São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2004

Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA

Nove detentas e uma agente penitenciária ficaram feridas na Casa de Custódia de Magé após invasão da polícia

Presa é morta durante nova rebelião no Rio

TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma presa morreu baleada no peito e dez pessoas ficaram feridas na rebelião iniciada na Casa de Custódia de Magé (a 60 km do Rio) após uma tentativa de fuga, anteontem à noite. Os feridos são uma agente penitenciária e nove presas -uma com risco de morte. A unidade abriga mulheres à espera de julgamento.
A rebelião em Magé foi a terceira em oito dias na região metropolitana do Rio. No fim de semana passado, um motim na Casa de Custódia de Benfica (zona norte) terminou, depois de 61 horas, com pelo menos 31 mortos. Anteontem, no complexo Frei Caneca (região central), dez presos ficaram feridos em uma rebelião.
Segundo a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, o motim em Magé começou por volta das 20h, quando 12 presas tentaram fugir. Com "estoques" (facas artesanais), elas renderam três agentes penitenciários.
A fuga foi impedida por agentes do SOE (Serviço de Operações Externas) da secretaria e por policiais militares que faziam a segurança externa da unidade.
As presas mantiveram os agentes reféns. Houve uma tentativa de negociação malsucedida. A autorização para que PMs do Batalhão de Choque invadissem a casa foi dada pelo secretário Astério Pereira dos Santos, ao ser informado de que as presas tinham envolvido um agente em um colchonete encharcado com acetona, ameaçando incendiá-lo.
Os PMs e os agentes do SOE atiraram contra as presas e retomaram o controle da cadeia por volta das 22h30. O secretário afirmou, por meio de nota, que, "sempre que houver de forma indubitável o risco iminente de morte de reféns", haverá "intervenção imediata". Segundo ele, "a experiência mostra que a rapidez nas ações é o modo mais eficaz de conter tentativas de rebeliões".
Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Gutembergue Lúcio de Oliveira, os policiais usaram munição real, e não balas de borracha, como informou a Secretaria de Administração Penitenciária. Os agentes de Magé não aderiram à greve estabelecida desde sábado.
A presa Aline Maria Cesário morreu baleada no peito. Atingidas por tiros e estilhaços de bombas de gás, nove presas foram levadas para hospitais. Ontem à tarde, quatro estavam internadas.
Segundo o Estado, uma presa, baleada na cabeça, corre risco de morte. Há 412 presas na casa de Magé, que tem 500 vagas. Segundo a secretaria, a rebelião ficou restrita a uma cela, com 50 presas.

Falta de preparo
O presidente da ONG Conselho da Comunidade, Marcelo Freixo, disse que a rebelião em Magé mostra que o Estado não está preparado para agir nesses casos.
"Os policiais que invadiram o local não estavam usando o material adequado para esse tipo de ação. Uma presa foi morta por bala disparada de arma letal, que não deve ser usada nessa situação. O governo mais uma vez agiu de forma desastrosa, sem planejamento e sem respeitar leis."
Para ele, as negociações foram conduzidas de forma inadequada: "O Bope [Batalhão de Operações Especiais da PM] mantém um grupo treinado de negociadores, que não foram chamados".
Freixo criticou ainda intervenções quando houver riscos para reféns. "A secretaria precisa aprender a diferença entre uso da força e abuso da força."


Colaborou Antônio Gois, da Sucursal do Rio


Próximo Texto: Morte de analista de sistemas é investigada
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.