São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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MARILENE FELINTO

Candidato a capacho de bancos estrangeiros

Escrever aqui umas mal traçadas linhas, que envergonhem quem entende do assunto, que constranja pela falta de conhecimento (o meu mesmo) sobre o tema. E daí? O tema? Economia. Bancos e corretoras de valores, dinheiro, especulação -o Brasil "rebaixado" no "mercado", o "risco-Brasil" que cresceu semana passada. Cresceu porque alguns bancos estrangeiros recomendaram a seus investidores diminuir as apostas em dólares no cassino Brasil (que eles chamam de "papéis" ou "títulos" brasileiros). O "risco-Brasil" (o "rating") ou a "vulnerabilidade do mercado" é a chance de que o país não pague o dinheiro que deve lá fora.
Os bancos estrangeiros acham que o crescimento de Lula (PT) nas pesquisas de intenção de voto é ruim para os dólares deles, os lucros exorbitantes que adquirem aplicando na roleta brasileira. Eles querem mais governo FHC, querem Serra (PSDB) no poder, para seguirem cada vez mais ricos e protegidos nos seus ganhos. Para que a economiazinha do Terceiro Mundo siga cada vez mais dependente do capital externo -tolhida, submissa.
Os três bancos que querem eleger Serra e derrubar Lula são o americano Morgan Stanley, o espanhol Santander e o holandês ABN Amro; além da corretora Merrill Lynch.
O Santander! Parece piada. Foi exatamente esse o banco que, em recente pesquisa do Banco Central sobre o desempenho dos bancos junto aos clientes, estava em primeiro lugar em desrespeito, mau atendimento, filas gigantescas. Quanta ousadia! Que ultraje.
Achei chocante ler num grande jornal de São Paulo, domingo, o seguinte parágrafo: "Esses bancos que rebaixaram o Brasil estavam recomendando uma exposição maior que a do EMBI para os títulos brasileiros, aconselhavam o investidor a ficar overweight -ou acima do peso- nesse investimento. Esse otimismo fez a cotação do título da dívida externa renegociada, o C-Bond, aproximar-se (...) de 83,5% do valor de face." Não entendi uma palavra. Eles devem fazer de propósito, para a pessoa não entender. Mas eles que se danem. A bom entendedor fica claro que o que é bom para banco (quanto mais estrangeiro) não serve para pobre, não serve para mim.
A bom entendedor fica claro que, agora, para ser candidato a presidente do Brasil a pessoa tem que se candidatar primeiro a capacho dos bancos estrangeiros. Isso é coisa resultante da era FHC, a era da covardia, a era da abertura de pernas.
Chocante ouvir ontem de manhã, no rádio do carro, a chuva lá fora, o trânsito parado, a seguinte fala: "o mercado reagiu muito mal ao "rebaixamento'; o mercado vem se recuperando; mas ninguém sabe como o mercado vai se comportar." Era uma mulher falando: uma dessas analistas de economia que são moda de uns tempos para cá, como se soassem menos duros ou frios os números e as contas saindo assim da boca de uma fêmea. Idiotice. A mulher falava como se o "mercado" fosse um deus, uma entidade autônoma a ser temida e venerada.
"Estamos em uma espécie de guerra econômica, de liquidação, de darwinismo social (...) Vivemos em uma sociedade na qual os países ricos são como vampiros, que tiram todo o sangue dos países pobres", disse em excelente entrevista à Folha (6/5) o escritor argentino Juan José Saer, 64. E acrescentou que Brasil e Argentina "estão condenados pela covardia de seus dirigentes".
O governo FHC se gaba de ter "salvado" os bancos injetando dinheiro público neles. Deve se gabar também dos altíssimos índices de violência que gerou não injetando dinheiro contra o flagelo do povo.

E-mail - mfelinto@uol.com.br



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