São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2007

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Justiça da Bahia pede internação de menina anoréxica

Garota de 15 anos, 35 kg e 1,57 m, que sonha em ser modelo, foi suspendendo a alimentação aos poucos para emagrecer

Em um mês, a adolescente perdeu 4 kg e se alimentava através de sonda, em casa; laudo médico enviado à Justiça acusa risco de morte

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

A Justiça de Feira de Santana (BA) determinou a internação de uma adolescente de 15 anos vítima de anorexia nervosa. A menina, que sonha em ser modelo, tem 1,57 m e entrou no Hospital e Clínica São Matheus, onde está internada desde segunda-feira, com 35 kg.
Reconhecido como padrão internacional para avaliar o grau de obesidade, o IMC (Índice de Massa Corporal) da jovem é de apenas 14,22, bem abaixo do normal. O ideal é que o IMC -peso dividido pela altura elevada ao quadrado- fique entre 19 e 24.
O juiz Walter Ribeiro Costa Júnior, da Vara da Infância e Juventude de Feira de Santana (108 km de Salvador), disse que recorreu à Constituição e ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) para fundamentar sua decisão.
"A Constituição e o ECA determinam que é dever do Estado e da sociedade garantir, com prioridade absoluta, os direitos da criança e do adolescente à vida, à saúde e à educação. Não posso deixar que uma pessoa morra ou tenha graves problemas de saúde simplesmente porque quer ser modelo e acha que não deve se alimentar."
De acordo com familiares, a menina queria ser modelo desde os 13 anos. "Ela foi suspendendo a alimentação aos poucos para emagrecer, só falava em ser modelo, só procurava sites de agências na internet e ficava horas vendo desfiles. Mas acho que nunca correu risco de morte", disse a mãe, que não quer ser identificada.
Técnica em enfermagem, a mãe disse que ficou revoltada com a decisão judicial. "Tudo poderia ser resolvido com diálogo, mas a Justiça foi autoritária, determinando o imediato internamento de minha filha."
Há três meses, a garota iniciou tratamento no Caps (Centro de Atenção Psicossocial), órgão da Secretaria Municipal da Saúde. No final da semana passada, os médicos do centro informaram à Justiça que a estudante corria risco de morte.
Em um mês, ela havia perdido 4 kg e estava se alimentando por uma sonda, em casa, com acompanhamento médico. A equipe fazia o monitoramento do seu quadro de saúde.
"Tive de tomar uma medida rápida porque os pais não aceitavam a transferência para um hospital público, sob a alegação de que estavam esperando a carteira do plano de saúde chegar", disse o juiz.
Walter Júnior disse que o relatório médico enviado à Justiça destaca quatro pontos sobre ela: vítima de anorexia nervosa, risco de morte, resistência dos pais ao tratamento e pedido urgente de internamento. "Com um laudo assinado por especialistas, não pensei duas vezes."
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, a decisão foi correta. "O que prevalece é o direito à vida, em qualquer caso", diz Rosana Chiavassa, que há 14 anos advoga na área da saúde. "O que não pode é a vida ficar sem tratamento médico."
No final de 2006, três garotas morreram em decorrência de anorexia nervosa. A modelo Ana Carolina Reston Macan, 21, morreu de infecção generalizada, em São Paulo. Ela pesava 40 quilos e tinha 1,72 m.
Dois dias depois, em 16 de novembro, a estudante Carla Sobrado Cassale, 21, morreu de intoxicação, após ingerir remédios para emagrecer, em Araraquara (273 km de SP). Ela tinha 55 kg e 1,74 m. Em 24 de dezembro, a vítima foi Beatriz Cristina Ferraz Lopes Bastos, 23, de 35 Kg e 1,57 m. Ela teve duas paradas cardíacas, em Jaú (296 km de São Paulo).


Colaborou a Reportagem Local


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