São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2008

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EDUCAÇÃO

Aluno não trata nem gripe, diz médico

Antonio Carlos Lopes, diretor da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, afirma que cursos mal avaliados deveriam ser fechados

"Já vi aluno que passou saliva na agulha [para fazer sutura]. Vi aluno fazer exame ginecológico sem pôr luva", conta Lopes

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O médico Antonio Carlos Lopes, que dirige a Sociedade Brasileira de Clínica Médica e até o início deste ano presidia a Comissão Nacional de Residência Médica, do Ministério da Educação, diz que todas as faculdades de medicina mal avaliadas deveriam ser fechadas.

 

FOLHA - O Enade mostra que muitas escolas de medicina não têm qualidade...
ANTONIO CARLOS LOPES
- As escolas que tiraram conceito 1 deveriam ser fechadas.

FOLHA - Que problemas têm?
LOPES
- Não têm hospital próprio, os professores não são titulados e não se dedicam à pesquisa. Os professores deveriam estar aprendendo. Já vi alunos tendo aula de anatomia com slide. Conheço uma escola que, por não ter hospital-escola, divide a turma em três grupos e manda cada um para um hospital diferente. Cada grupo aprende de maneira distinta.

FOLHA - Como são os alunos?
LOPES
- Não sabem nem tratar gripe. Vejo isso nas provas práticas para residência médica. Já vi aluno que, na hora de passar o fio na agulha [para fazer sutura], passou saliva na agulha. Vi aluno fazer exame ginecológico sem pôr luva. Já ouvi estudante dizer que o ducto pancreático sai da vesícula. E o pior é que os alunos depois não vão ter condições de fazer residência num lugar bom. Poderão colocar a vida do paciente em risco.

FOLHA - Por que existem tantas faculdades ruins no país?
LOPES
- Em primeiro lugar, para atender à vaidade dos reitores. Um curso de medicina dá status. Em segundo, por interesse mercadológico. O aluno paga R$ 3.500 por mês. Escola de medicina dá dinheiro.

FOLHA - Qual é a solução?
LOPES
- A situação só vai mudar se elas fecharem. O ministro da Educação é um indivíduo bem intencionado e trabalhador, mas não sei se tem força para fechar as escolas ruins. O governo ainda vê a medicina pela janela do gabinete. O poder [das faculdades] é muito grande. Elas fazem um lobby político, e até partidário, muito forte. É mais fácil o ministro cair do que fechar uma faculdade.


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