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SAÚDE
Mortes e dependência por consumo de opióides aumentam preconceito contra tratamentos da dor, dizem médicos
Mau uso da morfina prejudica doentes
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O uso indevido das drogas
opióides ameaça prejudicar quem
mais precisa delas: os pacientes
que sofrem dores intensas ou crônicas. Os opióides, como são chamados os derivados da morfina,
naturais ou sintéticos, são os analgésicos mais potentes e seguros.
São também os mais desviados
para "uso recreativo". A "heroína
em cápsula", como é chamada,
provoca dependência rápida e já
causou dezenas de mortes por
overdose nos EUA.
A cada vez que as notícias destacam o lado danoso dos opióides,
aumentam a rejeição e o preconceito contra esse medicamento,
alertam os especialista. O Brasil,
que já foi denunciado por cuidar
mal de seus pacientes com dor,
consome um décimo da morfina
consumida em países como Suécia e Canadá. A resistência ao uso
se deve à desinformação e ao preconceito do médico e ao comodismo das farmácias.
Entre os opióides usados indevidamente, no momento, estão a
hidrocodona e a oxicodona. A
primeira só vai chegar ao país no
próximo ano. A segunda desembarcou aqui no ano passado como uma nova esperança para os
pacientes. Por ter uma absorção
ao longo de 12 horas, e por não ter
"picos", o Oxycontin -seu nome
comercial- proporcionaria
maior conforto ao paciente e reduziria os riscos de dependência.
Nos EUA, há quem defenda a
redução na produção dos dois
medicamentos. Aqui, os especialistas discordam. "A oxicodona é
uma grande promessa para quem
trabalha no controle da dor, porque é absorvida em platô, não em
picos. O fato de estar sendo usada
indevidamente não justifica que
se faça restrições", diz Gonzalo
Vecina, presidente da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância
Sanitária).
Segundo Vecina, a agência ainda não recebeu nenhum relato de
abuso da oxicodona, mas está informada sobre as ocorrências nos
EUA.
"O país precisa reduzir sua
"opiofobia", não aumentá-la", diz
Elisaldo Carlini, titular de psicofarmacologia da Unifesp, que acaba de ser eleito para um comitê internacional de controle de drogas
(leia texto abaixo). "Se há mau
uso da droga, cabe ao governo
melhorar seu controle. Considero
um genocídio privar de drogas
pacientes que sentem dor."
O professor Manoel Jacobsen
Teixeira, do departamento de
neurologia da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Centro
de Dor do Hospital das Clínicas,
diz que "informações distorcidas
sobre os opióides acabam dificultando o tratamento da dor".
"Nosso povo já é sofrido e mal
medicado. Por falta de conhecimento, aquele médico que já vinha prescrevendo mal vai prescrever pior ainda."
Luciano Braun, presidente da
Sociedade Brasileira para o Estado da Dor, diz que a oxicodona já
tem 70 anos e seu uso já é bastante
conhecido nos últimos cinco
anos. Segundo ele, o risco de dependência dos opióides não justifica restrições a seu uso.
"Quem usa o opióide para dor
raramente fica dependente", afirma. Ele cita um estudo internacional que acompanhou 11 mil pacientes que tinham usado opióides contra dor por um período.
Só quatro ficaram dependentes.
"O que precisamos é de campanhas de educação continuada para ensinar aos médicos como usar
as drogas", diz Braun. Este é um
dos objetivos do Programa Nacional de Educação Continuada
em Dor, coordenado pelo médico
João Augusto Figueiró.
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