São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008 |
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GILBERTO DIMENSTEIN O pré-sal que está em cima do solo
A REDEFINIÇÃO do conceito de velhice é traduzida nos números de trânsito: nos últimos quatros anos, aumentou em quase 70% o número de motoristas com mais de 60 anos no Estado de São Paulo, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). A mudança ainda mais veloz ocorreu na faixa acima de 80 anos, na qual se registrou um crescimento de 200%. Mais uma tradução, dessa vez com indicadores do emprego formal: são os profissionais entre 50 e 64 anos que, proporcionalmente, mais se expandem no mercado de trabalho. A taxa é nada menos que 80% maior do que a média nacional. A média é superada até mesmo por quem tem mais de 65 anos. Em determinados setores, existe uma caça aos aposentados. É um movimento que se nota desde 2004 e não pára de acelerar. A redefinição da velhice condiciona, em parte, o destino das cidades, já que está ocorrendo uma mudança da paisagem urbana -como muitos dos temas que exigem visão de longo prazo, o impacto de alterações demográficas quase não aparece no debate eleitoral. Nessa mudança de paisagem, estamos diante de uma riqueza ainda maior do que o tão badalado petróleo na camada pré-sal. A diferença é que, nesse caso, não precisa perfurar nada. O "petróleo" está no solo. Basta lembrar que crianças não conseguem aprender porque não ouvem nem enxergam direito. São problemas simples e baratos de serem tratados. Uma das questões mais relevantes -e aí nada óbvia- é apontada pelo demógrafo José Marcos Pinto da Cunha, da Unicamp. O país está com uma enorme chance de melhorar seus indicadores sociais e as cidades serão grandes beneficiárias. Haveria, segundo ele, muitíssimo mais benefícios do que prejuízos com o envelhecimento da população. Ainda estamos longe, segundo ele, do perfil europeu, em que cada vez menos trabalhadores devem manter os aposentados. Mas, afirma Marcos, chegaremos lá e aí já não teremos esse benefício. Enquanto vivermos essa transição, teremos a chance de produzir mais riquezas para sustentar velhos e crianças. Se estiverem empregadas, as pessoas terão feito uma poupança para sua aposentadoria, mantendo-se consumidoras e, assim, estimulando empregos. Além disso, as pessoas tendem a se manter no trabalho por mais tempo. Uma reportagem recente da revista "BusinessWeek" mostrou o número crescente de executivos com mais de 80 anos, reflexo da valorização de atributos dos mais velhos -a serenidade, a experiência e o senso de perspectiva, por exemplo. Na disso seria possível sem os avanços da medicina. gdimen@uol.com.br Texto Anterior: Plantão médico: Viagra é testado em doença pulmonar Próximo Texto: "Nada de óculos escuros", alerta o motorista Índice |
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