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LINHA CRUZADA
Defeitos de fabricação, componentes piratas e descuido de usuário, principalmente com a bateria, são pontos fracos
Especialistas dizem por que celular explode
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Descuidos por parte dos usuários, defeitos de fabricação ou o
uso de baterias e carregadores falsificados são as causas para a explosão de um celular. Ainda não
há nenhum laudo pronto dos cinco casos registrados no país neste
ano, mas especialistas dizem que,
se aparelhos e acessórios são originais, como afirmam seus donos,
ou as empresas estão fazendo
produtos com algum problema
técnico ou os consumidores não
estão sabendo utilizá-los corretamente por falta de informação.
"A culpa não é do usuário. São
os fabricantes que não divulgam
os cuidados. Eles estão no manual, mas quase ninguém o lê",
diz Vitor Baranauskas, professor
titular de engenharia elétrica da
Unicamp. "O que falta é campanha educativa. As empresas gastam muito com propaganda, mas
não ensinam a usar o produto. É a
comercialização selvagem."
Pequenos cuidados, como não
andar com o aparelho no bolso da
calça ou não colocá-lo perto do
fogão ou do microondas, já são
suficientes para evitar danos à bateria. Também não se deve deixá-lo no banheiro no banho. "Quando o aparelho é comprimido no
bolso ou cai muito, por exemplo,
a bateria pode sofrer alguma avaria que, se for grave, poderá causar a explosão", afirma Maria de
Fátima Negreli Campos Rosolem,
pesquisadora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). "O calor
e a umidade, presentes na cozinha
e no banheiro, também estragam
o aparelho a longo prazo."
Defeito de fabricação é outra hipótese, mas a maioria dos especialistas não aposta nela porque
os casos mostram modelos diferentes de aparelhos. "Se fosse um
defeito de fábrica, mais unidades
teriam tido problemas", diz
Moacyr Duarte, pesquisador da
Coordenação dos Programas de
Pós-Graduação de Engenharia da
UFRJ. "O que não entendo é por
que os laudos não ficam prontos
logo para atacarmos o problema.
Não há provas de que os defeitos
foram gerados pelo comportamento do consumidor, mas, se foi
isso, é preciso conscientizá-lo."
A Motorola, fabricante dos celulares que podem ter causado cinco acidentes neste ano, colocará
no ar uma campanha para orientar os usuários. "Já fazemos propagandas contra a pirataria. Agora vamos mostrar os cuidados
que devem ser tomados com o celular", diz o presidente da empresa no Brasil, Enrique Ussher.
Na última explosão, na segunda, em Formosa (GO), a vítima
havia colocado o celular entre as
pernas ao dirigir. Até anteontem,
ela não havia ainda deixado o hospital. Segundo a família, aparelho
e bateria eram originais.
Professor da Escola Politécnica
da USP, o engenheiro Paul Jean
Jeszensky também diz que é preciso esperar os laudos, mas acha
que a maioria dos celulares que
explodem está com baterias ou
acessórios piratas. "Os produtos
falsificados não têm os mecanismos de proteção que garantem a
segurança dos usuários."
Além de baterias, carregadores
e até frentes coloridas encontradas no mercado paralelo oferecem riscos. Carregadores, como
os vendidos em semáforos para
usar nos carros, "desvirtuam" as
baterias porque podem ter tensões diferentes das especificadas
pelo fabricante. Já as frentes podem ser muito justas e "apertar" o
circuito que protege a bateria.
Ambas as situações podem causar
explosões. "Até os laudos saírem,
é preciso cuidado", diz Jeszensky.
O Instituto de Criminalística de
São Paulo, que prepara as perícias
dos três casos do Estado neste
ano, ainda não tem data para terminar o trabalho. O único laudo
pronto, de uma explosão ocorrida
em Neves Paulista em 2004, aponta para o uso de bateria pirata.
Essa também é a principal causa
das explosões de celulares nos Estados Unidos. Entre 2003 e 2005,
52 aparelhos explodiram, segundo dados da Consumer Product
Safety Commission. Algumas
empresas, no entanto, detectaram
problemas na fabricação de alguns modelos e chamaram os
clientes para a troca das peças.
No Brasil, não há estimativas
sobre baterias ou acessórios piratas. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) tem o número de pilhas falsificadas (cerca de 30%) e de celulares vendidos no país (89 milhões).
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), responsável
pelo setor, também não tem dados sobre pirataria e diz aguardar
esclarecimentos dos fabricantes
sobre as explosões. A partir do segundo semestre, passará a certificar as baterias que cumprirem todas as especificações de segurança
exigidas por sua área técnica.
A modelo Suyane Moreira, 23,
por exemplo, já mudou os hábitos
por causa das últimas explosões,
apesar de depender bastante dos
telefonemas em sua profissão.
Não o carrega mais no bolso e não
o leva para lugares onde bata sol.
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