São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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SEQUESTRO

Adolescentes ficaram 53 dias em cativeiro; a mãe, que também havia sido levada, foi solta para facilitar as negociações

Empresário resgata filhos por R$ 420 mil

GILMAR PENTEADO
PALOMA COTES

DA REPORTAGEM LOCAL

Após 53 dias de cativeiro, acabou ontem, em São Paulo, o sequestro dos três filhos da dona-de-casa Cláudia Reali de Oliveira Ribeiro, 40, e do empresário João Geraldo Bordon, 44, diretor-presidente da indústria alimentícia Swift-Armour.
João, 16, Antônio, 14, e Luís Felipe Bordon, 11, foram libertados depois de pagamento de resgate. A Folha apurou que o valor foi de R$ 300 mil mais US$ 50 mil -no total, cerca de R$ 420 mil. No começo das negociações, a quadrilha chegou a pedir US$ 3 milhões.
A libertação dos garotos ocorreu por volta das 6h, no estacionamento de uma lanchonete no km 42 da rodovia dos Imigrantes. Uma Blazer verde, com placa adulterada, usada para transportar os adolescentes, foi abandonada no local pelos sequestradores.
Cláudia e os três filhos foram sequestrados na noite de 14 de março. Pelo menos seis homens com metralhadoras invadiram a casa da família, no Jardim Paulistano (zona oeste de SP). Um vigia da família, que havia sido detido pela quadrilha no mesmo dia, foi forçado a permitir o acesso à casa.
Os quatro permaneceram no mesmo cativeiro até o dia 26 de março, quando Cláudia foi libertada pelos sequestradores para facilitar as negociações do resgate. Segundo familiares, depois disso os garotos foram levados para outro cativeiro, na Baixada Santista.
O fim do sequestro começou a se desenhar na última semana, quando os sequestradores passaram a negociar com Bordon, ex-marido de Cláudia.
Até então, a negociação com o grupo tinha sido comandada pelo empresário Alcides Diniz, namorado de Cláudia há quatro anos. Foi ele quem teve o primeiro contato com os sequestradores.
Alcides ligou para a casa de Cláudia na noite do dia 14 de março. Um dos sequestradores tomou o telefone de uma empregada, anunciou o sequestro e pediu US$ 3 milhões de resgate.
Num dos contatos, o grupo exigiu que Diniz publicasse um anúncio em jornal aceitando o pedido dos sequestradores.
Os momentos de maior preocupação ocorreram depois que os sequestradores diminuíram o valor do resgate para US$ 500 mil. A polícia orientou a família a oferecer R$ 300 mil. Os sequestradores recusaram a contraproposta. Por 20 dias, não houve novo contato, para desespero da família.
O impasse fez Bordon assumir a negociação. No último sábado, houve avanço nas discussões. Foram quatro contatos telefônicos dos sequestradores. Nas conversas, além do acerto para o pagamento, Bordon pediu uma "prova de vida" dos filhos.
A prova veio anteontem, por meio de um bilhete escrito por um dos garotos, preso a um recorte de jornal do dia, e deixado em um orelhão próximo ao Jóquei Clube de São Paulo. Bordon reconheceu a letra de um dos filhos.
Por volta das 22h30 de domingo, a libertação finalmente foi acertada. Uma hora depois, Bordon levou sozinho a quantia combinada até o começo da via Anchieta, em Diadema (Grande SP).
Ele foi guiado ao local, por telefone, pela quadrilha e parou próximo a uma passarela de pedestres. Segundo familiares, Bordon subiu a passarela, onde três pessoas disseram para ele largar a maleta com o dinheiro.
Às 6h de ontem, Bordon recebeu o telefonema dos filhos. O próprio empresário foi buscá-los. Os garotos disseram à família que foram levados ao local abaixados na Blazer e cobertos por uma manta. No estacionamento da lanchonete, os sequestradores informaram que iriam trocar de carro e sumiram.
Depois de 20 minutos, os garotos saíram do carro, entraram na lanchonete e fizeram uma ligação a cobrar para o pai. Os três estavam mais magros e abatidos. Eles disseram a parentes que ficaram em um quarto escuro. Também afirmaram que não viram nenhum rosto, mas que, pelas vozes, puderam distinguir três pessoas guardando o cativeiro.
Os garotos disseram que não foram maltratados pelos sequestradores, que insistiam para que eles fizessem três refeições diárias.



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