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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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FAMÍLIA

A maioria dos adultos ainda patina diante de perguntas e cenas produzidas pela curiosidade infantil sobre o sexo

Pais aprendem a lidar com sexualidade que engatinha

LULIE MACEDO
DA REVISTA

Sexualidade e infância não se misturam, certo? Errado. Crianças não brincam de médico à toa: a aventura do descobrimento começa nos primeiros meses, quando o bebê experimenta o prazer de explorar o próprio corpo, e se acentua nos anos seguintes, quando sua atenção se volta para o corpo dos pais e de outras crianças.
O comportamento exploratório dos pequenos produz uma legião de pais e mães desnorteados diante de perguntas e cenas inesperadas, e pouco importa que sejam experiências que eles mesmos já tenham tido na infância.
"Sexualidade, para o adulto, tem caráter estritamente erótico e está ligada apenas à realização desses desejos. Essa idéia não é compatível com a imagem que fazemos da inocência infantil. Por isso muitos de nós preferem ignorar", explica Marcos Ribeiro, sexólogo e consultor do Ministério da Saúde e autor de diversos livros sobre o assunto.
Mesmo pais que se definem como modernos e liberais "travam" ao encarar cenas de masturbação e brincadeiras que envolvem os órgãos genitais. "Muitas vezes, eles é que precisam de orientação sexual", afirma o psicólogo Paulo Rennes Marçal Ribeiro, coordenador do Núcleo de Estudos da Sexualidade da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Na maioria das vezes, a distância entre a moral do universo adulto e a ausência de pudor infantil resulta em ensinamentos cheios de "tira a mão daí, aquilo não pode, isso é feio" -o que psicólogos, professores e sexólogos condenam.
Mesmo diante de crianças de três anos nuas brincando com seus órgãos sexuais eles aconselham agir com naturalidade. "Vejo dois caminhos: 1) sair de perto e, se for o caso, comentar o assunto com naturalidade depois, e 2) aproximar-se e interromper educadamente a cena, convidando a criança a fazer alguma outra atividade", sugere Marcos Ribeiro. "Mas sem tom de bronca."
Reações extremadas não resolvem: a criança dificilmente abandonará o que lhe dá prazer, só o fará escondido. Jogos sexuais entre crianças da mesma idade também não costumam oferecer risco à integridade física dos envolvidos, segundo afirmam os especialistas. "A ameaça de ato sexual está apenas na mente adulta, já que para as crianças menores a brincadeira tem a ver com a sensação que o toque proporciona", diz Marcos Ribeiro.
A dificuldade é conciliar a reação ideal com os valores morais de cada família. E esperar que a maior curiosidade passe. Por volta dos sete anos, as crianças entram na etapa chamada latência, quando a sexualidade perde parte da importância. Com a chegada da fase escolar propriamente dita, a criança começa a se interessar por atividades que antes não estava preparada para desempenhar.
A psicóloga Maria Cecília aproveita para lembrar a definição da OMS (Organização Mundial de Saúde): "Sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e a saúde física e mental."


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