São Paulo, quarta, 7 de maio de 1997.



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Salvador tem escola e bloco só para negros

da Agência Folha, em Salvador

Os negros da Bahia, que reivindicam na Justiça cotas de participação no mercado publicitário, administram em Salvador uma escola e um bloco de Carnaval nos quais a participação dos brancos é proibida.
Fundado há 23 anos, o bloco afro Ilê-Ayiê é um dos mais tradicionais da Bahia.
O presidente do Ilê, Antonio Carlos dos Santos, 44, disse que a decisão do bloco de não aceitar brancos entre seus associados é uma resposta à discriminação sofrida pelos negros.
"Durante o Carnaval nós provamos que os negros não servem apenas para segurar cordas para os blocos de elite", afirmou Santos.
No Carnaval baiano, os foliões que compram abadás (fantasias) brincam isolados por cordas e seguranças.
Cerca de 80% dos seguranças contratados pelos blocos e trios elétricos são negros.
Antonio Carlos dos Santos disse também que somente a pressão por parte dos movimentos negros pode acabar com a discriminação no Brasil.
"É lamentável que, em pleno final do século 20, os negros ainda tenham que lutar e sofrer muito para conquistar direitos elementares", disse.

Escola para negros
Nos Barris (centro da capital) funciona a escola Steve Biko, uma cooperativa educacional que oferece cursinho pré-vestibular apenas para estudantes negros, com renda máxima de três salários mínimos.
"A escola não rejeita os brancos, mas optou preferencialmente em trabalhar com os negros", disse a coordenadora executiva da Steve Biko, Maria Durvalina Cerqueira, 28.
Desde que iniciou suas atividades, há cinco anos, a Steve Biko nunca teve um branco entre seus alunos matriculados.
Para se inscrever na escola, os negros pagam R$ 5. A mensalidade foi fixada em 40% do salário mínimo (atualmente R$ 48).
Nos cursinhos mais tradicionais de Salvador a mensalidade varia de R$ 150 a R$ 250.
Dados da Steve Biko revelam que 70 dos 320 negros que frequentaram o cursinho foram aprovados no vestibular.



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