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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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BANGU

Abel Silvério de Aguiar, que dirigia a unidade 3 do complexo de presídios do Rio, já tinha recebido ameaças de morte

Traficantes mataram diretor, diz governo

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Adriana Silvério no enterro do seu marido, Abel Silvério, diretor de Bangu 3


FERNANDA DA ESCÓSSIA
FABIANA CIMIERI

DA SUCURSAL DO RIO

As primeiras investigações da polícia do Rio e da Secretaria de Administração Penitenciária indicam que o diretor do presídio de Bangu 3, Abel Silvério de Aguiar, 43, foi morto numa ação de quadrilhas do tráfico de drogas, na noite de anteontem. Não está descartado o envolvimento de agentes penitenciários.
"A linha de investigação principal é a execução por bandidos. Eu não posso nominar alguém que tenha sido responsável, eu quero responsabilizar o crime organizado", afirmou o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos.
É o segundo homem da cúpula do sistema penitenciário morto em 13 dias. No dia 24 de julho, foi assassinado o chefe de segurança do complexo de Bangu, Paulo Roberto Rocha. Entre os dois crimes, houve ainda a morte do traficante Márcio Amaro de Oliveira, o Marcinho VP, asfixiado dentro de Bangu 3 na semana passada.
No início do ano, Aguiar e Rocha integraram uma comissão para apurar a existência de regalias em Bangu 1 e em Bangu 3. Aguiar, considerado um diretor rigoroso, vinha recebendo ameaças de morte desde o mês passado.
A Secretaria de Administração Penitenciária recebeu um informe sobre um plano de sequestro da família do diretor, programado por dois detentos de Bangu 3. O resgate seria a libertação de presos da unidade. Bangu 3 tem cerca de 800 presos, todos da facção Comando Vermelho. Aguiar foi avisado e disse que estava tomando providências. Mesmo assim, dispensou a segurança, segundo Santos. Os dois presos ficaram sob monitoramento, de acordo com a secretaria.
Na noite de anteontem, o carro de Aguiar, um Corsa, foi interceptado a tiros na avenida Brasil, por volta das 20h, e cercado por dois carros, um Tempra e um Vectra. O Corsa bateu em um ônibus parado no ponto. Os passageiros do ônibus viram quando, encapuzados, os homens desceram dos carros e continuaram atirando. Segundo laudo do Instituto Médico Legal, Aguiar levou 17 tiros, todos na cabeça, pescoço, tórax e braços. O calibre das balas aponta para tiros de fuzil ou pistola.
Segundo o relato das testemunhas, os assassinos conferiram se a vítima era mesmo Aguiar e, comemorando, entraram na favela Vila Kennedy (zona oeste).
Antes da fuga dos criminosos, um policial que passava de carro tentou ajudar Aguiar, mas um terceiro carro, uma Blazer, impediu. O delegado Paulo Passos, responsável pelas investigações, disse que o policial foi perseguido, e o carro, alvejado duas vezes.

Ordem do presídio
Uma das hipóteses para o crime é uma reação dos detentos de Bangu 3 ao endurecimento de medidas disciplinares na unidade, como a instalação de um bloqueador de telefones celulares (em fase experimental) e controle maior de visitas. A polícia vai investigar também possíveis conexões entre os três crimes.
"É possível que a ordem [para matar] tenha partido de dentro do presídio", disse Santos. Ele afirmou que não pode descartar a participação de policiais.


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