São Paulo, terça-feira, 07 de julho de 2009

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Conselho da UFRJ apura desvio de verba

Presidente da FUJB e coordenador do Projeto Praça Onze foram convocados para esclarecer sumiço de dinheiro para pesquisa em Aids

Instituto dos EUA, que financia o programa, pode romper convênio caso UFRJ não explique onde foi parar cerca de R$ 1,1 milhão


ANTÔNIO GOIS
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O Conselho de Curadores da UFRJ convocou ontem o presidente da FUJB (Fundação Universitária José Bonifácio), Raymundo de Oliveira, e o coordenador do Projeto Praça Onze, Mauro Schechter, para prestarem hoje esclarecimentos a respeito do sumiço de verbas do programa de pesquisa em Aids realizado pela universidade, com financiamento do governo dos Estados Unidos.
Ontem, a Folha relatou o desvio de ao menos R$ 1,1 milhão, que foram parar na conta bancária de uma secretária, já indiciada pela Polícia Civil sob a acusação de estelionato.
Há também dúvidas quanto ao destino de outros recursos. As suspeitas levaram o NIH (Instituto Nacional de Saúde, dos EUA), principal financiador, a exigir auditoria e ameaçar suspender o repasse.
O conselho é responsável por aprovar a prestação de contas da UFRJ e emitir pareceres sobre temas relativos ao patrimônio e finanças. É composto hoje por quatro integrantes, sendo um deles o reitor Aloisio Teixeira. A iniciativa foi do conselheiro Sebastião Amoedo.
"O estatuto do conselho permite que o órgão faça autoconvocação. Foi o que fiz, depois de ler a reportagem e ligar para dois de meus colegas. Não temos poder de polícia, mas o que está em jogo é o nome da universidade. Não pode haver nenhuma dúvida sobre esse dinheiro", diz Amoedo.

Versões
O coordenador do projeto e o presidente da FUJB atribuem um ao outro a responsabilidade pelo descontrole das contas.
"Oliveira diz que a conta era de minha responsabilidade. Não é verdade. É uma conta da fundação, e estão autorizadas a assinar cheques quatro pessoas, com poderes absolutamente iguais, e com prestações de contas mensais. Nenhuma prestação minha foi recusada", diz Schechter.
A fundação afirma que a conta bancária foi aberta pela entidade, mas que ela era movimentada pelo pesquisador e por outras três pessoas. Para liberar recursos, é preciso a assinatura de ao menos duas dessas quatro pessoas.
"No conjunto dos cheques [que foram parar na conta pessoal da secretária], temos sempre a assinatura do Mauro [Schechter]", diz Oliveira.
Segundo Schechter, houve cheques depositados na conta da secretária que não foram assinados por ele. "É uma acusação grave do presidente da fundação, que dá a entender que eu teria responsabilidade pelo desvio de recursos. Além disso, são várias as contas de repasse, não apenas uma, e quem nomeia é o diretor do Hospital Universitário."
Schechter diz que a secretária Rosenilda Sales não foi recrutada por ele, como afirmou o presidente da FUJB. "Ela foi escolhida pelo RH do hospital e colocada para trabalhar comigo. Não tive nenhuma participação na seleção dela. Só em mandá-la embora."
A fundação move ação contra Schechter. Ele, por sua vez, pediu investigação ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas da União. Ainda não houve divulgação dessas apurações.
A Folha não conseguiu localizar a secretária Rosenilda Sales. Para a polícia, ela alegou que o dinheiro depositado era pagamento "por fora" por outros projetos do pesquisador, e para pagar voluntários, o que Schechter nega.


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