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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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SAÚDE

A Sociedade Brasileira de Imunizações desenvolveu um cronograma específico para esse público

Adulto ignora calendário de vacinas

BERTA MARCHIORI
DA REDAÇÃO

Pergunte para uma pessoa com mais de 20 anos se ela se lembra da última vez que tomou uma vacina -sem contar as antigripais, muito propagadas ultimamente. Ela dificilmente saberá responder com precisão. No Brasil, adultos pensam que vacina é coisa de criança ou de idoso e ignoram a própria imunização.
Com o intuito de ampliar a cultura de imunização ativa para adolescentes e adultos, a Sociedade Brasileira de Imunizações, presidida pelo infectologista e professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Vicente Amato Neto, 75, desenvolveu um calendário de vacinação para esse público.
Nenhuma doença é exclusiva de uma faixa etária. Da mesma maneira que se tem o cuidado de imunizar crianças para protegê-las de possíveis enfermidades, os adultos devem manter sua carteira de vacinação atualizada.
A hepatite B, por exemplo, doença que pode ser evitada com a vacinação, teve pelo menos 6.700 novos casos confirmados, em pessoas com idade acima de dez anos, segundo o Anuário Estatístico de Saúde do Brasil 2001, do ministério.
A doença viral, que é transmitida também por via sexual, afeta cerca de 400 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde. O vírus acomete preferencialmente indivíduos na faixa de 20 a 40 anos.
Outra doença à qual se deve prestar atenção é o tétano. Apesar de não ser muito comum, principalmente em áreas mais desenvolvidas, tem alta taxa de letalidade. Helena Keico Sato, 45, pediatra da divisão de imunização do Centro de Vigilância Epidemiológica, ressalta a importância da vacinação antitétano em gestantes, a fim de evitar o tétano neonatal, moléstia ainda preocupante nas regiões Norte e Nordeste.
Para especialistas, as pessoas devem ter em mente que vírus e bactérias, responsáveis na história por epidemias que mataram milhares em todo o mundo, podem ser tão perigosos quanto outros agentes não-biológicos.
Além de colaborar para a possível eliminação da doença, como ocorreu com a varíola, erradicada em 1980, a imunização ativa é certamente a maneira mais eficaz de prevenir doenças infecciosas.
Manter todas as vacinas em dia não é uma tarefa fácil. Na rede pública brasileira, algumas vacinas estão disponíveis, porém apenas para grupos específicos, considerados mais suscetíveis às infecções. Mesmo assim, as vacinas -que podem ser compradas e tomadas em clínicas privadas- são recomendadas a todos.
Além disso, o Programa Nacional de Imunização, que instituiu o calendário infantil, surgiu recentemente, no início da década de 70. Isso significa que quem já passou dos 30 anos pode não ter tomado algumas vacinas dadas atualmente para crianças.
A imunização ativa, que acontece a partir da injeção de partículas do vírus ou da bactéria, cria no organismo uma "memória", temporária ou duradoura, de produção do anticorpo específico para aquele antígeno (resposta imunológica). Essa "memória" será ativada se a pessoa tiver a doença, explica a infectologista Melissa Mascheretti, 28, médica-assistente do Ambulatório dos Viajantes e do Centro de Imunização do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Essas partículas do antígeno podem ser inativadas, atenuadas ou mortas; são capazes de produzir no corpo uma resposta de defesa, mas não de provocar a doença.
Atualmente, já são desenvolvidas vacinas por engenharia genética, que utiliza uma proteína isolada do antígeno. No Brasil, a única fabricada por esse método é a da hepatite B. Antes, afirma Isaias Raw, 77, presidente da Fundação Butantan, essa vacina era feita a partir do sangue de um doente, o que a tornava mais cara, mais difícil e mais perigosa. Hoje, feita por engenharia genética, é produzida por menos de US$ 1 (três doses).
Apesar de o país ter o maior produtor de vacinas da América Latina (o Butantan), a fabricação de algumas delas ainda depende de componentes importados de outros países, o que aumenta o custo. Pelo menos no caso da vacina contra gripe esse quadro deve mudar com a inauguração de uma fábrica no final de 2004.


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