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MARILENE FELINTO
Candidato a capacho de bancos estrangeiros
Escrever aqui umas mal traçadas linhas, que envergonhem quem entende do assunto, que constranja pela falta
de conhecimento (o meu mesmo)
sobre o tema. E daí? O tema? Economia. Bancos e corretoras de valores, dinheiro, especulação -o
Brasil "rebaixado" no "mercado", o "risco-Brasil" que cresceu
semana passada. Cresceu porque
alguns bancos estrangeiros recomendaram a seus investidores diminuir as apostas em dólares no
cassino Brasil (que eles chamam
de "papéis" ou "títulos" brasileiros). O "risco-Brasil" (o "rating")
ou a "vulnerabilidade do mercado" é a chance de que o país não
pague o dinheiro que deve lá fora.
Os bancos estrangeiros acham
que o crescimento de Lula (PT)
nas pesquisas de intenção de voto
é ruim para os dólares deles, os lucros exorbitantes que adquirem
aplicando na roleta brasileira.
Eles querem mais governo FHC,
querem Serra (PSDB) no poder,
para seguirem cada vez mais ricos e protegidos nos seus ganhos.
Para que a economiazinha do
Terceiro Mundo siga cada vez
mais dependente do capital externo -tolhida, submissa.
Os três bancos que querem eleger Serra e derrubar Lula são o
americano Morgan Stanley, o espanhol Santander e o holandês
ABN Amro; além da corretora
Merrill Lynch.
O Santander! Parece piada. Foi
exatamente esse o banco que, em
recente pesquisa do Banco Central sobre o desempenho dos bancos junto aos clientes, estava em
primeiro lugar em desrespeito,
mau atendimento, filas gigantescas. Quanta ousadia! Que ultraje.
Achei chocante ler num grande
jornal de São Paulo, domingo, o
seguinte parágrafo: "Esses bancos
que rebaixaram o Brasil estavam
recomendando uma exposição
maior que a do EMBI para os títulos brasileiros, aconselhavam o
investidor a ficar overweight
-ou acima do peso- nesse investimento. Esse otimismo fez a
cotação do título da dívida externa renegociada, o C-Bond, aproximar-se (...) de 83,5% do valor de
face." Não entendi uma palavra.
Eles devem fazer de propósito, para a pessoa não entender. Mas
eles que se danem. A bom entendedor fica claro que o que é bom
para banco (quanto mais estrangeiro) não serve para pobre, não
serve para mim.
A bom entendedor fica claro
que, agora, para ser candidato a
presidente do Brasil a pessoa tem
que se candidatar primeiro a capacho dos bancos estrangeiros. Isso é coisa resultante da era FHC,
a era da covardia, a era da abertura de pernas.
Chocante ouvir ontem de manhã, no rádio do carro, a chuva lá
fora, o trânsito parado, a seguinte
fala: "o mercado reagiu muito
mal ao "rebaixamento'; o mercado vem se recuperando; mas ninguém sabe como o mercado vai se
comportar." Era uma mulher falando: uma dessas analistas de
economia que são moda de uns
tempos para cá, como se soassem
menos duros ou frios os números
e as contas saindo assim da boca
de uma fêmea. Idiotice. A mulher
falava como se o "mercado" fosse
um deus, uma entidade autônoma a ser temida e venerada.
"Estamos em uma espécie de
guerra econômica, de liquidação,
de darwinismo social (...) Vivemos em uma sociedade na qual os
países ricos são como vampiros,
que tiram todo o sangue dos países pobres", disse em excelente entrevista à Folha (6/5) o escritor
argentino Juan José Saer, 64. E
acrescentou que Brasil e Argentina "estão condenados pela covardia de seus dirigentes".
O governo FHC se gaba de ter
"salvado" os bancos injetando dinheiro público neles. Deve se gabar também dos altíssimos índices de violência que gerou não injetando dinheiro contra o flagelo do povo.
E-mail - mfelinto@uol.com.br
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