São Paulo, terça-feira, 07 de agosto de 2001

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URBANISMO

Desenvolvido em etapas, projeto prevê integrar o parque ao Masp com uma praça sobre a avenida Paulista

Trianon poderá virar complexo de lazer

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente trabalha no projeto para transformar o parque Tenente Siqueira Campos, o Trianon, na avenida Paulista, em um complexo de lazer com funcionamento 24 horas e atrações como pequenos concertos e uma casa de chá.
Pelo projeto, a área atual (47.132 m2), de dois blocos unidos por uma passarela sobre a alameda Santos, será acrescida de duas ligações, uma com o Masp (Museu de Arte de São Paulo), na entrada (veja quadro), e outra com a praça Alexandre de Gusmão.
A ligação com a praça seria feita por uma passarela semelhante à da alameda. Já a união do Masp ao Trianon guarda a maior obra do projeto -uma laje sobre a qual será construída uma outra praça. Os carros que hoje cortam a avenida usariam um túnel.
O plano da secretaria usa o projeto original do escritório de arquitetura de José Magalhães Júnior e José Francisco Xavier Magalhães, cuja proposta de revitalização de toda a avenida Paulista venceu o concurso "São Paulo Eu Te Amo", em 1996.
No entanto a idéia de unir museu e parque é mais antiga. Segundo o diretor do Masp, arquiteto Júlio Neves, a praça suspensa já havia sido pensada por Lina Bo Bardi (1914-1992) quando começou a desenhar o prédio, no fim da década de 50. "Esse debate se estendeu até a construção da linha do metrô", diz Neves.

Interferências
A prefeitura não tem levantamento total de custos do projeto, somente cotações de algumas interferências, que são muitas. Segundo Caio Boucinhas, diretor do Depave (Departamento de Parques e Áreas Verdes), foi estabelecida uma ordem de prioridades.
Dessa forma, as obras de menor porte podem ser executadas pela própria prefeitura, sem necessitar de ajuda externa ou licitação.
A vegetação, por exemplo, precisará de manejo. Hoje, mistura espécies invasoras, como o ficus, com árvores como o jatobá e o pau-brasil. A união cria espaços fechados e difíceis de serem iluminados e protegidos. A mudança prevê o corte de 28 árvores.
No capítulo da segurança, diz Boucinhas, o projeto inclui a instalação de câmeras em todo o Trianon e de um posto policial para um contingente de 120 homens, entre policiais militares e guardas civis metropolitanos, na praça Alexandre de Gusmão.
O projeto de mudança da iluminação já estava fechado com o Ilume (Departamento de Iluminação Pública de São Paulo), mas teve de ser alterado em função da crise energética. Atualmente, são estudadas alternativas a gás e solar. O poste experimental a gás estava planejado para ser instalado hoje, no Palácio das Indústrias.
O restauro do casarão que fica dentro do parque é outra interferência planejada. Nesse capítulo, entra a saída escolhida pela prefeitura para viabilizar as obras.
Como o Trianon é tombado pelo Condephaat e pelo Conpresp, conselhos que cuidam do patrimônio histórico em âmbitos respectivamente estadual e municipal, é possível usar leis de incentivo à cultura que concedem descontos em impostos às empresas.
De acordo com Boucinhas, participam ativamente do processo representantes da rede hoteleira vizinha ao parque, do Colégio Dante Aligheri, do Masp, do Itaú Cultural e da rede de estacionamentos Estapar.

Diagnóstico e parceria
O projeto nasceu de um diagnóstico feito no local pela equipe da prefeitura. O estudo apontou o abandono do parque pelos moradores e frequentadores da região. Na rede hoteleira, por exemplo, o Trianon é indicado aos turistas como um local a ser evitado.
O diagnóstico serviu ainda para a prefeitura conhecer melhor o trabalho da Comissão Permanente de Revitalização do Trianon, que reúne empresários e entidades em torno da Associação Paulista Viva, que incluía até um projeto paisagístico desenvolvido pela Abap (Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas).
Os hotéis são os que mais prontamente se dispuseram a colaborar. Segundo Nelson Baeta Neves, presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (Abih) e diretor do Crowne Plaza, que fica próximo da região, o apoio foi manifestado em encontro com a prefeita Marta Suplicy.
Baeta Neves não conhece o projeto final da prefeitura, mas diz ter receio de "iniciativas pirotécnicas" como o rebaixamento da avenida. "Há várias pequenas coisas que podem ser feitas antes."
Para ele, a situação do Trianon hoje é muito ruim, não só pelas instalações, mas também por causa da baixa frequência da população. "Atrair empresários será difícil. Quem irá querer assumir os riscos de restaurar um casarão para explorar uma casa de chá para a qual não se sabe que público terá?", questiona Baeta Neves.
"Por enquanto, não há público. Por isso é preciso tomar iniciativas para incrementar o Trianon, para estimular a sua ocupação, seja com aumento da segurança ou com uma agenda de eventos", completa o diretor da Abih.
A opinião é dividida por Júlio Neves. "A ligação seria fantástica para o museu, mas, no momento, o parque precisa mais de água, sabão e policiamento", afirma.



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