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REDUTO DO CRACK
Usuários de droga evitam área policiada dia e noite e ocupam praça a três quarteirões de distância
Cracolândia resiste, agora em novo endereço
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Há, em São Paulo, uma nova
"cracolândia". Enquanto a região
antes conhecida por esse nome
encontra-se sitiada por cerca de
70 policiais que se revezam na
ronda local diariamente, a três
quarteirões dali, no escuro da praça Júlio Prestes, toda noite cintilam pequenas faíscas.
Faíscas que viram fogo, queimam pedrinhas brancas e produzem uma fumaça aspirada em cachimbos improvisados, que passam de mão em mão entre homens, mulheres e crianças.
A polícia chega. Os nóias (nome
dado aos usuários de crack) fogem. A polícia sai. Os nóias voltam. E seguem assim madrugada
adentro, numa espécie de brincadeira de gato e rato.
A Operação Limpa -ofensiva
policial promovida no início de
março pela administração de José
Serra como instrumento de revitalização da região conhecida como "cracolândia"- apenas mudou de endereço o cenário degrado que pretendia combater.
A nova "cracolândia" de São
Paulo se encerra entre a avenida
Duque de Caxias, a alameda Glete
e as ruas Cleveland e Dino Bueno.
A concentração de usuários de
crack, que deram o apelido à região, migraram da rua General
Couto de Magalhães para a praça
Júlio Prestes. E ali permanecem, a
menos de cem metros de uma das
bases policiais instaladas na praça
durante a operação.
"O bagulho ficou embaçado",
dizia um usuário de 15 anos -e
estatura de uma criança de dez-,
enrolado em um cobertor.
Na madrugada de ontem, no
bar localizado na esquina da praça Júlio Prestes com a avenida
Duque de Caxias, o vai-e-vem de
nóias era frenético. Caminhavam
de uma rua para outra atrás de
trocados para comprar pedras.
Nessa esquina, dois travestis tiravam dos bolsos mãos cheias de
moedas de R$ 0,10 e R$ 0,25. No
total, haviam reunido pouco mais
de R$ 6. "Você troca pra gente?",
perguntou um deles à reportagem
da Folha -que passou a noite rodando a região. "Eles não aceitam
moeda como pagamento. Moeda
faz barulho nos bolsos e é mais difícil de esconder da polícia."
Pouco depois, uma nova abordagem. "Você compra prata?",
perguntou um nóia, exibindo, enterrado até a metade do dedo
mindinho, um anel prateado.
Com a redução do número de
prostitutas e de traficantes e o fechamento de hotéis, a circulação
de dinheiro diminuiu na região. E
os nóias se viram como podem.
"Fizeram essa palhaçada toda
só para aparecer na TV. É tudo 171
[estelionato]. Fazem onda e, depois, colocam todo mundo de
volta na rua", reclama Jurandir
Gregório, 59, comerciante cercado pela "nova cracolândia". "Os
pilantras saíram de lá e vieram todos para cá. Os nóias precisam de
tratamento, não de polícia."
Na semana da Operação Limpa,
496 crianças foram encaminhadas para casas de acolhida. Uma
semana depois, 414 já estavam de
volta às ruas. O restante permaneceu no sistema.
Os comerciantes da antiga cracolândia, no entanto, comemoram a mudança. "Tudo ficou melhor aqui. A freqüência, a limpeza,
a segurança, tudo", diz o balconista Claudemir de Souza.
"Passo lá toda madrugada. As
ruas estão limpas, o lixo está sendo retirado. Você não vê mais
gente nas ruas fumando crack",
comemora o subprefeito da Sé,
Andrea Matarazzo. E quanto à
nova cracolândia? "É o caos. Parece Bagdá dez minutos depois de
os americanos terem passado por
lá. Vamos começar a promover
ações sociais para as prostitutas e
usuários de drogas de lá", diz.
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