprovação do garoto, segundo informações repassadas pela assessoria de imprensa do ministério.
"Li a notícia com muita preocupação. Vamos requisitar o material do vestibular para verificar se os critérios são compatíveis com a excelência de ensino", disse.
O ministro disse ainda que pretende aumentar a fiscalização sobre cursos de direito que têm nível insatisfatório de ensino. "Já fechamos 6.000 vagas de instituições em situação crítica e queremos chegar a 14 mil ou 15 mil. No passado, se entendia que o mercado regularia o setor. Nosso entendimento é que o Estado precisa avaliá-lo e regulá-lo", disse.
Ontem, João Victor Portellinha, 8, foi barrado ao tentar entrar na Unip, acompanhado do pai. O garoto, que cursa a quinta série, foi à faculdade para assistir experimentalmente a uma aula e "conhecer as instalações", segundo o pai, Willian Ribeiro, 42. Mas foi impedido de entrar por seguranças.

Críticas
A aprovação do menino no vestibular gerou críticas tanto do Ministério da Educação como da seção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Goiás. A família tenta garantir que ele ingresse no curso.
A Unip diz que não há como. Segundo a universidade, o pai da criança pagou o boleto de matrícula, o que não garante o ingresso do aluno na faculdade. Agora, a faculdade diz que, para formalizar a inscrição, é preciso documentação que o garoto não possui, como comprovante de conclusão do ensino médio. A Unip diz que vai devolver os mais de R$ 500 já pagos.
A direção da instituição afirma que não permitiu a entrada do garoto ontem justamente porque ele não está formalmente matriculado. A família, porém, afirma que já assinou contrato de inscrição.
O menino fez as provas na sexta-feira da semana passada. O exame havia sido agendado na sede da Unip. O resultado foi divulgado na última segunda.
O garoto diz que conseguiu a aprovação apesar de não ter estudado matemática, química e física. Em nota, a Unip elogia a redação feita pelo garoto, considerado "com boa capacidade de expressão". Mas se recusa a apresentá-la aos jornalistas.

Preparo
Empresário do ramo de medicamentos, o pai diz que o menino é preparado para cursar direito, apesar da idade. "Essa meninada de hoje é evoluída. Tem promotor de Justiça com 18 anos." Ele também estuda direito na Unip em Goiânia.
O garoto e o pai vêm a São Paulo hoje para discutir a matrícula com a direção nacional da universidade. A família estuda entrar na Justiça para assegurar o ingresso de João Victor na faculdade. Ele diz sonhar em ser "juiz federal" e afirma que pretende continuar os estudos no ensino fundamental à tarde e cursar a faculdade de manhã.


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