São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2010

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ANÁLISE

Automedicação não é a maior vilã do sistema de saúde

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É preciso relativizar um pouco a grita contra a automedicação. Em algum grau, esse é um fenômeno desejável. A OMS (Organização Mundial da Saúde), por exemplo, descreve a automedicação como "necessária" e com função complementar a todo sistema de saúde.
De fato, a última coisa que o SUS precisa é agregar às filas dos serviços médicos todos os portadores de quadros virais sem importância e todas as dores de cabeça do país.
O ideal seria que todo mundo passasse por consulta antes de tomar um antibiótico, mas, diante das carências estruturais da rede pública, é provável que os benefícios da venda descontrolada de amoxacilina, por exemplo, superem os prejuízos.
Afinal, o uso desse antibacteriano de amplo espectro salva vidas no caso de infecções de rápida progressão. Já os riscos de tomá-lo sem necessidade raramente são fatais.
Também os números geralmente citados para combater a automedicação necessitam algum reparo. A OMS estima que 10% das internações se devam ao uso incorreto de drogas.
Estatísticas do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) revelaram que remédios respondem por 27% das intoxicações e 18% dos óbitos nessa categoria.
A dificuldade é que esses dados incluem as tentativas de suicídio (que constituem 44% dos casos de intoxicação medicamentosa) e as situações em que as drogas foram devidamente prescritas por médico.
Daí não se segue, é claro, que a automedicação não seja um problema. Ela apenas não é a grande vilã do sistema.


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