São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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Trauma posterior é comum, dizem psiquiatras

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A experiência dramática vivida no sequestro pode levar os adolescentes João, 16, Antônio, 14, e Luís Felipe, 11, a desenvolverem um distúrbio psiquiátrico chamado de transtorno de estresse pós-traumático (PTSD), trazendo consequências como pesadelos constantes com o episódio, ansiedade, alucinações e depressão.
Segundo psiquiatras ouvidos pela Folha, o fato de os garotos terem permanecido no mesmo cativeiro pode, em tese, tornar a experiência menos traumática. Juntos, afirmam os especialistas, eles podem ter estabelecido uma relação de apoio mútuo, de incentivo e terem alternado momentos de desespero e esperança.
No entanto, para o psiquiatra Marco Antonio Spinelli, 38, o fato de verem a família toda sequestrada pode gerar uma sensação maior de risco e insegurança.
Spinelli diz que os três adolescentes devem, em um primeiro momento, desenvolver estresse pós-traumático, mas as consequências do distúrbio são imprevisíveis e se manifestam de acordo com a personalidade de cada um.
Um fator decisivo para a intensidade do trauma será a maneira como eles foram tratados em cativeiro, afirma Spinelli.
Segundo o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, supervisor do serviço de psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo, o trauma da privação da liberdade pode se agravar muito se os garotos sofreram ameaças. Segundo parentes dos três adolescentes, eles não sofreram nenhum tipo de agressão durante o sequestro.
Um tipo de psicoterapia comprovadamente eficaz contra o distúrbio é fazer com que a vítima "reconstrua" o evento, de forma controlada, diz Ferreira-Santos.
A psicoterapia usará psicodrama, em que a vítima dramatiza o incidente para ajudá-la a exteriorizar suas emoções mais profundas. Também pode ser usado outro recurso, chamado imaginação ativa, no qual a pessoa conta o que aconteceu como se estivesse revivendo aquele momento.
Durante a fase aguda do distúrbio de estresse pós-traumático, que dura cerca de três meses, a pessoa revive a experiência traumática repetidamente, seja por meio de lembranças que invadem a consciência (flashbacks) seja durante os sonhos.
Além das lembranças, a vítima também pode sofrer de irritabilidade, insônia, sobressaltos intensos e apresentar certas reações fisiológicas (suores, tremores e taquicardia, por exemplo). Tende ainda a se afastar das pessoas e a perder o interesse em atividades que antes faziam parte da rotina.
O psiquiatra Ferreira-Santos coordena um serviço que oferece tratamento psicológico gratuito às vítimas de sequestro.
Mais de 20 pessoas já foram entrevistadas e vão passar por tratamento de dez semanas.


Informações sobre o serviço gratuito às vítimas de sequestro: tel. 0/ xx/ 11/ 3069-6576.


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