São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

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Santana do Livramento perdeu frigorífico e 8% da população

GRACILIANO ROCHA
ENVIADO ESPECIAL A SANTANA DO LIVRAMENTO

Retrato da estagnação econômica de muitas cidades do pampa gaúcho, o bairro operário de Santana do Livramento (RS) -cidade na fronteira com o Uruguai- transformou-se em uma vizinhança de aposentados e de casas vazias.
"O coração da cidade parou. Todo dia alguém vai embora em busca de trabalho ou estudo", diz Luís Fernando Ramos, 64, morador do Armour, bairro cujo nome vem do frigorífico fundado por ingleses em 1902.
Desde que o frigorífico fechou, em 1999, muitos trabalhadores, sobretudo os mais jovens, partiram em busca da sobrevivência em outras cidades. Ramos tem um filho no litoral gaúcho e diz perder a conta dos vizinhos que saíram da cidade.
O colapso da indústria de carnes, que empregava 5.000 pessoas nos anos 90, relaciona-se a um dos maiores problemas de Santana do Livramento hoje: a perda de população.
Segundo o IBGE, a cidade perdeu 8% da população em oito anos. Em 2000, havia 90.849 habitantes; no ano passado, 83.478. O fenômeno se repete em outras cidades da região norte, noroeste e sul do RS.
Outro morador do Armour, o técnico em construção civil Cléber Oliveira, 50, diz que a evasão derrubou o valor dos imóveis. "Antes, uma casa aqui valia R$ 50 mil; hoje, não tem comprador nem pela metade."
Oliveira conta que quatro irmãos foram embora, e suas duas filhas têm planos de buscar melhores empregos em Caxias do Sul (na serra gaúcha) ou na capital Porto Alegre.
"Porto Alegre e Caxias são áreas de intenso magnetismo populacional, porque são mais dinâmicas do que o sul do Estado. O núcleo da economia, que no passado foi agropastoril, agora está em regiões de indústria diversificada", afirma o geógrafo Dakir Larara Machado da Silva, da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil).
Sem a indústria de carnes, o PIB de Santana do Livramento passou a depender do comércio e dos serviços. Hotéis e restaurantes faturam com pessoas atraídas pela ausência de impostos nos free shops de Rivera -cidade uruguaia vizinha.
A mudança do perfil econômico, reconhece o prefeito, Wainer Machado (PSB), 50, ainda não foi capaz de devolver a prosperidade do passado.
Segundo ele, 5.300 famílias estão no Bolsa Família. Machado já espera uma redução no FPM (Fundo de Participação dos Municípios), cujo rateio tem como critério o tamanho da população. "A cidade vai perder R$ 1 milhão por ano. Vou ter que achar outra fonte." O prefeito tem três filhos -dois vivem em Porto Alegre.


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