São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2010

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Deslizamentos provocam maioria das mortes

Precipitação de 288 mm (equivalente a 288 litros em 1 m2) em um dia foi a maior já registrada na capital fluminense

Com 14 mortes, morro dos Prazeres concentrou esforços dos bombeiros; chuva recorde interditou aeroporto e estações de trem

DA SUCURSAL DO RIO

A chuva que matou ontem ao menos 96 pessoas e parou a região metropolitana do Rio foi a maior já registrada na história da cidade. Num intervalo de 24 horas, choveu 62% mais que a média de todo o mês de abril.
As mortes na capital (37) e em Niterói (49) ocorreram na maior parte dos casos em razão de deslizamentos em favelas das duas cidades, mas houve mortes por afogamento e desabamento de casas.
O morro dos Prazeres, em Santa Teresa (zona central), concentrou os esforços dos bombeiros e o drama das vítimas dos deslizamentos. Houve 14 mortes no local e, até a conclusão desta edição, sobreviventes eram resgatados.
Os 288 mm (o equivalente a 288 litros por metro quadrado) de chuva média no período de um dia superou as marcas de tragédias anteriores semelhantes ocorridas na cidade, como as que aconteceram em 1996 (245 mm em 24h), 1988 (230 mm) e 1966 (201 mm). A média dos últimos sete anos para o mês de abril foi de 177 mm.

Isolamento
As águas pararam a cidade. Empresas e repartições públicas liberaram seus funcionários, mas as pessoas acabavam presas no trânsito, sem conseguir chegar em casa.
As aulas de ontem e hoje nas redes municipal e estadual foram canceladas.
A Supervia, que opera os trens do Estado para 500 mil passageiros diários, informou que as cinco estações mais próximas do centro foram fechadas em razão da chuva. A ponte Rio-Niterói, por onde passam diariamente 75 mil carros, fechou por duas horas por questões de segurança. Faltou luz em 13 bairros.
No centro, cena de feriado: avenidas usualmente congestionadas como a Rio Branco e a Presidente Vargas estavam desertas, pela dificuldade de acesso. O aeroporto Santos Dumont fechou por duas horas e meia. Inaugurações com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram canceladas.
O prefeito Eduardo Paes exortou os moradores próximos a encostas, seja área de risco ou não, a deixarem suas casas -embora não indicasse que locais poderiam recebê-los.
A cidade sofreu com a chuva desde as 17h de segunda até as 10h de ontem. Houve interrupções e volta ao longo do dia.
De acordo com o secretário de Conservação, Carlos Roberto Osório, os alagamentos foram agravados pelos sacos de lixo colocados na rua aguardando o recolhimento.
"A grande quantidade de chuva se deu na hora da coleta de lixo. Isso agravou a situação. O morador já havia colocado o lixo na rua à tarde e veio a chuva, o lixo boiou e a Comlurb não conseguiu passar para retirar", disse Osório.
Para Eduardo Paes, a cidade sofre de "ineficiências e problemas estruturais conhecidos e ainda não resolvidos". Mas o prefeito afirmou que nenhum planejamento seria suficiente para o volume de chuva que caiu no período.
"Não há galeria pluvial limpa que resista a essa quantidade de chuvas", disse ele.
Segundo a prefeitura, há 10 mil pessoas morando em áreas de risco. Mas a Defesa Civil afirma que parte das mortes ocorreu em áreas não mapeadas. "Com o volume de chuva que caiu, qualquer área de encosta é de risco", disse o subsecretário municipal de Defesa Civil, Sérgio Simões.
O governador Sérgio Cabral Filho atribuiu as mortes à ocupação irregular de encostas.
"Estamos enfrentando isso porque houve permissividade para ocupação de áreas de risco. Por isso, quando estabelecemos os muros nas comunidades e colocamos recursos, era exatamente para impedir tragédias como essa."

Lagoa Rodrigo de Freitas
A lagoa Rodrigo de Freitas transbordou e invadiu parte da rua Epitácio Pessoa. Um quiosque ficou quase totalmente encoberto pela água. Pedalinhos que estavam presos a um cais acabaram se soltando e quase invadiram a rua.
O guardador de carros João Fernandes conta que recolheu quatro placas de carros que encontrou boiando nas redondezas. A região tem sofrido com alagamentos.
A zona sul do Rio, onde estão os bairros nobres, amanheceu praticamente deserta ontem. Com acessos alagados ou interditados, poucos veículos conseguiam chegar à região, sempre engarrafada em dias normais.
Muitas lojas nem abriram. Poucos funcionários e poucos clientes andavam pelas ruas.
(ITALO NOGUEIRA, DENISE MENCHEN e RAPHAEL GOMIDE)


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