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Pesquisa da USP mostra que 9% já pensaram em suicídio
Estudo do núcleo de psiquiatria da universidade ouviu 1.464 moradores de São Paulo; 3% tentaram se matar, segundo o levantamento
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
De uma amostra da população urbana brasileira, 9,5%
já tiveram pensamentos suicidas e 3,1% tentaram tirar a
própria vida. Transtornos depressivos, por vezes associados ao abuso ou à dependência de álcool e outras drogas,
foram identificadas num número significativo dos casos.
Esses dados fazem parte
de um trabalho do núcleo de
epidemiologia psiquiátrica
da USP (Universidade de São
Paulo) que será publicado
em breve na "Revista Brasileira de Psiquiatria".
Para chegar a eles, foram
realizadas 1.464 entrevistas
domiciliares em São Paulo,
nas quais pesquisadores treinados aplicaram questionários padronizados para o
diagnóstico de transtornos
mentais e fizeram perguntas
para avaliar o que os psiquiatras chamam de cognições e
comportamentos relacionados a suicídio (CCS) -veja
quadro nesta página.
Os entrevistados, que vivem em dois bairros próximos ao Hospital das Clínicas,
em Pinheiros (zona oeste de
São Paulo), foram contatados na área de captação do
hospital e representam
amostra de pessoas não internadas para tratamento
psiquiátrico.
FATORES DE RISCO
De acordo com o psiquiatra Bruno Mendonça Coêlho,
um dos autores do trabalho,
os CCS são difíceis de computar, mas possuem grande relevância para a saúde pública, porque são os principais
fatores preditivos de morte
por suicídio.
"O maior fator de risco é
uma tentativa prévia", diz
Coêlho. "Um de cada quatro
tenta de novo no ano seguinte, e um de cada dez acaba
conseguindo", acrescenta o
psiquiatra.
Os resultados estão em linha com o que a literatura registra. Um estudo realizado
em nove países apontou uma
taxa de tentativas de suicídio
entre 3% e 5%.
Entre os brasileiros, a taxa
de suicídios é tradicionalmente reduzida (leia texto
nesta página).
Fatores de risco para o suicídio, além de doenças mentais, são: idade mais elevada,
sexo masculino (embora, em
tentativas, as mulheres liderem), desemprego e perda ou
separação recente.
DEPRESSÃO
O estudo também permitiu
avaliar o efeito de mais de um
transtorno mental nos CCS.
Uma das principais conclusões é que episódios depressivos graves e distimia
(depressão mais leve) se associam a CCS independentemente da presença de álcool
ou drogas. Quando o uso dessas substâncias se soma, porém, sobe o risco de suicídio.
Isso significa que os médicos devem estar alertas para
sinais de abuso de álcool ou
drogas quando avaliam uma
tentativa de suicídio. Muitas
vezes é isso o que distingue o
paciente que fica na tentativa
do que de fato se mata.
Em termos de políticas públicas, o gargalo está na pequena oferta de serviços psicológicos e psiquiátricos no
sistema público de saúde. Às
vezes o paciente de risco é
identificado, mas não há para onde encaminhá-lo.
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