São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

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LINHA CRUZADA

Defeitos de fabricação, componentes piratas e descuido de usuário, principalmente com a bateria, são pontos fracos

Especialistas dizem por que celular explode

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Descuidos por parte dos usuários, defeitos de fabricação ou o uso de baterias e carregadores falsificados são as causas para a explosão de um celular. Ainda não há nenhum laudo pronto dos cinco casos registrados no país neste ano, mas especialistas dizem que, se aparelhos e acessórios são originais, como afirmam seus donos, ou as empresas estão fazendo produtos com algum problema técnico ou os consumidores não estão sabendo utilizá-los corretamente por falta de informação.
"A culpa não é do usuário. São os fabricantes que não divulgam os cuidados. Eles estão no manual, mas quase ninguém o lê", diz Vitor Baranauskas, professor titular de engenharia elétrica da Unicamp. "O que falta é campanha educativa. As empresas gastam muito com propaganda, mas não ensinam a usar o produto. É a comercialização selvagem."
Pequenos cuidados, como não andar com o aparelho no bolso da calça ou não colocá-lo perto do fogão ou do microondas, já são suficientes para evitar danos à bateria. Também não se deve deixá-lo no banheiro no banho. "Quando o aparelho é comprimido no bolso ou cai muito, por exemplo, a bateria pode sofrer alguma avaria que, se for grave, poderá causar a explosão", afirma Maria de Fátima Negreli Campos Rosolem, pesquisadora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). "O calor e a umidade, presentes na cozinha e no banheiro, também estragam o aparelho a longo prazo."
Defeito de fabricação é outra hipótese, mas a maioria dos especialistas não aposta nela porque os casos mostram modelos diferentes de aparelhos. "Se fosse um defeito de fábrica, mais unidades teriam tido problemas", diz Moacyr Duarte, pesquisador da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da UFRJ. "O que não entendo é por que os laudos não ficam prontos logo para atacarmos o problema. Não há provas de que os defeitos foram gerados pelo comportamento do consumidor, mas, se foi isso, é preciso conscientizá-lo."
A Motorola, fabricante dos celulares que podem ter causado cinco acidentes neste ano, colocará no ar uma campanha para orientar os usuários. "Já fazemos propagandas contra a pirataria. Agora vamos mostrar os cuidados que devem ser tomados com o celular", diz o presidente da empresa no Brasil, Enrique Ussher.
Na última explosão, na segunda, em Formosa (GO), a vítima havia colocado o celular entre as pernas ao dirigir. Até anteontem, ela não havia ainda deixado o hospital. Segundo a família, aparelho e bateria eram originais.
Professor da Escola Politécnica da USP, o engenheiro Paul Jean Jeszensky também diz que é preciso esperar os laudos, mas acha que a maioria dos celulares que explodem está com baterias ou acessórios piratas. "Os produtos falsificados não têm os mecanismos de proteção que garantem a segurança dos usuários."
Além de baterias, carregadores e até frentes coloridas encontradas no mercado paralelo oferecem riscos. Carregadores, como os vendidos em semáforos para usar nos carros, "desvirtuam" as baterias porque podem ter tensões diferentes das especificadas pelo fabricante. Já as frentes podem ser muito justas e "apertar" o circuito que protege a bateria. Ambas as situações podem causar explosões. "Até os laudos saírem, é preciso cuidado", diz Jeszensky.
O Instituto de Criminalística de São Paulo, que prepara as perícias dos três casos do Estado neste ano, ainda não tem data para terminar o trabalho. O único laudo pronto, de uma explosão ocorrida em Neves Paulista em 2004, aponta para o uso de bateria pirata.
Essa também é a principal causa das explosões de celulares nos Estados Unidos. Entre 2003 e 2005, 52 aparelhos explodiram, segundo dados da Consumer Product Safety Commission. Algumas empresas, no entanto, detectaram problemas na fabricação de alguns modelos e chamaram os clientes para a troca das peças.
No Brasil, não há estimativas sobre baterias ou acessórios piratas. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) tem o número de pilhas falsificadas (cerca de 30%) e de celulares vendidos no país (89 milhões). A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), responsável pelo setor, também não tem dados sobre pirataria e diz aguardar esclarecimentos dos fabricantes sobre as explosões. A partir do segundo semestre, passará a certificar as baterias que cumprirem todas as especificações de segurança exigidas por sua área técnica.
A modelo Suyane Moreira, 23, por exemplo, já mudou os hábitos por causa das últimas explosões, apesar de depender bastante dos telefonemas em sua profissão. Não o carrega mais no bolso e não o leva para lugares onde bata sol.


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