São Paulo, quinta-feira, 07 de abril de 2005

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MASSACRE NA BAIXADA

Carro semelhante ao de autores da chacina foi emprestado a soldado duas horas antes da matança

Gol apreendido reforça suspeita contra PMs

MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Polícia Civil apreendeu anteontem à noite o Gol prata que, segundo testemunhas, foi usado pelos autores da chacina de 30 pessoas em Nova Iguaçu e Queimados (Baixada Fluminense, região metropolitana do Estado do Rio), na quinta-feira passada.
A apreensão reforça a suspeita de que policiais militares foram os autores da matança. O carro estava emprestado ao soldado Carlos Jorge Carvalho, um dos acusados.
O Gol pertence ao comerciante Marcos Antônio dos Santos Carneiro. Estava parado no centro de Belford Roxo (outro município da Baixada). Os policiais encarregados das investigações chegaram a ele a partir de informação passada pelo serviço Disque-Denúncia.
Interrogado na Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, Carneiro disse que havia cedido o carro a Carvalho, policial do 20º Batalhão da PM, em Mesquita, também na Baixada. Carneiro e Carvalho são amigos de infância, segundo a polícia.
O comerciante afirmou que Carvalho havia pedido o carro para ir até a Barra de São João (litoral norte do Estado), onde os dois estão construindo casas.
Segundo o depoimento de Carneiro, o carro, de placas KND-4208, foi emprestado ao soldado às 19h de quinta, cerca de duas horas antes do início da matança. Ele disse ainda que Carvalho devolveu o Gol na manhã seguinte.
A perícia realizada pelo ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) constatou que o lacre da placa do carro estava violado. A descoberta pode indicar que, para realizar a chacina, seus autores trocaram ou retiraram a placa. Até o início da noite a perícia não havia terminado.
Foram encontradas três cápsulas calibre ponto 40 deflagradas. Para o diretor da Polícia Técnica do Rio, Roger Ancillotti, a descoberta indica que foram feitos disparos de dentro do carro. Também foi localizado um chip de telefone celular ou radiotransmissor, que pode armazenar informações sobre contatos recentes dos usuários.
O comerciante dono do carro não foi indiciado pela polícia como envolvido no massacre. A princípio, os policiais incumbidos da investigação acreditam na versão de Carneiro.
Carvalho e mais cinco PMs estão presos por 30 dias, de acordo com decisão da Justiça. Ele foi reconhecido por uma testemunha como um dos homens que atirou contra quatro vítimas em um lava-a-jato em Queimados.

Karaokê
As investigações da Polícia Civil indicam que, antes de partirem para a matança, os acusados beberam e cantaram no karaokê de uma venda em Belford Roxo, pertencente à ex-sogra de Carvalho, identificada como Vânia. Ela disse ontem que não lembra de ter visto o grupo no local na quinta e elogiou o ex-genro: "Ele é um rapaz muito bom. Adora crianças. Jamais faria uma coisa dessas".
Para tentar obter a prisão temporária de quatro PMs que estão detidos administrativamente e são investigados por suposta participação na chacina, a Polícia Civil montou dossiês com base em acusações feitas ao Disque-Denúncia. Os dossiês relacionam casos de extorsões e homicídios em que os PMs estariam envolvidos. O objetivo da polícia é convencer a Justiça da periculosidade dos acusados. Até o início da noite, a Justiça não havia se manifestado sobre o pedido. A polícia afirmou que os quatro suspeitos estavam detidos até a conclusão desta edição, à espera da definição judicial.

Detector de metais
No início da tarde, uma equipe da Drae (Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos) da Polícia Civil vasculhou uma propriedade de 2.500 m2 pertencente ao soldado Carvalho.
Com um detector de metais emprestado pelo Exército e capaz de localizar armas enterradas a até cinco metros de profundidade, os policiais procuravam pistolas que teriam sido usadas pelos matadores da Baixada Fluminense.
Ao final da vistoria, o delegado Carlos Oliveira disse que nada foi localizado. O terreno fica em frente à casa de Carvalho, em Belford Roxo. Anteontem, foi apreendido no local um Gol preto com a placa clonada. O carro estava sendo usado pelo PM, que foi indiciado pelo crime de receptação de produto de roubo.


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