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Trauma posterior é comum, dizem psiquiatras
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A experiência dramática vivida
no sequestro pode levar os adolescentes João, 16, Antônio, 14, e
Luís Felipe, 11, a desenvolverem
um distúrbio psiquiátrico chamado de transtorno de estresse pós-traumático (PTSD), trazendo
consequências como pesadelos
constantes com o episódio, ansiedade, alucinações e depressão.
Segundo psiquiatras ouvidos
pela Folha, o fato de os garotos terem permanecido no mesmo cativeiro pode, em tese, tornar a experiência menos traumática. Juntos,
afirmam os especialistas, eles podem ter estabelecido uma relação
de apoio mútuo, de incentivo e terem alternado momentos de desespero e esperança.
No entanto, para o psiquiatra
Marco Antonio Spinelli, 38, o fato
de verem a família toda sequestrada pode gerar uma sensação
maior de risco e insegurança.
Spinelli diz que os três adolescentes devem, em um primeiro
momento, desenvolver estresse
pós-traumático, mas as consequências do distúrbio são imprevisíveis e se manifestam de acordo
com a personalidade de cada um.
Um fator decisivo para a intensidade do trauma será a maneira
como eles foram tratados em cativeiro, afirma Spinelli.
Segundo o psiquiatra Eduardo
Ferreira-Santos, supervisor do
serviço de psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas (HC), em São Paulo, o
trauma da privação da liberdade
pode se agravar muito se os garotos sofreram ameaças. Segundo
parentes dos três adolescentes,
eles não sofreram nenhum tipo de
agressão durante o sequestro.
Um tipo de psicoterapia comprovadamente eficaz contra o distúrbio é fazer com que a vítima
"reconstrua" o evento, de forma
controlada, diz Ferreira-Santos.
A psicoterapia usará psicodrama, em que a vítima dramatiza o
incidente para ajudá-la a exteriorizar suas emoções mais profundas. Também pode ser usado outro recurso, chamado imaginação
ativa, no qual a pessoa conta o que
aconteceu como se estivesse revivendo aquele momento.
Durante a fase aguda do distúrbio de estresse pós-traumático,
que dura cerca de três meses, a
pessoa revive a experiência traumática repetidamente, seja por
meio de lembranças que invadem
a consciência (flashbacks) seja
durante os sonhos.
Além das lembranças, a vítima
também pode sofrer de irritabilidade, insônia, sobressaltos intensos e apresentar certas reações fisiológicas (suores, tremores e taquicardia, por exemplo). Tende
ainda a se afastar das pessoas e a
perder o interesse em atividades
que antes faziam parte da rotina.
O psiquiatra Ferreira-Santos
coordena um serviço que oferece
tratamento psicológico gratuito
às vítimas de sequestro.
Mais de 20 pessoas já foram entrevistadas e vão passar por tratamento de dez semanas.
Informações sobre o serviço gratuito às
vítimas de sequestro: tel. 0/ xx/ 11/
3069-6576.
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