São Paulo, segunda-feira, 07 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil consome pouco, afirma ex-secretário

DA REPORTAGEM LOCAL

O professor Elisaldo Carlini, titular de psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acaba de ser eleito membro da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes -órgão que fiscaliza o cumprimento das convenções internacionais sobre a fabricação, comércio e uso de entorpecentes. Também vigia a ação dos governos quanto às drogas ilícitas.
Dez dos integrantes da junta são indicados por países, outros três são indicações da Organização Mundial da Saúde. Carlini, 70, foi indicado pela OMS. É o primeiro brasileiro a ocupar o assento.
Carlini, que foi secretário nacional da Vigilância Sanitária de 1995 a março de 1997, diz que a situação do Brasil está nos dois extremos: um reduzido consumo de drogas contra a dor e um excessivo consumo de drogas para "o bem-estar e a estética". (AB)

Folha - Como está o Brasil na questão dos entorpecentes?
Elisaldo Carlini -
O Brasil peca em dois sentidos. Primeiro, por não prover a população de drogas do tipo opióide para tratamento da dor. Calcula-se que o consumo dessas drogas no país seja apenas um décimo ou um vigésimo do necessário. O paciente brasileiro é um dos que mais sentem dor.
Por outro lado, temos um consumo excessivo de benzodiazepínicos em geral, drogas como Valium, Lorax, Lexotan. E temos as anfetaminas, receitadas para a redução do apetite. Como estas últimas deixam o paciente agitado, os médicos prescrevem um benzodiazepínico como tranquilizante.

Folha - Como membro de uma junta internacional, o que será possível fazer?
Carlini -
Vamos incentivar o Brasil a estabelecer programas para que os médicos, os farmacêuticos e a população em geral não vejam as drogas contra dor com tanta resistência. Os médicos têm medo de receitar os opióides e, quando receitam, o paciente não consegue encontrar. O governo precisa agir para facilitar esse uso.
Do outro lado, o governo precisa evitar o consumo excessivo de benzodiazepínicos e anfetaminas.

Folha - Os países devem prestar contas à ONU sobre importação, fabricação e consumo de entorpecentes. O Brasil vem fazendo isso?
Carlini -
O último relatório da ONU traz os dados de 1999. Em quase todos os itens aparecem interrogações quando se trata do Brasil. Drogas muito consumidas no país como a anfepramona, fenpraporex e mazintol aparecem sem informações. O Brasil não está informando nem controlando.

Folha - E quanto às drogas ilícitas, o que a junta pode fazer?
Carlini -
Para se extrair a cocaína da folha da coca, emprega-se os ácidos clorídrico e sulfúrico. E solventes como acetona. A produção dessas substâncias deve ser informada. Quando o país não presta conta, ou não controla o comércio dessas substâncias, a junta enviará uma equipe para acompanhar e orientar as ações. Caso nada seja feito, a junta recomendará aos países membros que não importem nem exportem drogas para o país em questão.



Texto Anterior: Saúde: Mau uso da morfina prejudica doentes
Próximo Texto: Trânsito: Túnel Jânio Quadros será fechado para manutenção na madrugada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.