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PROSTITUIÇÃO
Objetivo é ajudar a polícia a combater o tráfico de mulheres; projeto deve ser ampliado para o resto do país
OIT vai rastrear rotas na região Norte
PAULO ROBERTO LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) vai investir U$
60 mil (cerca de R$ 130 mil) em
um projeto de rastreamento das
rotas domésticas e internacionais
de tráfico de mulheres, adolescentes e crianças no Norte do país.
O objetivo é levantar informações para ajudar as autoridades
policiais a combater esse crime,
que está ligado, na maioria dos casos, à exploração sexual.
De junho a dezembro deste ano,
o Cedeca (Centro de Defesa da
Criança e do Adolescente) Emaús
Txai, organização não-governamental responsável pelo projeto,
vai colher informações sobre como os aliciadores fazem suas
abordagens, principalmente na
fronteira de Roraima com a República do Suriname.
"Para conhecer melhor as rotas,
vamos ter de descobrir casos de
tráfico de mulheres", afirma Marcel Hazeu, coordenador do Cedeca, que tem sede em Belém (PA).
Segundo ele, no Norte existem
poucos registros de tráfico. "Elas
[as mulheres" saem do país por
intermédio da emigração ilegal ou
da adoção." Muitas partem iludidas, com promessa de trabalho,
mas acabam se tornando escravas
sexuais para ganhar quase nada.
Hazeu diz que não vai ser fácil
obter informações das mulheres
que são alvo dos aliciadores. "A
vítima cria uma forte relação de
dependência com o aliciador, que
ela vê como alguém que pode ajudá-la a escapar da pobreza ou a
vencer uma crise emocional."
"É mais fácil caracterizar esse tipo de tráfico no país para onde as
vítimas foram levadas, porque ali,
exploradas e frustradas, elas concordam em falar sobre a sua situação", completa Hazeu.
Rotas nacionais
O estudo das rotas no Norte faz
parte de um projeto maior, que
vai abranger o tráfico em todo o
país e será coordenado pelo Cecria (Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes), ONG de Brasília.
"Ainda estamos levantando recursos. Por isso não foi marcado o
início do rastreamento", diz Maria de Fátima Leal, do Cecria. Ela
calcula que o trabalho deva durar
no mínimo dez meses.
O rastreamento vai partir de informações já coletadas por organizações não-governamentais,
polícia e Ministério Público.
De acordo com essas informações, o que chama mais a atenção
no Sul do país é o tráfico de crianças rumo à Argentina e ao Paraguai. No Sudeste, está o maior
"mercado consumidor", que é
São Paulo, cidade para qual é destinada parte das mulheres que
saem de Goiânia (GO).
No Centro-Oeste, principalmente em Mato Grosso, predomina o turismo sexual que explora
crianças e adolescentes. No Norte,
mais do que em qualquer outra
região, existe uma vinculação do
tráfico de moças com o de drogas.
É do Nordeste que saem a maior
parte das brasileiras para países
como Espanha, Holanda, Alemanha e Itália. Nos últimos meses,
intensificou-se o fluxo de escravas
para cidades espanholas.
Maria de Fátima diz ser possível, com o levantamento, haver a
descoberta de novas rotas ou a decadência de algumas das atuais.
Hazeu, que é holandês, veio para o Brasil há oito anos com o objetivo de estudar a prostituição de
crianças nos garimpos e nos grandes projetos do governo, como o
da exploração de bauxita na região do rio Trombetas, no Pará.
Ele diz que a maioria das empreiteiras contratadas nesses projetos incentiva, ainda que veladamente, o fluxo de mulheres e adolescentes para a região das obras
para entreter os trabalhadores.
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