São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pesquisa da USP mostra que 9% já pensaram em suicídio

Estudo do núcleo de psiquiatria da universidade ouviu 1.464 moradores de São Paulo; 3% tentaram se matar, segundo o levantamento

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

De uma amostra da população urbana brasileira, 9,5% já tiveram pensamentos suicidas e 3,1% tentaram tirar a própria vida. Transtornos depressivos, por vezes associados ao abuso ou à dependência de álcool e outras drogas, foram identificadas num número significativo dos casos.
Esses dados fazem parte de um trabalho do núcleo de epidemiologia psiquiátrica da USP (Universidade de São Paulo) que será publicado em breve na "Revista Brasileira de Psiquiatria".
Para chegar a eles, foram realizadas 1.464 entrevistas domiciliares em São Paulo, nas quais pesquisadores treinados aplicaram questionários padronizados para o diagnóstico de transtornos mentais e fizeram perguntas para avaliar o que os psiquiatras chamam de cognições e comportamentos relacionados a suicídio (CCS) -veja quadro nesta página.
Os entrevistados, que vivem em dois bairros próximos ao Hospital das Clínicas, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo), foram contatados na área de captação do hospital e representam amostra de pessoas não internadas para tratamento psiquiátrico.

FATORES DE RISCO
De acordo com o psiquiatra Bruno Mendonça Coêlho, um dos autores do trabalho, os CCS são difíceis de computar, mas possuem grande relevância para a saúde pública, porque são os principais fatores preditivos de morte por suicídio.
"O maior fator de risco é uma tentativa prévia", diz Coêlho. "Um de cada quatro tenta de novo no ano seguinte, e um de cada dez acaba conseguindo", acrescenta o psiquiatra.
Os resultados estão em linha com o que a literatura registra. Um estudo realizado em nove países apontou uma taxa de tentativas de suicídio entre 3% e 5%.
Entre os brasileiros, a taxa de suicídios é tradicionalmente reduzida (leia texto nesta página).
Fatores de risco para o suicídio, além de doenças mentais, são: idade mais elevada, sexo masculino (embora, em tentativas, as mulheres liderem), desemprego e perda ou separação recente.

DEPRESSÃO
O estudo também permitiu avaliar o efeito de mais de um transtorno mental nos CCS.
Uma das principais conclusões é que episódios depressivos graves e distimia (depressão mais leve) se associam a CCS independentemente da presença de álcool ou drogas. Quando o uso dessas substâncias se soma, porém, sobe o risco de suicídio.
Isso significa que os médicos devem estar alertas para sinais de abuso de álcool ou drogas quando avaliam uma tentativa de suicídio. Muitas vezes é isso o que distingue o paciente que fica na tentativa do que de fato se mata.
Em termos de políticas públicas, o gargalo está na pequena oferta de serviços psicológicos e psiquiátricos no sistema público de saúde. Às vezes o paciente de risco é identificado, mas não há para onde encaminhá-lo.


Texto Anterior: Disque-ajuda para mulher fez 1 milhão de atendimentos
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.