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Abarrotado, IML-Sul vive seu próprio "apagão"
Desde o acidente com o Airbus da TAM, o Instituto Médico Legal do Brooklin centraliza todas as necropsias da cidade de SP
Corpos ficam empilhados numa mesma maca; média de atendimentos diários no local subiu
de 4 cadáveres para 40
LAURA CAPRIGLIONE
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Franklin Delano Pereira,
marceneiro de 29 anos, foi assassinado no sábado de madrugada. Às 11h, seus irmãos receberam a informação de que o
corpo estava na regional sul do
Instituto Médico Legal de São
Paulo, que fica no Brooklin, ao
lado da avenida Luís Carlos
Berrini. Depois de percorrerem
25 km de viagem desde a zona
leste, onde moram, chegou a
hora de fazer a identificação do
cadáver. Encontraram-no com
o olhar aterrorizado, uma facada no pescoço e outra na virilha. O corpo estava em uma maca por sobre o corpo de outro
morto, ensangüentado.
Segundo o conferente de expedição, Angelo Pereira, 27, irmão de Franklin, o IML-Sul estava superlotado na hora em
que ele e suas irmãs lá chegaram. "Havia uns 50 corpos, uns
sobre os outros, e um cheiro
muito forte." Angelo voltou ontem ao local para retirar o cadáver e levá-lo de volta para a zona leste, mais precisamente para o cemitério da Vila Formosa,
onde deve ser enterrado hoje.
Desde a noite do dia 17 de julho, data do acidente com o Airbus-A320 da TAM, o IML-Sul
está centralizando todas as necropsias da cidade de São Paulo, já que o IML-Centro foi inteiramente dedicado à identificação dos mortos na tragédia
aérea. Começou aí o que uma
mulher que ontem esperava
pela liberação do cadáver do sobrinho chamou de "apagão
mortuário".
Segundo Henrique Hochberg, 58, chefe do IML-Sul, "é
como se uma capela de bairro
tivesse, de repente, de celebrar
missa para todo o público que
se reúne em um culto dominical na catedral da Sé. Congestiona mesmo."
Nos fundos da sede do IML-Sul, estava estacionado até ontem um caminhão frigorífico
de 14 metros de comprimento,
destinado a ampliar a capacidade de armazenamento de corpos no local. A geladeira que
normalmente faz esse serviço
no IML-Sul comporta apenas
16 cadáveres. Ao lado do caminhão, vê-se uma pilha de caixões (vários manchados de sangue), corpos dentro, que aos
poucos vão sendo transferidos
para o frigorífico.
Em dias de semana, antes do
acidente, o IML-Sul atendia
entre quatro e cinco mortos em
circunstâncias violentas. Agora, a média está em 40. No último final de semana, o total de
cadáveres que precisaram de
exame necroscópico atingiu a
marca de 94, segundo Hochberg. Em um fim de semana
normal, o IML-Sul fazia no máximo 15 necropsias.
Sobre o fato de cadáveres ficarem empilhados uns sobre os
outros em uma mesma maca, o
chefe do IML-Sul disse: "Pior
seria se deixássemos alguns jogados no chão".
Uma família de negros que
mora perto de Guarulhos entrava ontem às 19h na sétima
hora de espera pela liberação
do corpo de um parente. Eles
chegaram ao IML às 13h, depois de viajar por quase duas
horas entre a zona leste e a sul.
O chefe do serviço admite
que o tempo de espera cresceu.
"É razoável supor que, se a demanda foi multiplicada por
dez, a demora no atendimento
tenha sido dessa mesma ordem
de grandeza", disse.
Houve um aumento no número de funcionários trabalhando no IML-Sul, mas não
proporcional ao incremento da
demanda. Segundo Hochberg,
antes da crise havia cinco auxiliares de necropsia trabalhando
no local. Agora, esse número
está ampliado para 18 (3,6 vezes mais). Os atendentes, que
eram em número de sete, receberam o reforço de mais quatro
colegas, transferidos de outras
regionais do IML para a Sul.
Agora, são 11 (2,75 vezes mais).
O congestionamento no
IML-Sul poderia ser menor se
estivessem em funcionamento
os serviços de necropsia das regionais oeste e leste, que foram
desativadas provisoriamente
para serem reformadas.
Não há previsão para a regularização do serviço.
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