São Paulo, segunda-feira, 07 de março de 2011

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BATICUM

DANUZA LEÃO

Longa vida aos blocos

AS BANDAS são o que há de mais democrático e divertido no Carnaval.
No sábado, Ipanema foi ocupada por uma gente colorida que usava boás de plumas rosa choque, colares de havaiana, perucas de ráfia, às vezes tudo ao mesmo tempo -as mulheres, e os homens também. Para sair atrás da banda, ou só para passear no bairro.
A banda está sofisticada. No meio da animação, um vendedor oferecia doses de tequila José Cuervo (R$ 10 a dose), servida em copinhos plásticos, de cafezinho.
Outro levava objetos eróticos, fundamentais depois de uma tarde tão excitante, enquanto um alegre folião, de coleira e máscara de cachorro, andava de quatro, mordendo as pernas das mulheres -com direito a "au, au"- , e sendo chicoteado por sua acompanhante. Como as músicas são antigas, todo mundo conhece as letras e canta.
Rola muita grana, mas muita grana mesmo, nos desfiles das escolas, nos bailes, nos trios elétricos de Salvador, nas feijoadas, e quanto mais famosos forem (pagos), melhor. Já ninguém organiza bandas e blocos pensando em ganhar dinheiro; para sair cantando e dançando, não é preciso nem de patrocínio, nem de apoio cultural.
Que as autoridades não inventem um choque de ordem nas bandas. O sambódromo foi feito com a melhor das intenções, mas samba que é samba mesmo, esse acabou. Como as arquibancadas são altas, e não dá para ver os pés dos passistas, eles não sambam mais, só desfilam.
A gente sabe que o tempo passa, as coisas mudam, mas deixem as bandas; é só nelas que as pessoas podem se divertir ao ar livre, num cenário já pronto, e sem gastar nada.
Nas bandas tem velho, moço, criança de colo, todos os sexos convivem harmoniosamente, não pinta briga nem assalto e, a qualquer hora, é só atravessar a rua e dar um mergulho, tem melhor?
As escolas parecem quartel, tal a disciplina; já os blocos são livres, cada um se veste como quer, dança como quer, pelo tempo que quer, e bebe a cerveja que quer. Se incomodam aos mal-humorados, que cada um ponha um chumacinho de algodão nos ouvidos até a banda acabar de passar, e deixem as pessoas se divertirem em paz.


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