São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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CRISE NA USP

Alunos da FFLCH, em greve há 67 dias, preparam shows e novos protestos para não enfraquecer movimento

Grevistas buscam manter força nas férias

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Fazer festas com shows de ex-alunos famosos, organizar atos de protesto no Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista) e audiências públicas na Assembléia Legislativa, recorrer novamente aos professores notáveis e também à ajuda financeira das entidades estudantis.
Vale tudo para evitar que a greve dos alunos da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) perca a força durante o período de férias da USP (Universidade de São Paulo).
Depois que decidiram pela continuidade da paralisação, na assembléia de quinta-feira passada, os estudantes avaliam que o maior desafio agora é manter a mobilização até agosto, ou melhor, retomar a mobilização que, para muitos, vem enfraquecendo ao longo dos 67 dias de greve.

Só nas assembléias
Grande parte dos que se manifestaram na quinta-feira reclamaram que os estudantes só participam das assembléias porque é onde há a possibilidade real de decisão sobre os caminhos do movimento, mas "furam" nos atos públicos, como o que tinha sido programado para ocorrer no largo da Batata (em Pinheiros, zona oeste de São Paulo), mas ao qual praticamente ninguém compareceu.
"Eu fui o único", lembrou Matheus Lima, estudante da filosofia. "Nosso retrospecto de mobilização não é bom; os comandos de greve muitas vezes só têm três pessoas, e julho não é fácil porque, além das férias, tem feriado. Vamos precisar organizar o que fazer para chegarmos em agosto", ressalta o estudante.
Lima é um dos representantes dos alunos nas reuniões da congregação da FFLCH.
"Só a intensificação do movimento, por meio de atos públicos, vai conseguir encostar a reitoria na parede. Qualquer um que for lá negociar com eles sem força vai voltar de mãos abanando", disse Renato Soares Bastos, um dos representantes dos alunos na comissão tripartite (reitoria, professores e alunos) que negociou a mais recente -e rejeitada- proposta para o fim da greve.
Na opinião dos grevistas, há força para continuar lutando, mas as estratégias para isso ainda não estão bem definidas. Na assembléia, foram recebidas mais de cem sugestões de atividades a serem desenvolvidas durante as férias, mas elas só serão votadas na próxima quinta-feira, depois de terem sido discutidas em cada curso.
Uma coisa parece certa, porém: o próximo "alvo" é o governador, e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB). Na semana passada, docentes e alunos falaram por diversas vezes em ir "bater na porta de quem tem o dinheiro", já que uma das justificativas da reitoria para não conceder novos professores é o déficit orçamentário, e chamar os candidatos ao governo do Estado para debater a situação da USP e da FFLCH.
Uma panfletagem está prevista para terça-feira pela manhã, em frente à Assembléia Legislativa, onde o governador irá participar de comemoração ao 9 de Julho.
A idéia, de acordo com Lima, é relacionar a Revolução Constitucionalista de 1932 (razão da data comemorativa) com a fundação da faculdade.

Entidades
Alguns estudantes estão cobrando também auxílio financeiro de suas entidades representativas, como a UNE (União Nacional dos Estudantes), a UEE (União Estadual dos Estudantes) e o DCE (Diretório Central dos Estudantes) da USP, para as ações de mobilização.
A UNE ofereceu colocar a banca das entidades no encontro da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que começa hoje, à disposição dos grevistas, para exposição de fotos e relato de experiências da greve. Já o DCE sustentou que não tem recursos financeiros para ajudar, mas apóia o movimento.
A cobrança não é, entretanto, uma unanimidade. "Muitos alunos, acho que nem gostariam que as entidades estivessem presentes nas discussões", afirma Lima.

91 versus 259
Os estudantes da FFLCH, que representam cerca de 20% do total de alunos da USP (ou em torno de 12 mil pessoas), recusaram a proposta de receberem, ao todo, 91 novos professores, sendo 45 neste ano e 46 até 2004.
Os estudantes reivindicam 259 docentes e fazem coro aos professores, que reclamam dos padrões tomados como base pela reitoria na definição do número de vagas que deveriam ser concedidas à unidade. Professores relatam que, em algumas aulas, chegam a dar aulas para mais de 200 estudantes.
Ao rejeitar a proposta, a comunidade da FFLCH criticou o fato de a reitoria ter adotado como critério para o cálculo das vagas a serem oferecidas uma carga horária de oito horas semanais de aula, quando um decreto da USP determina a carga máxima de seis horas/aula e duas horas de atividades didáticas extra-classe.
Seguindo esses parâmetros, afirmam, deveriam ser oferecidos para a FFLCH 185 novos professores. A contraproposta dos grevistas, porém, só será fechada na próxima assembléia (quarta-feira). Enquanto não for comunicada oficialmente da rejeição da oferta, a reitoria informou que não vai se manifestar sobre a decisão dos estudantes de manter a paralisação.


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