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Deslizamentos provocam maioria das mortes
Precipitação de 288 mm (equivalente a 288 litros em 1 m2) em um dia foi a maior já registrada na capital fluminense
Com 14 mortes, morro dos Prazeres concentrou esforços dos bombeiros; chuva recorde interditou aeroporto e estações de trem
DA SUCURSAL DO RIO
A chuva que matou ontem ao
menos 96 pessoas e parou a região metropolitana do Rio foi a
maior já registrada na história
da cidade. Num intervalo de 24
horas, choveu 62% mais que a
média de todo o mês de abril.
As mortes na capital (37) e
em Niterói (49) ocorreram na
maior parte dos casos em razão
de deslizamentos em favelas
das duas cidades, mas houve
mortes por afogamento e desabamento de casas.
O morro dos Prazeres, em
Santa Teresa (zona central),
concentrou os esforços dos
bombeiros e o drama das vítimas dos deslizamentos. Houve
14 mortes no local e, até a conclusão desta edição, sobreviventes eram resgatados.
Os 288 mm (o equivalente a
288 litros por metro quadrado)
de chuva média no período de
um dia superou as marcas de
tragédias anteriores semelhantes ocorridas na cidade, como
as que aconteceram em 1996
(245 mm em 24h), 1988 (230
mm) e 1966 (201 mm). A média
dos últimos sete anos para o
mês de abril foi de 177 mm.
Isolamento
As águas pararam a cidade.
Empresas e repartições públicas liberaram seus funcionários, mas as pessoas acabavam
presas no trânsito, sem conseguir chegar em casa.
As aulas de ontem e hoje nas
redes municipal e estadual foram canceladas.
A Supervia, que opera os
trens do Estado para 500 mil
passageiros diários, informou
que as cinco estações mais próximas do centro foram fechadas em razão da chuva. A ponte
Rio-Niterói, por onde passam
diariamente 75 mil carros, fechou por duas horas por questões de segurança. Faltou luz
em 13 bairros.
No centro, cena de feriado:
avenidas usualmente congestionadas como a Rio Branco e a
Presidente Vargas estavam desertas, pela dificuldade de acesso. O aeroporto Santos Dumont
fechou por duas horas e meia.
Inaugurações com a presença
do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva foram canceladas.
O prefeito Eduardo Paes
exortou os moradores próximos a encostas, seja área de risco ou não, a deixarem suas casas -embora não indicasse que
locais poderiam recebê-los.
A cidade sofreu com a chuva
desde as 17h de segunda até as
10h de ontem. Houve interrupções e volta ao longo do dia.
De acordo com o secretário
de Conservação, Carlos Roberto Osório, os alagamentos foram agravados pelos sacos de lixo colocados na rua aguardando o recolhimento.
"A grande quantidade de
chuva se deu na hora da coleta
de lixo. Isso agravou a situação.
O morador já havia colocado o
lixo na rua à tarde e veio a chuva, o lixo boiou e a Comlurb não
conseguiu passar para retirar",
disse Osório.
Para Eduardo Paes, a cidade
sofre de "ineficiências e problemas estruturais conhecidos e
ainda não resolvidos". Mas o
prefeito afirmou que nenhum
planejamento seria suficiente
para o volume de chuva que
caiu no período.
"Não há galeria pluvial limpa
que resista a essa quantidade
de chuvas", disse ele.
Segundo a prefeitura, há 10
mil pessoas morando em áreas
de risco. Mas a Defesa Civil
afirma que parte das mortes
ocorreu em áreas não mapeadas. "Com o volume de chuva
que caiu, qualquer área de encosta é de risco", disse o subsecretário municipal de Defesa
Civil, Sérgio Simões.
O governador Sérgio Cabral
Filho atribuiu as mortes à ocupação irregular de encostas.
"Estamos enfrentando isso
porque houve permissividade
para ocupação de áreas de risco. Por isso, quando estabelecemos os muros nas comunidades e colocamos recursos, era
exatamente para impedir tragédias como essa."
Lagoa Rodrigo de Freitas
A lagoa Rodrigo de Freitas
transbordou e invadiu parte da
rua Epitácio Pessoa. Um quiosque ficou quase totalmente encoberto pela água. Pedalinhos
que estavam presos a um cais
acabaram se soltando e quase
invadiram a rua.
O guardador de carros João
Fernandes conta que recolheu
quatro placas de carros que encontrou boiando nas redondezas. A região tem sofrido com
alagamentos.
A zona sul do Rio, onde estão
os bairros nobres, amanheceu
praticamente deserta ontem.
Com acessos alagados ou interditados, poucos veículos conseguiam chegar à região, sempre
engarrafada em dias normais.
Muitas lojas nem abriram.
Poucos funcionários e poucos
clientes andavam pelas ruas.
(ITALO NOGUEIRA, DENISE MENCHEN e RAPHAEL GOMIDE)
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