São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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AMBIENTE

Segundo sanitaristas, essa é uma das hipóteses para a disseminação de casos de cólera em Paranaguá, em 1999

Água de navio pode ter causado surto no PR

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Autoridades sanitárias do Paraná não descartam que a água de lastro de navios tenha sido a causa do surto de cólera que atingiu a população portuária de Paranaguá, em março de 1999. À época, o cólera matou três pessoas. Outras 463 sobreviveram à doença.
"A água de lastro foi uma das hipóteses para surto, em que pese o vibrião colérico não ter sido isolado em armadilhas espalhadas pela baía", disse o médico veterinário da Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde do Paraná Ronaldo Trevisan, 42. O epidemiologista lembra que o vibrião só foi isolado no pátio de caminhões do porto, onde o trânsito de caminhoneiros vindos de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e do Paraguai era intenso em razão do escoamento da safra de soja.
No pico do surto, as autoridades disseram que o cólera poderia ter sido disseminado por alguém contaminado no Brasil, mas a suspeita nunca foi provada.
Estudos recentes apontam que o vibrião, causador do cólera, pode resistir até 60 dias na água do mar. "Animais queratinizados (animais marinhos que se abrigam em casquinhas) podem albergar o vibrião por mais tempo ainda", afirmou Trevisan.
O causador do cólera não gosta de água suja, morre em poucos dias nesse ambiente. A doença só é transmitida pela ingestão de água e alimentos contaminados.
O biólogo Jackson Bassfeld, do Centro de Pesquisa e Processamento de Alimentos da Universidade Federal do Paraná, também aponta a água de lastro como "uma das possibilidades" para o surto de cólera, "mas não a única". Ele integra uma equipe que estuda a floração de micro-algas na bacia de Paranaguá. A região é considerada um dos maiores berçários de vida marinha da costa brasileira e existe a preocupação com espécies exóticas trazidas por água de lastro de navios.
O biólogo diz que os problemas ambientais gerados pelo vaivém de navios não se restringem ao risco de disseminação de doenças. Os riscos também se traduzem em fatores socioeconômicos. "Em se tratando de floração de micro-algas que levem à letalidade de peixes ou à proibição da pesca, as comunidades que sobrevivem dessa atividade são as primeiras a sofrer diretamente."
Cerca de 1.700 navios atracam por ano em Paranaguá. Numa estimativa grosseira, as embarcações despejam na faixa de cais 20 milhões de m3 de água de lastro. O cálculo é do engenheiro naval Geert Jan Prange, que representa sociedades classificadoras internacionais e é vice-presidente da Sociedade Amigos da Marinha.


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