São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2010

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GILBERTO DIMENSTEIN

Câncer na internet


A aposta é que uma rede aplicada à saúde consiga salvar muitas ou aumentar a sobrevida de pacientes

O ENGENHEIRO Marcelo Zuffo transformou o combate ao câncer num desafio profissional e pessoal.
Na semana passada, o projeto que ele ajudou a desenvolver atingiu a marca dos 800 mil cadastros de pacientes com câncer em São Paulo, todos reunidos em um banco de dados que propicia a troca de informações entre médicos e pesquisadores. "É como se fosse um laboratório de combate ao câncer espalhado por todos os lados", resume.
A razão profissional de Zuffo: no final da década de 1990, foi à Inglaterra para estudar sobre o uso da informática na saúde pública. A razão pessoal: sua irmã, Patrícia, estava com câncer. Um médico que a tratava disse a Marcelo que seria mais fácil se, como nos Estados Unidos, houvesse no país uma rede de troca de informações em tempo real.

 

O envolvimento de Zuffo e de um grupo de engenheiros da Poli (Escola Politécnica da USP), entre os quais Adilson Hyra, um dos pioneiros da iniciativa, foi disparado pela constatação de que quase todas as crianças que vinham a São Paulo para tratar um câncer morriam. Isso porque elas não recebiam o tratamento adequado em suas cidades, na maioria das quais faltam especialistas. Numa parceria com a Faculdade de Medicina da USP e com seu departamento de pediatria, projetou-se a criação de um site em que se registrariam os casos de câncer infantil. Os pacientes poderiam ser ajudados a distância -o projeto, que envolve 16 Estados brasileiros (www.oncopediatria.org.br), agora é gerido pela Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica. "Uma ideia foi puxando outra", conta Zuffo.

 

O Laboratório de Sistemas Integráveis da USP, ligado à Poli, começou a desenvolver um software para gerar um banco de dados sobre todos os tipos de tumor e ali surgiu a perspectiva de fazer esse laboratório colaborativo contra o câncer, sustentado em redes virtuais.
"Queríamos, em poucas palavras, que se pudesse trocar conhecimento e, com isso, permitir descobertas." Graças a esse banco, é possível saber, por exemplo, se pessoas que moram em certo bairro desenvolvem determinado tipo de tumor.
Na semana passada, o número de registros cravou a marca dos 800 mil, mas o grupo de saúde digital da Poli imagina que possa ir muito mais longe: quer esse banco de dados em todo o país.

 

A aposta, baseada em estudos internacionais, é que a montagem da rede de informação aplicada à saúde consiga salvar muitas vidas ou aumentar a sobrevida de muitos pacientes -e essa é uma das forças da internet. No caso de Patrícia, irmã de Marcelo Zuffo, a iniciativa ajudou na cura. "Acabei ganhando dois sobrinhos."

gdimen@uol.com.br


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