|
Próximo Texto | Índice
PROSTITUIÇÃO
Pelo menos cem brasileiras já foram levadas do Estado de Goiás para atuar em casas noturnas na Espanha
PF identifica rede de tráfico de mulheres
ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA
A Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República em Goiânia identificaram um esquema de
tráfico de mulheres para prostituição que envolve 11 clubes noturnos distribuídos por nove cidades no Estado.
O destino das mulheres é a Espanha --pelo menos cem goianas já foram localizadas em boates espanholas.
O esquema de Goiânia é apenas
a amostra de um problema que
cada vez mais desafia a Interpol
(polícia internacional).
Segundo dados da própria polícia, o esquema de envios de mulheres para a prostituição já é a
terceira maior fonte de renda do
crime organizado, atrás do comércio ilegal de armas e de drogas. Movimenta, a cada ano, o
equivalente a R$ 9 bilhões a R$ 12
bilhões em todo o mundo.
E o Brasil ocupa uma fatia considerável desse mercado. Cerca de
75 mil brasileiras se prostituem
atualmente nos países da União
Européia, segundo estimativas de
organismos que combatem o tráfico, entre os quais a ONU (Organizações das Nações Unidas). O
número representa 15% do volume mundial atribuído ao tráfico
de mulheres.
A investigação sobre casas noturnas possibilitou à polícia desvendar o esquema em Goiânia.
Uma brasileira que age na Espanha e se apresenta com o apelido
de Rebeca é apontada nos depoimentos de sete mulheres como
proprietária das boates onde foram obrigadas a se prostituir.
Segundo a PF, que já obteve o
nome verdadeiro de Rebeca, ela é
goiana, do município de Cristalina, e atualmente mora na Província espanhola de Extremadura.
As garotas que aparecem como
testemunhas escaparam do esquema e são peça-chave no inquérito da Justiça Federal que investiga as acusações de tráfico internacional de mulheres e formação de quadrilha.
A identificação da chefe do esquema é o ponto culminante de
uma longa investigação. "Tínhamos conhecimento de uma rede
que atuava levando moças de
Goiás para a Espanha, mas só
agora conseguimos identificar os
nomes dos envolvidos e a forma
como agiam", disse o procurador
da República Fábio George Cruz
da Nóbrega.
As mulheres relataram que tinham de pagar diárias nas casas
noturnas para onde foram levadas. "Algumas garotas declararam saber que teriam de se prostituir, mas acreditavam que poderiam ganhar mais de R$ 1.000.
Quando chegavam lá, descobriam que tinham de pagar a passagem aérea e uma diária que variava de R$ 60 a R$ 80 nas boates
onde ficavam. Outras disseram
ter viajado pensando em trabalhar como faxineiras ou cozinheiras."
Interpol
Na última semana, o delegado
da PF João Batista Alves dos Santos encaminhou um ofício à Interpol e à Divisão de Assuntos Consulares do Ministério das Relações Exteriores pedindo colaboração para encontrar a suposta
chefe da quadrilha de tráfico internacional de mulheres.
As investigações tiveram início
em janeiro, com a prisão do corretor de imóveis Tadeu Honorato
Silva, 33. Ele foi flagrado tentando
embarcar duas mulheres no aeroporto de Goiânia. Silva denunciou
parte do esquema, mas somente
agora a polícia identificou os nomes dos envolvidos.
O corretor, acusado de aliciar as
mulheres e dar orientações antes
do embarque, está detido no Centro de Prisão Provisória, em Goiânia. No início do mês passado, ele
foi condenado a seis anos e nove
meses de prisão em regime fechado por exploração da prostituição. A pena ainda poderá aumentar, pois ele aguarda julgamento
no processo por formação de
quadrilha.
Procurada pela Folha, a mulher
de Silva, Rosana Silva, não quis
fornecer o nome do advogado
que defende o marido. Ela não comentou o caso.
A polícia investiga ainda a participação de outras pessoas no esquema. "Há indícios de envolvimento da irmã de Rebeca, que
agia com o pseudônimo de Bárbara", disse o delegado.
Rebeca, Bárbara e um espanhol,
conhecido apenas como Miguel,
também foram denunciados no
inquérito. A Procuradoria recebeu a oficialização das identidades e deve protocolar o pedido de
extradição da quadrilha na Embaixada do Brasil na Espanha.
Antecedentes
Segundo a embaixada, Rebeca
já responde a processos na Espanha por tráfico de drogas, exploração da prostituição, apropriação indébita e falsidade documental. Ela chegou a ser presa pela polícia espanhola no final de
2000, mas acabou sendo liberada.
O delegado disse ainda que a rede de prostíbulos apresenta-se
com uma fachada de rede de hotéis. Ainda não há um levantamento da quantidade de mulheres que continuam na Espanha.
Dados levantados pelo governo
federal, em 1998, indicam que a
maioria das mulheres que saem
do país para se prostituir procura
a Espanha.
Só naquele ano foram encontradas 463 garotas fazendo programas, descobertas 41 redes de
prostituição e presas 161 pessoas.
Colaborou Edmilson Zanetti, da Agência Folha
Próximo Texto: OIT vai rastrear rotas na região Norte Índice
|