São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

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DANUZA LEÃO

A tal da pílula

Li outro dia num jornal que as ações do laboratório que fabrica o Viagra estavam caindo na Bolsa. Foi feita uma pesquisa para saber o motivo, e o resultado foi surpreendente. O Viagra continuava funcionando, bem do jeito que eles prometeram, só que parte dos homens estava preferindo ler um livro, jogar cartas ou ir a um cinema a transar.
Fiquei muito curiosa: mas todos os homens do mundo -e as mulheres- não dizem SEMPRE que a melhor coisa do mundo é transar? Pensei, pensei e pensei.
E pensei que transar pode ser a melhor coisa do mundo, mas é preciso que haja desejo, aquele que não tem nada a ver com uma pílula que apenas possibilita a performance sexual. Seria preciso que o Viagra fizesse mais do que promete -e, parece, cumpre: fazer, também, com que o desejo aconteça.
Não o desejo provocado por elementos químicos, mas aquele que começa com o olhar, toma conta dos pensamentos e da vida. Sem esse tipo de desejo, as pessoas se tornam todas iguais, e sendo assim, qual a graça?
Coisa misteriosa o desejo; por que por uma mulher e não por outra? Quantos homens não querem aquela, só aquela, e mais nenhuma? Que cometeria qualquer desatino para tê-la, mais do que as mais lindas artistas ou as mais perfeitas manequins que estão nas páginas de todas as revistas? Aliás, devo dizer que nunca ouvi um só homem dizer, diante da foto de uma manequim, "essa mulher me deixa louco" (a não ser o Fenômeno). Eles acham elas lindas, elogiam as pernas de dois metros de altura, as bocas maravilhosas, os seios -de verdade ou não-, mas ficam por aí. E quantos homens já ouvi dizendo que seriam capazes de tudo por uma que não é nenhuma deusa de beleza, mas que faz com que bata uma coisa neles que os leva à loucura? Seria um jeito de andar, de falar, de olhar, eles não sabem explicar, mas quando isso acontece, não é necessário nenhum Viagra para ajudar.
Uma vez -antes do aparecimento dessa milagrosa pílula- um homem já maduro mas profundamente interessado em sexo perguntou a um garoto por que ele gostava de um baseado, e ele respondeu: "porque é afrodisíaco". O homem olhou para ele e respondeu, do alto de sua experiência: "afrodisíaco, meu filho, é mulher". Nunca me esqueci disso.
Pensando bem, de que adiantam os efeitos do Viagra se o desejo -aquele- não existe? Imagino que seja importante para um homem saber que -mesmo de uma forma artificial- ele está sempre pronto para o que der e vier. Mas a tal pesquisa me leva a pensar que isso não é suficiente. A natureza é sábia, e quando o desejo -o de verdade- chega, ninguém precisa de nenhum comprimido para que ele se realize. Trata-se apenas de uma ilusão de juventude que, pelo que ouvi dizer, não chega a deixar grandes recordações.
Se homens e mulheres fossem para a cama apenas quando o desejo chegasse de verdade (e para os dois), pílulas não seriam necessárias, nem haveria fracassos na hora da transa.
Porque eles só acontecem quando as pessoas vão transar apenas por ir.
PS: Não, não dá pra falar de Garotinho.


E-mail - danuza.leao@uol.com.br



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