São Paulo, terça-feira, 07 de agosto de 2007

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Abarrotado, IML-Sul vive seu próprio "apagão"

Desde o acidente com o Airbus da TAM, o Instituto Médico Legal do Brooklin centraliza todas as necropsias da cidade de SP

Corpos ficam empilhados numa mesma maca; média de atendimentos diários no local subiu de 4 cadáveres para 40

LAURA CAPRIGLIONE
ANDRÉ CARAMANTE

DA REPORTAGEM LOCAL

Franklin Delano Pereira, marceneiro de 29 anos, foi assassinado no sábado de madrugada. Às 11h, seus irmãos receberam a informação de que o corpo estava na regional sul do Instituto Médico Legal de São Paulo, que fica no Brooklin, ao lado da avenida Luís Carlos Berrini. Depois de percorrerem 25 km de viagem desde a zona leste, onde moram, chegou a hora de fazer a identificação do cadáver. Encontraram-no com o olhar aterrorizado, uma facada no pescoço e outra na virilha. O corpo estava em uma maca por sobre o corpo de outro morto, ensangüentado.
Segundo o conferente de expedição, Angelo Pereira, 27, irmão de Franklin, o IML-Sul estava superlotado na hora em que ele e suas irmãs lá chegaram. "Havia uns 50 corpos, uns sobre os outros, e um cheiro muito forte." Angelo voltou ontem ao local para retirar o cadáver e levá-lo de volta para a zona leste, mais precisamente para o cemitério da Vila Formosa, onde deve ser enterrado hoje.
Desde a noite do dia 17 de julho, data do acidente com o Airbus-A320 da TAM, o IML-Sul está centralizando todas as necropsias da cidade de São Paulo, já que o IML-Centro foi inteiramente dedicado à identificação dos mortos na tragédia aérea. Começou aí o que uma mulher que ontem esperava pela liberação do cadáver do sobrinho chamou de "apagão mortuário".
Segundo Henrique Hochberg, 58, chefe do IML-Sul, "é como se uma capela de bairro tivesse, de repente, de celebrar missa para todo o público que se reúne em um culto dominical na catedral da Sé. Congestiona mesmo."
Nos fundos da sede do IML-Sul, estava estacionado até ontem um caminhão frigorífico de 14 metros de comprimento, destinado a ampliar a capacidade de armazenamento de corpos no local. A geladeira que normalmente faz esse serviço no IML-Sul comporta apenas 16 cadáveres. Ao lado do caminhão, vê-se uma pilha de caixões (vários manchados de sangue), corpos dentro, que aos poucos vão sendo transferidos para o frigorífico.
Em dias de semana, antes do acidente, o IML-Sul atendia entre quatro e cinco mortos em circunstâncias violentas. Agora, a média está em 40. No último final de semana, o total de cadáveres que precisaram de exame necroscópico atingiu a marca de 94, segundo Hochberg. Em um fim de semana normal, o IML-Sul fazia no máximo 15 necropsias.
Sobre o fato de cadáveres ficarem empilhados uns sobre os outros em uma mesma maca, o chefe do IML-Sul disse: "Pior seria se deixássemos alguns jogados no chão".
Uma família de negros que mora perto de Guarulhos entrava ontem às 19h na sétima hora de espera pela liberação do corpo de um parente. Eles chegaram ao IML às 13h, depois de viajar por quase duas horas entre a zona leste e a sul.
O chefe do serviço admite que o tempo de espera cresceu. "É razoável supor que, se a demanda foi multiplicada por dez, a demora no atendimento tenha sido dessa mesma ordem de grandeza", disse.
Houve um aumento no número de funcionários trabalhando no IML-Sul, mas não proporcional ao incremento da demanda. Segundo Hochberg, antes da crise havia cinco auxiliares de necropsia trabalhando no local. Agora, esse número está ampliado para 18 (3,6 vezes mais). Os atendentes, que eram em número de sete, receberam o reforço de mais quatro colegas, transferidos de outras regionais do IML para a Sul. Agora, são 11 (2,75 vezes mais).
O congestionamento no IML-Sul poderia ser menor se estivessem em funcionamento os serviços de necropsia das regionais oeste e leste, que foram desativadas provisoriamente para serem reformadas.
Não há previsão para a regularização do serviço.


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