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Jovem que pegou bebê vai para antiga Febem
Adolescente foi recolhida ontem; ela tentou convencer família de que recém-nascido que levou de maternidade era seu
Para promotor, atos da
menina que tomou a filha
de outra mulher foram
"gravíssimos"; pai diz que
sua filha não é delinquente
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi recolhida ontem à tarde à
Fundação Casa, a antiga Febem, a menina J., de 15 anos,
que entrou em uma maternidade na zona leste da cidade, escolheu uma criança recém-nascida e fugiu, levando o bebê.
A criança, Isadora Fernanda
Pereira Ferri, foi devolvida pelos familiares da jovem à verdadeira mãe, a ajudante de costureira Luana Aparecida Pereira,
26. Estava limpa, de roupinha
trocada e alimentada.
A internação de J. foi pedida
pelo promotor Oswaldo Monteiro da Silva Neto, da Promotoria de Justiça da Infância e da
Juventude, que considerou os
atos de J. "gravíssimos", e decretada pelo juiz Caio Ferraz de
Camargo Lopasso, da 4ª Vara
Especial da Infância e da Juventude de São Paulo.
Por intermédio da assessoria
de imprensa do tribunal, o juiz
recusou-se a explicar os motivos por que julgou que a internação seria a melhor medida.
Alegou "segredo de justiça".
Policiais que atenderam o caso, do 81º DP, no bairro do Belém, zona leste da cidade, descreveram J. como uma menina
atormentada e doente.
Aborto
Durante os últimos quatro
meses, a adolescente sustentava que estava grávida e vestia-se com batas e roupas largas.
Na semana passada, promoveu
um chá de bebê.
Só que J., que mantinha um
relacionamento estável com
Rafael de Andrade da Silva, um
pouco mais velho do que ela,
sofreu um aborto há quatro
meses. Contava, então, cinco
meses de gestação.
Na última terça-feira, completados os supostos nove meses de gravidez, a menina saiu
da casa dos sogros e foi direto
para o Hospital e Maternidade
Leonor Mendes de Barros.
Vestida com um jaleco branco, fingiu ser estagiária de enfermagem. Passou cinco horas
na maternidade, conversando
com pacientes, vendo os bebês.
Às 18h05, saiu, levando a pequena Isadora, apenas um dia
de vida, escondida em uma bolsa grande. Queria convencer a
família de que era o filho que
esperava. Não conseguiu.
Enfermeiras do hospital lembram-se de que a "estagiária"
andava de um jeito esquisito.
Com as pernas fechadas. Que
foi várias vezes ao banheiro.
Que trocou de absorvente higiênico cinco ou seis vezes.
A policial que conversou com
a garota, depois da devolução
do bebê, percebeu: ela tinha febre alta, infecção e hemorragia
uterina, resultados do aborto
sem tratamento.
A decisão do juiz pela internação de J. surpreendeu o pai
da adolescente, o aposentado
Carlos Alberto Marques Monteiro, 57. "Minha filha não é delinquente. É uma criança. Não
pesou em nada ter devolvido a
menina. O juiz nem me ouviu.
Disse que era um sequestro e
levou minha filha", afirmou o
pai, chorando.
Essa situação pode se prolongar por até 45 dias, até que o
juiz julgue o processo em definitivo. Segundo a Promotoria,
se condenada, J. pode sofrer internação de um a três anos, tratamento em regime de liberdade assistida ou apenas prestação de serviços à comunidade.
Colaborou MATEUS PARREIRAS , do "Agora"
FOLHA ONLINE
Veja depoimento do pai da
adolescente
www.folha.com.br/1012614
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