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Brasil consome pouco, afirma ex-secretário
DA REPORTAGEM LOCAL
O professor Elisaldo Carlini, titular de psicofarmacologia da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acaba de ser eleito
membro da Junta Internacional
de Fiscalização de Entorpecentes
-órgão que fiscaliza o cumprimento das convenções internacionais sobre a fabricação, comércio e uso de entorpecentes. Também vigia a ação dos governos
quanto às drogas ilícitas.
Dez dos integrantes da junta são
indicados por países, outros três
são indicações da Organização
Mundial da Saúde. Carlini, 70, foi
indicado pela OMS. É o primeiro
brasileiro a ocupar o assento.
Carlini, que foi secretário nacional da Vigilância Sanitária de 1995
a março de 1997, diz que a situação do Brasil está nos dois extremos: um reduzido consumo de
drogas contra a dor e um excessivo consumo de drogas para "o
bem-estar e a estética".
(AB)
Folha - Como está o Brasil na
questão dos entorpecentes?
Elisaldo Carlini - O Brasil peca
em dois sentidos. Primeiro, por
não prover a população de drogas
do tipo opióide para tratamento
da dor. Calcula-se que o consumo
dessas drogas no país seja apenas
um décimo ou um vigésimo do
necessário. O paciente brasileiro é
um dos que mais sentem dor.
Por outro lado, temos um consumo excessivo de benzodiazepínicos em geral, drogas como Valium, Lorax, Lexotan. E temos as
anfetaminas, receitadas para a redução do apetite. Como estas últimas deixam o paciente agitado, os
médicos prescrevem um benzodiazepínico como tranquilizante.
Folha - Como membro de uma
junta internacional, o que será possível fazer?
Carlini - Vamos incentivar o Brasil a estabelecer programas para
que os médicos, os farmacêuticos
e a população em geral não vejam
as drogas contra dor com tanta
resistência. Os médicos têm medo
de receitar os opióides e, quando
receitam, o paciente não consegue encontrar. O governo precisa
agir para facilitar esse uso.
Do outro lado, o governo precisa evitar o consumo excessivo de
benzodiazepínicos e anfetaminas.
Folha - Os países devem prestar
contas à ONU sobre importação, fabricação e consumo de entorpecentes. O Brasil vem fazendo isso?
Carlini - O último relatório da
ONU traz os dados de 1999. Em
quase todos os itens aparecem interrogações quando se trata do
Brasil. Drogas muito consumidas
no país como a anfepramona, fenpraporex e mazintol aparecem
sem informações. O Brasil não está informando nem controlando.
Folha - E quanto às drogas ilícitas, o que a junta pode fazer?
Carlini - Para se extrair a cocaína
da folha da coca, emprega-se os
ácidos clorídrico e sulfúrico. E
solventes como acetona. A produção dessas substâncias deve ser
informada. Quando o país não
presta conta, ou não controla o
comércio dessas substâncias, a
junta enviará uma equipe para
acompanhar e orientar as ações.
Caso nada seja feito, a junta recomendará aos países membros que
não importem nem exportem
drogas para o país em questão.
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