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ANÁLISE
Automedicação não é a maior vilã do sistema de saúde
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
É preciso relativizar um pouco a grita contra a automedicação. Em algum grau, esse é um
fenômeno desejável. A OMS
(Organização Mundial da Saúde), por exemplo, descreve a
automedicação como "necessária" e com função complementar a todo sistema de saúde.
De fato, a última coisa que o
SUS precisa é agregar às filas
dos serviços médicos todos os
portadores de quadros virais
sem importância e todas as dores de cabeça do país.
O ideal seria que todo mundo
passasse por consulta antes de
tomar um antibiótico, mas,
diante das carências estruturais da rede pública, é provável
que os benefícios da venda descontrolada de amoxacilina, por
exemplo, superem os prejuízos.
Afinal, o uso desse antibacteriano de amplo espectro salva
vidas no caso de infecções de
rápida progressão. Já os riscos
de tomá-lo sem necessidade raramente são fatais.
Também os números geralmente citados para combater a
automedicação necessitam algum reparo. A OMS estima que
10% das internações se devam
ao uso incorreto de drogas.
Estatísticas do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) revelaram que remédios respondem por 27% das intoxicações e
18% dos óbitos nessa categoria.
A dificuldade é que esses dados incluem as tentativas de
suicídio (que constituem 44%
dos casos de intoxicação medicamentosa) e as situações em
que as drogas foram devidamente prescritas por médico.
Daí não se segue, é claro, que
a automedicação não seja um
problema. Ela apenas não é a
grande vilã do sistema.
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