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DANUZA LEÃO
A tal da pílula
Li outro dia num jornal que
as ações do laboratório que
fabrica o Viagra estavam caindo
na Bolsa. Foi feita uma pesquisa
para saber o motivo, e o resultado
foi surpreendente. O Viagra continuava funcionando, bem do jeito que eles prometeram, só que
parte dos homens estava preferindo ler um livro, jogar cartas ou ir
a um cinema a transar.
Fiquei muito curiosa: mas todos
os homens do mundo -e as mulheres- não dizem SEMPRE que
a melhor coisa do mundo é transar? Pensei, pensei e pensei.
E pensei que transar pode ser
a melhor coisa do mundo, mas é
preciso que haja desejo, aquele
que não tem nada a ver com uma
pílula que apenas possibilita a
performance sexual. Seria preciso
que o Viagra fizesse mais do que
promete -e, parece, cumpre:
fazer, também, com que o desejo
aconteça.
Não o desejo provocado por elementos químicos, mas aquele que
começa com o olhar, toma conta
dos pensamentos e da vida. Sem
esse tipo de desejo, as pessoas se
tornam todas iguais, e sendo assim, qual a graça?
Coisa misteriosa o desejo; por
que por uma mulher e não por
outra? Quantos homens não querem aquela, só aquela, e mais nenhuma? Que cometeria qualquer
desatino para tê-la, mais do que
as mais lindas artistas ou as mais
perfeitas manequins que estão
nas páginas de todas as revistas?
Aliás, devo dizer que nunca ouvi
um só homem dizer, diante da foto de uma manequim, "essa mulher me deixa louco" (a não ser o
Fenômeno). Eles acham elas lindas, elogiam as pernas de dois
metros de altura, as bocas maravilhosas, os seios -de verdade ou
não-, mas ficam por aí. E quantos homens já ouvi dizendo que
seriam capazes de tudo por uma
que não é nenhuma deusa de beleza, mas que faz com que bata
uma coisa neles que os leva à loucura? Seria um jeito de andar, de
falar, de olhar, eles não sabem explicar, mas quando isso acontece,
não é necessário nenhum Viagra
para ajudar.
Uma vez -antes do aparecimento dessa milagrosa pílula-
um homem já maduro mas profundamente interessado em sexo
perguntou a um garoto por que
ele gostava de um baseado, e ele
respondeu: "porque é afrodisíaco". O homem olhou para ele e
respondeu, do alto de sua experiência: "afrodisíaco, meu filho, é
mulher". Nunca me esqueci disso.
Pensando bem, de que adiantam os efeitos do Viagra se o desejo -aquele- não existe? Imagino que seja importante para um
homem saber que -mesmo
de uma forma artificial- ele está
sempre pronto para o que der e
vier. Mas a tal pesquisa me leva a
pensar que isso não é suficiente. A
natureza é sábia, e quando o
desejo -o de verdade- chega,
ninguém precisa de nenhum
comprimido para que ele se realize. Trata-se apenas de uma ilusão
de juventude que, pelo que ouvi
dizer, não chega a deixar grandes
recordações.
Se homens e mulheres fossem
para a cama apenas quando o desejo chegasse de verdade (e para
os dois), pílulas não seriam necessárias, nem haveria fracassos na
hora da transa.
Porque eles só acontecem quando as pessoas vão transar apenas
por ir.
PS: Não, não dá pra falar de Garotinho.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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