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Justiça da Bahia pede internação de menina anoréxica
Garota de 15 anos, 35 kg e 1,57 m, que sonha em ser modelo, foi suspendendo a alimentação aos poucos para emagrecer
Em um mês, a adolescente perdeu 4 kg e se alimentava através de sonda, em casa; laudo médico enviado à Justiça acusa risco de morte
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
A Justiça de Feira de Santana
(BA) determinou a internação
de uma adolescente de 15 anos
vítima de anorexia nervosa. A
menina, que sonha em ser modelo, tem 1,57 m e entrou no
Hospital e Clínica São Matheus, onde está internada desde segunda-feira, com 35 kg.
Reconhecido como padrão
internacional para avaliar o
grau de obesidade, o IMC (Índice de Massa Corporal) da jovem é de apenas 14,22, bem
abaixo do normal. O ideal é que
o IMC -peso dividido pela altura elevada ao quadrado- fique entre 19 e 24.
O juiz Walter Ribeiro Costa
Júnior, da Vara da Infância e
Juventude de Feira de Santana
(108 km de Salvador), disse que
recorreu à Constituição e ao
ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente) para fundamentar sua decisão.
"A Constituição e o ECA determinam que é dever do Estado e da sociedade garantir, com
prioridade absoluta, os direitos
da criança e do adolescente à
vida, à saúde e à educação. Não
posso deixar que uma pessoa
morra ou tenha graves problemas de saúde simplesmente
porque quer ser modelo e acha
que não deve se alimentar."
De acordo com familiares, a
menina queria ser modelo desde os 13 anos. "Ela foi suspendendo a alimentação aos poucos para emagrecer, só falava
em ser modelo, só procurava sites de agências na internet e ficava horas vendo desfiles. Mas
acho que nunca correu risco de
morte", disse a mãe, que não
quer ser identificada.
Técnica em enfermagem, a
mãe disse que ficou revoltada
com a decisão judicial. "Tudo
poderia ser resolvido com diálogo, mas a Justiça foi autoritária, determinando o imediato
internamento de minha filha."
Há três meses, a garota iniciou tratamento no Caps (Centro de Atenção Psicossocial),
órgão da Secretaria Municipal
da Saúde. No final da semana
passada, os médicos do centro
informaram à Justiça que a estudante corria risco de morte.
Em um mês, ela havia perdido 4 kg e estava se alimentando
por uma sonda, em casa, com
acompanhamento médico. A
equipe fazia o monitoramento
do seu quadro de saúde.
"Tive de tomar uma medida
rápida porque os pais não aceitavam a transferência para um
hospital público, sob a alegação
de que estavam esperando a
carteira do plano de saúde chegar", disse o juiz.
Walter Júnior disse que o relatório médico enviado à Justiça destaca quatro pontos sobre
ela: vítima de anorexia nervosa,
risco de morte, resistência dos
pais ao tratamento e pedido urgente de internamento. "Com
um laudo assinado por especialistas, não pensei duas vezes."
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, a decisão foi
correta. "O que prevalece é o
direito à vida, em qualquer caso", diz Rosana Chiavassa, que
há 14 anos advoga na área da
saúde. "O que não pode é a vida
ficar sem tratamento médico."
No final de 2006, três garotas
morreram em decorrência de
anorexia nervosa. A modelo
Ana Carolina Reston Macan,
21, morreu de infecção generalizada, em São Paulo. Ela pesava 40 quilos e tinha 1,72 m.
Dois dias depois, em 16 de
novembro, a estudante Carla
Sobrado Cassale, 21, morreu de
intoxicação, após ingerir remédios para emagrecer, em Araraquara (273 km de SP). Ela tinha
55 kg e 1,74 m. Em 24 de dezembro, a vítima foi Beatriz
Cristina Ferraz Lopes Bastos,
23, de 35 Kg e 1,57 m. Ela teve
duas paradas cardíacas, em Jaú
(296 km de São Paulo).
Colaborou a Reportagem Local
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